Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Corpos são encontrados depois de 3 dias


Os corpos de Geovane Aparecido Bento de Oliveira e João Paulo Martins Borges, desaparecidos no rio das Velhas desde o domingo, 13, foram encontrados, depois de três e quatro dias, respectivamente. O sargento PM, Laerte Rodrigues Nogueira Júnior (foto), 40, que comandou a operação de busca, chegou à cidade por volta das 19 h00. Reconheceu o local e iniciou o trabalho às 7h00 da manhã seguinte, com os bombeiros soldados, Valle, Anderson e Thiago.

"Iniciamos realizando o trabalho de nado e mergulho. Na terça-feira, fizemos a descida de rio, por mais ou menos cinco quilômetros e, na quarta-feira, obtivemos o primeiro sucesso das buscas, o corpo do menino boiou a 200 m do local e, na quinta-feira, por volta das 9h00 da manhã, boiou o corpo de João Paulo, a cinco metros de onde se afogaram, localizado a 500 m abaixo da ponte. Ambos foram levados para o IML de Araxá, por volta das 15h00", explicou o sgto. Júnior.

A demora em encontrar os corpos, segundo o policial, se deve à temperatura da água. "Quanto mais fria a água mais possibilidade tem de conservar o corpo submerso. O normal, com águas mais quentes, no máximo dentro de 48 horas um corpo bóia", justifica, informando que os corpos apresentavam aparência praticamente normal.

Para as buscas são adotados os seguintes procedimentos: no primeiro dia são utilizados equipamentos de mergulho completos, cada dupla mergulhando 45 minutos. Após 48 horas, o trabalho é de busca visual, através de barcos”, explicou mais Júnior, afirmando que o equipamento utilizado permite um mergulho de até 30 m de profundidade.
O rio é limpo, tem uma visibilidade de 100% a partir de um metro abaixo. Há uma areia, que eles chamam de prainha, Perto dela é bastante raso. Da prainha, onde eles se afogaram há uma distância de 200 metros. Na verdade existe um redemoinho até um metro e meio de profundidade, mais ou menos, mas à medida que vai afundando as águas acalmam", explicou, informando que ninguém paga nada. “Somos empregados do Estado, a família não tem nenhum despesa", concluiu.

O local é perigoso

Segundo Sargento Júnior o local é perigoso, mas de acordo com familiares, eles não foram nadar. "Um dos irmãos, que estava junto, disse que eles estavam na prainha jogando uma bola, que caiu dentro d´água. Geovane foi pegá-la e começou afogar. Outro tio, apelidado de Gaúcho, pulou na água para tirá-lo, mas não conseguiu. João Paulo pulou na água também e foi tragado pela corredeira", conta, acrescentando as condições em que se encontrava o tio. "Se João Paulo estivesse de short, teria sobrevivido, mas ele estava de calça jeans e bota, o que dificulta pra nadar", analisou.

E faz um último alerta: "O lugar é perigoso para banhistas, tem redemoinhos que dificultam a prática de natação no local. Até pra nós pararmos o barco. O redemoinho puxou forte. Aconselhamos que as pessoas que forem ali, levarem bóias, demarcar os pontos mais perigosos, os mais rasos onde podem se divertir sem problemas, evitar bebidas alcoólicas". Acha ainda viável indicar a profundidade do local: 7,5m pelo fluxo de pessoas no local.

A família e o envolvimento emocional

Não houve maiores dificuldades para as buscas. O comandante responsável, sargento Laerte Júnior elogiou o apoio da família das vítimas. "Normalmente, as dificuldades que encontramos é com a família. Falamos das possibilidades de não encontrar os corpos no primeiro dia. E todos entenderam, ficandotranqüilos, mas os familiares permaneceram no local acompanhando as buscas. Na verdade, acaba criando um vínculo, havendo um envolvimento emocional da gente com a família. Aquela expectativa... A cada mergulho é uma esperança nova... Quando é uma pessoa mais velha existe mais conformidade..., mas quando é jovem ou criança o envolvimento emocional é mais triste...".

Júnior faz parte do corpo de bombeiros há 19 anos e confessa: "É um trabalho triste numa situação dessas. Expliquei à família que o nosso trabalho é esse, ajudar os outros. A gente é pai de família, tem filhos e quando se depara com uma criança nessas condições é difícil a gente ver o desespero de um pai, de mães, irmãos", diz, acrescenta: "Na nossa profissão a gente trabalha, geralmente, em tragédias já ocorridas, é fato consumado, não há como fazermos a prevenção, já aconteceu. Naturalmente, há muitos casos também em que salvamos as vítimas".
Sargento Junior agradece ao comandante da PM em Sacramento, capitão Ryan, à Polícia Florestal, à Prefeitura Municipal, que deram apoio completo."E aos familiares que entenderam o nosso trabalho e aguardaram com tranqüilidade".