Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Para prefeito, carta anônima é um acinte ao poder público

Edição nº 1769 - 12 de Março de 2021

Circula pelas redes sociais, uma certa 'Carta aberta dos empresários de Sacramento', desafiando as autoridades públicas ao afirmar que “a partir do dia 24 de março, a categoria não acatará mais nenhum decreto do município ou do Estado”, e finaliza conclamando a todos para divulgar a carta. “Vamos fazer rodar o país, pode ser o começo de um grande levante”.

 

No teor da carta, os subscritores fazem um apelo ao “prefeito, vereadores e comitê de contingência para que esqueçam a política e adotem o tratamento precoce, transparência na vacinação e verbas, investimentos na área de Saúde, aumento de leitos, insumos, estoque de equipamentos, EPIs, entre outros”. 

O tratamento precoce sugerido pelos autores da carta é o mesmo sugerido pelo presidente Bolsonaro, o chamado Kit Covid (Invermectina, cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, além dos suplementos de zinco e das vitaminas C e D), sem comprovação científica. 

Como o título supõe que a carta tivesse sido escrita pelos empresários da cidade, embora não esteja assinada, o ET entrou em contado com a ACE (Associação Comercial e Empresarial de Sacramento) a fim de confirmar se a mensagem tinha o apoio daquela instituição, uma vez que a entidade não havia se manifestado nas redes sociais sobre o assunto.

De acordo com a funcionária Carolina Cristina Araújo, a ACE tinha conhecimento da carta, mas não tinha nenhuma responsabilidade sobre seu conteúdo. “Trata-se de uma carta falsa, que vem circulando em várias cidades da região. É fake”, afirmou Cristina, categórica. Pelo facebook, o ET apurou que, realmente, a carta, mudando apenas o nome da cidade, está circulando em Araxá, Uberaba, Ribeirão Preto, Iturama, entre outras. 

A carta termina pedindo divulgação e o chamado para um levante. “Divulgue nos seus contatos, vamos fazer rodar o Brasil, pode ser o começo de um grande levante, temos que ter a dignidade de levar nosso sustento para nossa família e isso só se faz com trabalho!”.

“Enquanto tiver que escolher entre o dinheiro e a vida, vamos defender a vida”

Ouvido também pelo ET, o prefeito Wesley De Santi de Melo afirmou: “Em momento algum  pensei nessa carta como de autoria da ACE, mesmo porque, na terça-feira 9, tivemos uma reunião virtual com membros da associação, que apoiaram as medidas adotadas. 

O prefeito entendeu a carta como uma ameaça ao poder público. “Quando dizem que, 'a partir de tal data, não acatarão nenhum decreto'... e quando afirmam também que 'o seu compartilhamento pode ser o início de um grande levante', fazem uma ameaça muito perigosa. Eu respeito toda manifestação, mas me desculpem, dizer que não vão cumprir decreto? Isto é uma aberração, é um acinte contra tudo, contra a pandemia, o governo, contra a vida”. 

 

Para Wesley, “quem estiver fazendo isso vai ser responsabilizado pelas vidas, pelas mortes, pelos doentes? Mais de 2 mil mortos por dia. Isso é crime! Ninguém faz decreto porque quer. Não, fazemos por conta de uma necessidade. Eu não acredito, de forma alguma, que essa carta tenha a participação de entidades de classe. Pode, sim, ser de algum grupo de empresários que entende dessa maneira. E, se isso foi uma forma de nos amedrontar, estão enganados. Muito pelo contrário, enquanto tiver que escolher entre o dinheiro e a vida, vamos defender a vida, vamos defender vidas. E mais, nós somos cobrados, o Ministério Público nos cobra ações”, finaliza.