Te conheci há quanto tempo, no seio de uma família maravilhosa. Primeiro, teu pai, Clemente, velando como médico (naquela época em que a medicina como a educação eram sacerdócios) a asma de meu inesquecível irmão, Tunim. Foi assim, durante toda a sua vida, um médico humanista. Na política revelou-se um homem integralíssimo, singular na cobrança da ética. Me lembro de um delegado atrapalhado que aderiu a uma certa campanha política e foi comemorar a vitória de seu candidato, em carreata, na porta de tua casa. No dia seguinte, o governador Rondom Pacheco transferiu o insólito 'xerife'.
Tua mãe, um doce de ternura, mulher carregada de fé, traz na serenidade e na prática da caridade as suas maiores virtudes. Imagino o quanto está sentindo esses revezes maldosos porque passas, amiga. Cresceste ainda ao lado de teu grande irmão, Astolfo, numa Sacramento impregnada de política. A UDN de teu pai e o PSD do Juca Sacramento degladiavam-se na arena do parlamento, mas com a eloqüência e o respeito que só os grandes Homens sabem cultivar.
Pelas amizades de teu pai, poderias alçar a cargos importantes no Estado, no entanto, preferiste, na tua simplicidade, o trabalho bancário como aprendiz, e dali alçar a outras posições, graças ao teu mérito pessoal. A cidade é testemunha de tua paixão pelo Banco, pelos colegas, sobretudo pelos clientes. Mas foi na Educação que moveste a tua alavanca como mestra e educadora, revelando como educadora o teu profundo conhecimento da pedagogia moderna. Aliada a essa cultura, foste durante todos os anos em que trabalhamos juntos na Escola Coronel uma referência ética, exemplo de honestidade, profissionalismo, companheirismo e bondade demonstrados, não apenas ao colegas servidores, mas principalmente, ao alunos, a quem chamavas de 'filhos'. E hoje, na direção da conceituada Unipac, campus de Sacramento, continuas distribuindo a tua capacidade profissional.
Por que te chateias com essas calúnias? É justa a tua indignação contra esses malfeitores, mas não deves contradizeres a tua coerência ética, a tua conduta ilibada, na desforra do vilipêndio. A tua honra por si justifica a tua idoneidade sem mácula.
Não temas, amiga, por esses boletins apócrifos. Defendeste durante toda a tua vida um profissionalismo invejável, uma responsabilidade e um compromisso fiel com a verdade e com tua vocação de mestra, hoje tão raras. Foste no Banco e na Escola, onde aposentaste, exemplo para as novas gerações.
Não penses que manchaste o teu nome só pelo fato de repassares dinheiro aos teus estudantes, em forma de bolsa de estudo. Não somos obrigados a entender de Contabilidade Pública e seus meandros, para sofismar sobre o que é certo e errado, a respeito de papéis que recebes prontos, de duas das maiores autoridades do município, o presidente da Câmara e o Prefeito Municipal, que deveriam já estar analisados por uma comissão responsável e por uma controladoria. O que fazias era uma rotina sem malícia: Descontavas o cheque assinado pelo prefeito e seu secretário e pagavas a bolsa de estudo aos estudantes.
Toda essa mixórdia de recíprocas delações vieram à tona por conta do pleito eleitoral. Nada há de errado em conceder bolsas a estudantes universitários carentes. Mas a ânsia do poder faz prevalecer a disputa, tornando atual, na boca de seus algozes, o conceito ditado por Thomas Hobbes, no século XV, “O homem é lobo do próprio homem”. No seu despotismo político, o filósofo inglês iguala todos os homens numa disputa violenta, tornando a vida solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta, na qual cada um é lobo para o outro.
Deixa, cara amiga, que se devorem!