Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

O crucifixo

Edição nº 1180 - 20 de Novembro de 2009

A recente polêmica  levantada na Itália sobre a retirada dos crucifixos das salas de aulas não é novidade. Esse debate, vez por outra, volta a ocupar o noticiário nacional e internacional. Agora, por exemplo, a discussão reaparece no cenário da mídia motivada por uma mãe que, recorrendo a alguns tribunais, lutou ferrenhamente pela retirada dos crucifixos das salas de aula alegando que a permanência desse símbolo, em lugares públicos, fere a liberdade religiosa.  Tal senhora conseguiu levar esse seu intento aos sete juízes da corte de Estrasburgo que, apoiados no artigo 9º da Convenção Européia dos Direitos Humanos, entenderam a procedência da reivindicação e, por unanimidade, sentenciaram pela retirada dos crucifixos das escolas públicas italianas.

Paixão à parte, perguntaria: não teria sido mais legítimo e coerente por parte dessa senhora que, ao invés de batalhar pela exclusão dos crucifixos das escolas, lutasse pela igual inclusão dos símbolos referentes à sua crença? Agindo como agiu, não estaria ela afrontando, igualmente, o direito dos que professam a fé em Cristo? Ademais, esse homem que aparece pregado numa cruz e cujo nascimento  dividiu a história da humanidade em antes e depois de Cristo não é um símbolo qualquer. Excluir os crucifixos das paredes das escolas e dos tribunais seria, de uma certa forma, desconstruir um ideário histórico que povoa, há mais de dois mil anos, a memória de uma significativa maioria cristã. Cristã, sim, e não apenas católica como muitos acreditam. Enganam-se, portanto, os que pensam que Cristo seja patrimônio dos católicos.

A verdade é que alguns valores cristãos, a cruz, por exemplo, incomodam e desinstalam os que não conseguem enxergar a linguagem subjetiva que o símbolo encerra. Aceitar a idéia de que alguém possa, em sã consciência, entregar sua vida por amor à humanidade e, mais, a ponto de se submeter ao martírio de uma morte na cruz é, verdadeiramente, uma loucura; ou, melhor dizendo, um superávit de amor dificilmente assimilado pelos que vivem de costas para Deus. 

Referindo-se a esse episódio, o primeiro ministro italiano,Sílvio Berlusconi, interessado talvez em fazer uma média com a opinião dos italianos a respeito de sua escandalosa conduta, comentou que esse veredicto do tribunal” põe em dúvida a sanidade mental da Europa”. Oportuno, também, foi o comentário que Tarcísio Bertone fez sobre o tal fato: “Essa Europa do terceiro milênio nos tira os símbolos mais valiosos e nos deixa as abóboras da festa da de Halloween”. E, na Folha de S. Paulo de 08/11/2009, Ives Gandra Martins, diz: Há uma minoria que busca solapar os valores éticos e culturais do cristianismo a título de impor a ditadura do ateísmo exigindo que todos os que acreditam em Deus se submetam à tirania agnóstica”.

Para mim, bem mais importante do que dependurar ou não o crucifixo nas paredes das casas ou das escolas, ou ostentá-lo no pescoço como jóia, adorno ou devoção, é o conhecimento e o comprometimento com o projeto de vida simbolizado por essa cruz. Sem esse conhecimento, colocá-lo aqui ou ali, não passa de mera abstração.