O ET esteve esta semana na Estação de Tratamento de Efluentes conversando com o coordenador do meio ambiente da empresa, Cleidomar dos Reis Oliveira, tecnólogo em Alimentos pela Unifran, com especialização em Gestão Ambiental, que está na empresa há 21 anos e, em 2015, assumiu a coordenação da Estação. Em entrevista ao jornal, Cleidomar falou sobre as medidas adotadas pela empresa para minimizar possíveis impactos que o processo de tratamento de efluentes pode causar, como o mau cheiro exalado nas imediações do Parque do Ipê, objeto de reclamação daqueles que praticam caminhadas diárias no local. Veja a entrevista.
Cleidomar inicia informando que a empresa não está medindo esforços para diminuir impactos que sua operação possa causar em áreas vizinhas, o que inclui o investimento na construção de uma nova estação. “A ETE 1 foi construída com o objetivo de tratar todo efluente gerado nas duas unidades fabris da empresa, a da rua Virgílio de Melo Franco, conhecida como unidade 1 e a unidade 2, localizada no bairro Santo Antônio. O processo produtivo gera uma água com resíduos de leite, que precisa ser tratada adequadamente, antes do retorno à natureza, no nosso caso específico, no ribeirão Borá, que passa nos fundos da estação, sendo assim, o tratamento adequado do efluente é uma premissa que o Scala leva a sério há bastante tempo, assim como o cuidado com o meio ambiente de maneira geral”.
Eficiência do tratamento é de 95%
Os resíduos são tratados antes de serem despejados no ribeirão. O tratamento apresenta uma eficiência de 95% de redução da carga orgânica, ou seja, uma alta taxa de remoção DBO (demanda bioquímica de oxigênio). Dessa forma, devolvemos para o Borá, uma água de boa qualidade, dentro dos parâmetros exigidos pela legislação”, garante Cleidomar, frisando que a água descartada apresenta uma qualidade muito acima dos padrões exigidos pela legislação.
“O leite é um produto orgânico que se degrada com facilidade, então, o próprio processo do armazenamento deste efluente no processo de tratamento acaba gerando um odor que é inerente ao próprio leite, principalmente pela questão da gordura. Mas nem sempre tem odor, ele se torna mais expressivo nos períodos mais quentes, sob incidência do sol, e nos processos de secagem de lodo extraído do sistema. Como medida de contenção, o galpão de secagem, antes aberto, agora foi todo fechado para conter a exalação. Aliás, está bem controlada a questão do odor.”
Tratamento biológico por bactérias do lodo
“A ETE promove a depuração do efluente através de um processo biológico denominado 'tratamento biológico por lodos ativados'. No nosso caso, o sistema é por bateladas, isso quer dizer que o efluente chega das fábricas 24 horas por dia, porém, alimentamos os reatores em ciclos de tempo determinados e cada ciclo de tratamento tem duração de 16 horas, aproximadamente. Após cumprido esse ciclo, paramos o sistema de aeração para decantação do lodo e descartamos o efluente tratado com uma eficiência de 95% de redução da carga orgânica, índice esse, considerado de alto padrão.”
Lodo vira adubo
No passo-a-passo do tratamento, Cleidomar explica que os efluentes chegam das duas fábricas e passam, inicialmente, por uma peneira rotativa que retira os resíduos sólidos. “A seguir, passam pelo tanque de equalização onde é homogeneizado e, logo após, passa por um sistema físico-químico onde removemos em torno de 40 a 50% de sua carga orgânica. Daí, é bombeado para o sistema biológico, formado por quatro tanques, onde funcionam os reatores aeróbios de lodos ativados. Nessa fase, as bactérias removem o restante do resíduo que existe no efluente para que seja devolvida ao rio uma água na qualidade desejada”, explica, ressalvando que o material orgânico que é retirando é armazenado e enviado para uma empresa de Uberlândia especializada no tratamento desse resíduo. Esse material passa por um processo de compostagem tornando-se adubo”, esclarece, destacando que o material não é vendido. “Pelo contrário, o Scala paga para que o material tenha a destinação correta”, observa.
Análises periódicas
Para constatar a eficiência da qualidade da água que é lançada no Borá, cumprindo o que determina a legislação, salienta que são feitas análises periódicas da água descartada antes e depois do tratamento. “Fazemos análises diárias internamente, e periodicamente enviamos amostras para laboratório externo, incluindo a água do ribeirão Borá tanto acima, quanto abaixo do ponto de lançamento do efluente tratado, os resultados são encaminhados para o órgão ambiental responsável, a Supram (Superintendência Regional de Meio Ambiente), na fiscalização aqui representado pela Polícia Ambiental, além dos próprios fiscais do órgão que também vistoriam a empresa na concessão da licença ambiental”.
Impacto ambiental na fauna aquática
Em relação ao nível de pureza da água descartada no córrego, de 95%, o ET questionou se os outros 5% causariam algum tipo de impacto ambiental na fauna aquática do ribeirão. “Com esse nível de qualidade da água que retornamos ao Borá, temos certeza que não, pois o mínimo exigido pela legislação é 75% de remoção de DBO e, nossa eficiência está bem acima disso, por essa razão, entendemos não ser necessário acompanhar o comportamento da fauna aquática, até porque, a água devolvida ao córrego, não tem nenhum contaminante que poderia causar algum impacto nesse sentido.
Scala projeta modernização da operação atual e construção de nova ETE para final de 2021
“Atualmente, a ETE trata cerca de 1.200 metros cúbicos (m³) de efluentes por dia, ou seja, 1,2 milhão de litros, esse volume veio aumentando ao longo dos anos e com isso, estamos chegando na capacidade máxima de tratamento. A capacidade total da ETE é de tratar até 1.400 m³ de efluentes por dia, os quatro tanques/reatores estão trabalhando quase na sua capacidade máxima, diante disso, além da construção de uma nova ETE, faremos também, ainda este ano uma ampliação e modernização da ETE atual, como medida adicional para conter alguma eventual geração de odor”.
Segundo Cleidomar, a nova estação ganhará as inovações tecnológicas ocorridas nesses 18 anos desde a inauguração da ETE 1. “O objetivo é trabalharmos com a geração de biogás para produção de energia. Isto é, usar o resíduo gerado nas unidades para agregar valor, economizando energia elétrica, enfim, trabalhar estes resíduos de maneira sustentável e menos poluente”, adianta.
Objetivo é o melhor para Sacramento
Para Cleidomar, com a construção da ETE 2, o volume de efluentes que vai chegar à ETE 1, gerado apenas pelo processo produtivo da unidade 1 pode cair para menos da metade. “Teremos um volume bem menor de efluentes para ser tratado, pois a nova ETE vai absorver o efluente da unidade do bairro Santo Antônio. A estação atual vai funcionar com tranquilidade e muito abaixo da sua capacidade. Com isso, eliminamos eventuais incidências de reclamações no entorno da estação”, entende, frisando mais uma vez a preocupação da empresa.
“A proposta da nova ETE já vinha sendo discutida, isso já era um fato que vinha nos planejamentos da empresa e o que foi feito foi priorizar isso. Vamos acelerar o processo, eliminando assim qualquer possibilidade de reclamação ou de transtorno para a comunidade. Nesse sentido, o Scala tem a preocupação de estar sempre buscando formas de melhorar seus processos e reduzir os impactos inerentes. Queremos ter a comunidade como uma parceira, realmente, porque o objetivo do Laticínio Scala é proporcionar o melhor para Sacramento, é gerar riquezas e melhorar a condição de todo mundo que mora aqui”, finalizou.
Empresa vai desenvolver um projeto na bacia do ribeirão Borá
Aproveitando a reportagem, o coordenador Cleidomar dos Reis Oliveira informou que o Laticínio Scala está iniciando um processo para recuperação da bacia do ribeirão Borá desde a sua nascente no local, denominado Água Emendada até a entrada da cidade.
“Contratamos uma empresa especializada, para fazer uma avaliação, porque vamos desenvolver um projeto de recuperação da bacia acima da cidade. Através de um estudo, queremos entender os impactos causados pelo assoreamento, entender a condição das nascentes que desapareceram ao longo dos anos devido ao desmatamento, levantar as necessidades de recomposição da mata ciliar, entre outras ações que devem ser apontadas e sugeridas pela empresa responsável. O entendimento do Laticínio Scala é que o ribeirão Borá é um manancial importante para a cidade, sendo, portanto, nossa responsabilidade contribuir para a sua preservação”, reconhece