Difícil a inspiração ao pensar no novo ano que chega. Difícil porque em geral se terminamos o ano com o cansaço acumulado de tudo o que foi vivido, trabalhado, sofrido e frustrado, defraudado, perdido. E são tantas festas, tanta correria no final, que muita coisa nos passa despercebida. No entanto, é preciso animar-se, reerguer-se, preparar-se, acreditar, pois inevitavelmente ele chega como chegou e haveremos que vivê-lo.
E como vivê-lo sem esperança? Sem a abertura do coração para o novo e sobretudo, sem o amor e a fé, como enfrentar a longa sucessão de mais de 300 dias que se desdobram à nossa frente?
O fato é que, como dizia o poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, “Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”
Pois então vamos lá. Sigamos o poeta e pensemos: em lugar de esperar que aconteça, o que devemos fazer para que o ano seja novo? O que em nós tem que nascer, renascer, ser recriado para que o Ano tenha cheiro e gosto de manhã e não sabor murcho e dormido de anteontem?
Quem sabe a primeira coisa a sacudir, seja a poeira dos hábitos e acomodações instalados no nosso interior. Com a idade e a correria da vida cotidiana vamos ficando ranzinzas, acostumados a certas coisas, horários, atitudes, seqüências... Que tal inventarmos e reinventarmos horários, prioridades, posição de móveis, ordem de alimentos, programas. E a nossa renovação particular? Renovar-se fisicamente, com atenção, carinho e cuidado ao irmão corpo para que o mesmo não pife. Alimentá-lo saudavelmente, movimentá-lo para que não chie com artrites e males afins. Ou chie menos. Cuidar-se, respeitar os ritmos do corpo, ouvir suas queixas e clamores. Para oferecer aos outros uma presença nossa mais tranqüila e saudável.
Ah, ainda tem a nossa renovação interior. Será que não anda muito descuidada e negligenciada. O acúmulo de trabalho acaba sempre obstruindo veias e artérias da integridade intelectual e sobretudo espiritual. Os nossos olhos podem estar saudosos de um bom livro. Nossos ouvidos, de uma boa música. Ou será que não deixamos de lado a leitura, a oração, o lazer, os amigos e às vezes, até família? Que tal então renovar o cuidado com as relações. Refazer laços antigos que por alguma razão afrouxaram. Cuidar com especial atenção dos novos amigos que ainda são plantas frágeis no jardim da vida e merecem olhar mais profundo e comunicação mais intensa. Incluir os distantes e os tristes, os sozinhos e os abandonados, aqueles que não percebemos que foram se afastando porque não podem mais participar do nosso convívio por algum motivo...
E finalmente, ter Deus no coração. Deus que é sempre novo e que a cada manhã nos desperta. Ele é o Pai, o Amigo maior, dizendo-nos que um novo ano nos espera e que somos sempre convidados a vivê-lo intensa e plenamente. Por isso a cada Natal comemoramos o nascimento do Menino e no dia 1º, a Fraternidade Universal, e só com isso temos tudo para termos um feliz 2014, cujo tema anunciado pelo Papa Francisco é “Fraternidade, fundamento e caminho para a Paz”.
(Texto disponível na internet/Redação ET)