Há vidas tão fecundas, personalidades tão ricas, figuras tão representativas de seu tempo, mulheres com uma vida tão cheia de glória para o seu nome e trabalho, para sua família, para a comunidade e para a educação, que a descrição de sua passagem entre nós, por maior que seja nosso esforço, é tarefa difícil, porém, muito gratificante.
É o caso de nossa querida e já saudosa D. Cora, cuja saga, por mais que nela se aprofunde, mais cintilante se torna em termos das nuanças de sua personalidade, no brilho do seu espírito, na vocação para o exercício da conciliação, como arte da promoção do bem comum.
Foi precisamente aqui nestas terras de
N. Sra. do Patrocínio do SSmo. Sacramento que D. Cora deixou consubstanciado numa existência, o exemplo para as gerações que virão, porque a saga de uma grande mulher, é a síntese eloquente de todas as aspirações, sonhos e realizações de seu tempo.
Duas características pontilharam a sua vida: a obstinação e a austeridade. Foi com a disposição de sempre, que construiu a sua existência que afiançou o futuro de seus filhos queridos. Provou logo a sua obstinação ao deixar, com a alma contrafeita, a sua pequena Sacramento para, em São Paulo, sem lastro que lhe permitisse uma permanência confortável na cidade grande, persistir na esteira de sua corajosa opção e vencer as dificuldades.
D. Cora conseguiu atingir brilhantemente, seu ideal, através de profícuas realizações, sobrepujando todas as agruras e vicissitudes da vida.
Por tudo isto, é chegada a hora do nosso tributo, D. Cora. Recolhemo-nos ao silêncio do nosso coração para que dele fluam as palavras de reconhecimento e gratidão e a garantia de nosso carinho enquanto vivermos.
Parafraseando, pois, a pequena, porém rica mensagem que lhe dedicamos pela comemoração de seus memoráveis 80 anos, hoje, com muito mais propriedade, a transcrevemos neste momento em que partiu para o cortejo triunfal do Senhor, a eternidade.
Uma notável e bela mensagem que descreve a saga de uma mulher que nasceu para ser estrela, cujo brilho há 85 anos em Sacramento e São Paulo, sempre cintilou. Descreve a saga de uma mulher que nasceu para ser verdadeira mestra, guerreira, corajosa e imbatível, esposa fiel e amorosa de seu querido “Sabonetão”, mãe, amiga e companheira dedicada, que viveu uma linda história de amor, carinho, abnegação e desprendimento.
Uma história construída no dia a dia, que traduziu com maestria nos seus 85 anos de idade, a difícil tarefa e arte de viver e construir em verso, em luz e suor, a alma lírica que o tempo tantas vezes sufocou.
Uma história de enfrentamentos, de desafios, de lutas, alegria, felicidade e realizações, cuja brilhante trajetória em nenhum momento poupou forças para sobrepujar todos os obstáculos e vicissitudes, entregando-se de corpo e alma, dando o melhor de seus anos para deixar-nos seus feitos extraordinários e inesquecíveis.
São estas as razões de emoção e de orgulho, D. Cora, que envolvem nossos corações, pelo grande legado de coragem, competência, probidade que nos deixou, imbuída do mais puro sentimento de religiosidade e generosidade.
Assim, D. Cora enalteceu de forma justa e merecida, pessoas de sua estirpe e gênese, consagrando seus méritos e inserindo seu nome para sempre na galeria daqueles que merecem nosso respeito, gratidão e apreço.
Guardarei de D. Cora, uma imensa saudade, porque foi uma mulher que sempre distinguiu-me. Os meus arroubos de infância e juventude, mereceram de sua parte uma palavra carinhosa e uma observação de sibilina inteligência e profundidade.
Daí, minha manifestação de imenso pesar pelo passamento dessa admirável mulher, esposa, mãe e mestra, que muito engrandeceu nossa terra, deixando aqui um rastro luminoso extraordinário de ser humano e professora emérita.
Rogamos a Deus que lhe dê o merecido e justo lugar ao seu lado, na eternidade. Que faça também descer sobre seus familiares, sobre a querida filha Tata, sua notável companheira de todas as horas e baluarte de seus últimos anos, sobre seus outros filhos não menos queridos, Amancinho, José Américo, Tute, Kiko,Goreti, Dorinha, Beto e Tetê, que também tinham veneração pela mãe que amavam de todo o coração e profundamente, peço a Deus que derrame sobre eles as bênçãos necessárias e a força para que possam suportar tão doloroso transe.
Descanse em paz, D. Cora !
(*) Ivone Regina Silva é advogada e Conselheira Seccional da OAB / MG