O prefeito Wesley De Santi de Melo faz uma avaliação positiva das ações implementadas pelo município para conter a pandemia mundial do novo coronavírus. “Faço uma avaliação positiva das medidas que tomamos. Ouvindo a Secretaria de Saúde e médicos que compõem o comitê de combate que formamos, ouvindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde baixamos cinco decretos que receberam, por parte da população, uma adesão em torno de 80% ou até mais”, disse o prefeito, falando ainda sobre o impacto na economia e as obras que estão em andamento
na cidade. Veja a entrevista.
Jornal ET - Até o momento, para conter a disseminação do coronavírus, o sr publicou cinco decretos (092, 16/3; 096, 18/3; 100, 19/3; 103 e 104, 23/3). Completando hoje duas semanas, que avaliação o sr faz sobre os seus efeitos?
Prefeito Wesley - Na minha avaliação, 80% das pessoas ou até mais, acataram, sim, os decretos. E a maior prova disso é andar pelas ruas e ver que elas estão vazias. Quem está nas ruas sãos os trabalhadores que prestam serviços essenciais, estabelecimentos estritamente necessários à população, até porque o decreto surpreendeu muita gente desprevenida, mas ainda assim, podemos afirmar que o foi decretado foi acatado. Foram realizadas pouquíssimas intervenções e tudo foi resolvido. Quanto a problemas, houve, sim, e é normal, mas com muito respeito, as pessoas estão sendo orientadas sobre o que devem e não devem fazer.
ET - Nos contatos online que os prefeitos estão tendo sobre a situação, incluindo seus secretários das pastas econômico-financeiras, o grupo chegou a uma conclusão das consequências dessa pandemia para as prefeituras?
Wesley - Chegamos, sim, e já sabemos que será desastroso, porque a nossa maior arrecadação é com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias). Não circulando mercadorias, com certeza, a nossa arrecadação vai cair e muito. Posso dar como exemplo, lembrando a Greve dos Caminhoneiros, quando a Prefeitura perdeu R$ 1 milhão, porque não circulavam mercadorias, em consequência não circulava dinheiro nem o ICMS. Nossa previsão agora é de uma perda muito maior, infelizmente. É problema, mas não podemos fazer nada para impedir que isso ocorra. Hoje, nossa prioridade é salvar vidas, seguir determinações para impedir que o vírus chegue a Sacramento.
Jornal ET - Reportando às obras que estão sendo construídas na cidade, inclusive com agendamentos programados para suas inaugurações, como Praça de Esportes, Estação do Cipó, Ponte da Carmelita, Delegacia de Polícia..., perguntamos: as obras foram paralisadas, as inaugurações adiadas?
Wesley - Reunimo-nos com os secretários de Gestão e Obras para essa decisão e, após análise feita, a decisão foi de dar continuidade a essas obras, porém num ritmo bem mais lento, como está ocorrendo nas obras da Praça de Esportes. A preocupação tomada é com relação a evitar a aglomeração de trabalhadores. A obra do Cipó está praticamente pronta, faltam alguns detalhes, que estão em andamento, porém com poucos trabalhadores. A Ponte da Carmelita continua no mesmo ritmo, até porque são apenas quatro trabalhadores no canteiro de obras em locais distintos, não estão próximos um do outro. A quadra do Alto da Santa Cruz está na etapa final, para ser entregue àquela população, logicamente quando passar esta pandemia. O Centro da Terceira Idade, no Jardim Alvorada continua, também em ritmo lento, assim como a obra do Corpo de Bombeiro, a Gruta dos Palhares, a Delegacia da Polícia Civil, o Museu e a Casa da Cultura. Enfim, praticamente todas as obras estão em andamento, observando essas recomendações do ritmo e da proximidade dos trabalhadores. Só paramos mesmo, a pista de caminhada no início da Rodovia da Gruta dos Palhares e a iluminação de Led. Esta vai gerar uma economia de R$ 1,5 milhão, que foram contingenciados para atender a finalidade de ações relacionadas à pandemia.
ET - O Sr adotou um regime especial para o funcionamento da máquina administrativa da cidade (nas diversas secretarias) durante essa quarentena que recomenda 'todo mundo em casa'?
Wesley - Todos os servidores com idades acima de 64 anos foram liberados de suas atividades dos seus respectivos lugares de trabalho, assim como aqueles que estão com férias vencidas, vão ficar de férias 15 dias. Também aqueles servidores que não se enquadram nos dois casos citados, tiveram a jornada de 8h reduzida para 4 horas e alguns poucos servidores estão nos trabalhos internos. Ou seja, a Prefeitura não parou totalmente, estamos trabalhando, mas de maneira respeitosa e com responsabilidade em relação a essa pandemia, especialmente os servidores do grupo de risco, estão todos em casa.
ET - Como o Sr. encarou as manifestações pelas redes sociais, com críticas ao seu governo, inclusive debitando como sua a responsabilidade do remanejamento ordenado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado em relação aos detentos dos presídios do Estado?
Wesley - Primeiro, quero deixar claro, que tivemos essa informação em primeira mão e de imediato, começamos a trabalhar para que isso não acontecesse. Entramos em contato com o deputado Bosco que fez contatos em Belo Horizonte, mas sem êxito, mesmo porque o presídio de Sacramento não foi o único. O Estado entendeu que por questões de saúde pública, havia essa necessidade de remanejar os presos antigos para não se misturarem com novos presos que poderiam ou podem estar infectados. Essa foi a solução encontrada pelo Estado, entidade responsável pelos presídios e pela população carcerária. Então, é importante que as pessoas tenham clareza, de que essa transferência dos presos não é decisão do prefeito, tentamos barrar, mas não tivermos êxitos. Esses presos, assim que cumprirem a quarentena serão encaminhados para as suas respectivas cidades.
ET - Circula no meio político, inclusive com uma proposta parlamentar, o adiamento das eleições de outubro próximo. Qual sua opinião a respeito?
Wesley - A situação é tão peculiar e comovente que não é hora de pensar nisso, dada a preocupação que estamos tendo no combate a essa terrível doença. Mas, na minha opinião é de que as eleições devam acontecer na data aprazada, 4 de outubro. Logicamente, que se essa pandemia se arrastar nos meses seguintes, alguma medida deverá ser tomada, mas em princípio sou contra o adiamento.
ET - O presidente Jair Bolsonaro, contrariando governadores, prefeitos, autoridades sanitárias e médicas, soltou um Twitter ordenando a reabertura do comércio do país e a volta às aulas... Como o sr encarou esse afronto do presidente afirmando que “a ação dos governadores é um crime”?
Wesley - Essa questão tem que ser muito bem avaliada. O Presidente Jair Bolsonaro tem as razões dele, assim como todos nós as temos, cada um pensa de uma maneira. Não cabe a mim julgá-lo. A mim, como prefeito, cabe preocupar com a população sacramentana, com a vida das pessoas desta cidade. Vejo que muitos países 'acordaram' tarde para esse vírus, não acreditaram na sua potência e hoje estão amargando milhares de mortes, uma perda grande de vidas humanas, o que não queremos para Sacramento. Será que a Itália se tivesse 'acordado' e aplicado medidas de prevenção mais cedo, teria tantas mortes como está acontecendo? Agora, assim como o Presidente, eu fico muito preocupado com a economia, mas vou seguir as orientações da Fiocruz, do Ministério da Saúde, Secretaria da Saúde do Estado e do Município, seguindo o que recomendam os médicos. Criamos um comitê de enfrentamento da doença e sempre ouvimos todos, antes de qualquer decisão. Não vou julgar o Presidente, mas vou dar continuidade às medidas preventivas que nos são passadas, porque a vida vale mais. Criamos na última semana um comitê, reunindo profissionais da saúde, empresários, lojistas, etc, para juntos discutirmos essa questão, porque é muito fácil pedir para voltar às aulas, abrir o comércio... E depois, caso comece a morrer gente, a responsabilidade ficará com quem?
ET - Naturalmente com os autores da proposta, mas principalmente com o prefeito. Mas qual foi sua decisão?
Wesley - Mantive os decretos publicados com todas as suas proibições, ainda por tempo indeterminado.
Mas, na manhã desta quarta-feira, dia 1º, a pedido da ACE (Associação Comercial e Empresarial) nos reunimos mais uma vez para falar sobre a questão. Em nome dos empresários, os diretores apresentaram suas propostas, solicitando uma flexibilização maior para o comércio, sugerindo que, além dos serviços imprescindíveis, como supermercados e farmácias permaneçam também abertos, as lojas de vestuário, eletroeletrônicos, sapatos, restaurantes, evidentemente, com todas aquelas recomendações: álcool gel na portaria, número limitado de clientes, diminuição de mesas, etc, permanecendo fechados os bares, academias, escolas, casas de shows, etc. Porém, minha decisão foi a de esperar um pouco mais, até o dia 13, coincidindo com as restrições ainda em vigor do governo de Minas válidas até essa data. Portanto, até lá, continuaremos monitorando a situação da cidade.