Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Tempo de recordações

Edição nº 1133 - 21 Dezembro 2008

Nenhum Natal chega impunemente à nossa porta. Não consigo imaginar que  possa existir alguém indiferente às simbologias desse tempo. O mês de dezembro chega e, com ele, a magia das luzes, cânticos, sinos, alegrias, tristezas e lembranças, muitas lembranças que se instalam, sem pedir licença, no coração da gente. Quer estejamos preparados ou não para as festividades próprias desse tempo, os Natais chegam marcando presença obrigatória no calendário. Logo, o fascínio dessa noite, que habita pelos séculos dos séculos o imaginário humano, começa a nos envolver: ruas, praças, igrejas, comércio se revestem de luzes e cores, transformando todos os espaços em solenes liturgias à espera do Senhor, embora, na verdade, sejam poucos os que sabem qual é o Senhor que o universo está a esperar. 

Paradoxalmente, os Natais são alegres e tristes. Tristes, por estarem plenos dos adventos dos que um dia estiveram a celebrar o festival do nascimento do Criador e, agora, habitam espaços desconhecidos. Alegres, pelas crianças que, ao chegarem, obrigam-nos a percorrer, novamente, o mundo encantado das chaminés, do simpático velhinho e dos sapatinhos na beirada da cama!          .....Acredito que alegria e tristeza disputam,  nesta data, em pé de igualdade, sua primazia nos corações humanos. A chuva que cai, ora mansinha, ora forte e violenta, lembra-nos os Natais. O céu, algumas vezes estrelado, outras, cinzento e sombrio, lembra-nos os Natais.  Já não se trata simplesmente das recordações dos núcleos familiares que se formavam ao redor da mesa, mas é o próprio espírito de Natal que, com sua força, insiste em impor a sua presença. 

Quando o Natal se aproxima, as recordações registradas na memória me reportam para uma pequena cidade que abrigou os natais da minha infância e da infância dos meus filhos. Mesmo ausente daquela cidade, ainda é lá, naquelas ruas e naqueles espaços, que  o meu Natal acontece. Li certa vez uma frase que dizia: ”Não se deve voltar aos lugares que a infância mitificou”. Mas a gente volta. Volta porque a esperança existe. Volta em busca do encanto.Volta para reviver o passado. Volta para afugentar a nostalgia.. Volta à procura da estrela guia que, despontando no Oriente, conduziu os Reis Magos ao encontro da verdadeira luz que justifica o caminhar da humanidade.  Volta porque nenhum Natal  chega impunemente à nossa porta. 

(*) Mariú Cerchi Borges é Pedagoga