Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

O que esperar do Ano Novo?

Edição nº 1395 - 03 Janeiro 2014

Difícil a inspiração ao pensar no novo ano que chega.  Difícil porque em geral se terminamos o ano com o cansaço acumulado de tudo o que foi vivido, trabalhado, sofrido e frustrado, defraudado, perdido.  E são tantas festas, tanta correria no final, que muita coisa nos passa despercebida. No entanto, é preciso  animar-se, reerguer-se, preparar-se, acreditar, pois inevitavelmente ele chega como chegou e haveremos que vivê-lo.

E como vivê-lo sem esperança?  Sem a abertura do coração para o novo e sobretudo,  sem o  amor e a fé,   como enfrentar a longa sucessão de mais de 300 dias que se desdobram à nossa frente? 

 O fato é que, como dizia o poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, “Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”

Pois então vamos lá.  Sigamos o poeta e pensemos: em lugar de esperar que aconteça, o que devemos fazer para que o ano seja novo?  O que em nós tem que nascer, renascer, ser recriado para que o Ano tenha cheiro e gosto de manhã e não sabor murcho e dormido de anteontem?

Quem sabe a  primeira coisa a sacudir, seja a  poeira dos hábitos e acomodações instalados no nosso interior.  Com a idade e a correria da vida cotidiana vamos ficando ranzinzas, acostumados a certas coisas, horários, atitudes, seqüências...  Que tal inventarmos e reinventarmos horários, prioridades, posição de móveis, ordem de alimentos, programas.  E a  nossa renovação particular?  Renovar-se fisicamente, com atenção, carinho e cuidado ao irmão corpo para que o mesmo não pife.  Alimentá-lo saudavelmente, movimentá-lo para que não chie com artrites e males afins.  Ou chie menos. Cuidar-se, respeitar os ritmos do corpo, ouvir suas queixas e clamores.  Para oferecer aos outros uma presença nossa mais tranqüila e saudável. 

Ah, ainda tem a nossa renovação interior. Será que não anda  muito descuidada e negligenciada.  O acúmulo de trabalho acaba sempre obstruindo veias e artérias da integridade intelectual e sobretudo espiritual.  Os nossos  olhos podem estar saudosos de um bom livro. Nossos ouvidos, de uma boa música. Ou será que não deixamos de lado a leitura, a oração, o lazer, os amigos e às vezes, até família?  Que tal então renovar o cuidado com as relações.  Refazer laços antigos que por alguma razão afrouxaram.  Cuidar com especial atenção dos novos amigos que ainda são plantas frágeis no jardim da vida e merecem olhar mais profundo e comunicação mais intensa.  Incluir os distantes e os tristes, os sozinhos e os abandonados, aqueles que não percebemos que foram se afastando porque não podem mais participar do nosso convívio por algum motivo... 

E finalmente, ter Deus no coração. Deus que é sempre novo e que a cada manhã nos desperta. Ele é o Pai, o  Amigo maior,  dizendo-nos que um novo ano nos  espera e que somos sempre convidados a vivê-lo intensa e plenamente. Por isso a cada Natal comemoramos o nascimento do Menino e no dia 1º, a Fraternidade Universal, e só com isso temos tudo para termos um feliz 2014, cujo tema anunciado pelo  Papa Francisco é “Fraternidade, fundamento e caminho para a Paz”.  

 

(Texto disponível na internet/Redação ET)