Estamos a um mês para o início do Carnaval (22 a 25 de fevereiro) e, considerando os 200 anos da cidade, importante ressaltar tal manifestação que, oficialmente, faz parte desta história desde 1978. Mas bem antes dessa data, os festejos de Momo já faziam a alegria do povo. A partir desta edição, faremos uma retrospectiva do Carnaval oficial da cidade.
Um breve resumo do Carnaval...
O carnaval não é uma invenção brasileira, tampouco é realizado apenas aqui. A História do Carnaval remonta à Antiguidade, tanto na Mesopotâmia quanto na Grécia e em Roma. A palavra carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é retirar a carne. O significado está relacionado com o jejum que deveria ser realizado durante a quaresma e também com o controle dos prazeres mundanos, por este motivo, diz o historiador Tales dos Santos Pinto, em "História do carnaval e suas origens", o carnaval foi enquadrado pela Igreja Católica como festa pagã. (...).
“A história do carnaval no Brasil iniciou-se no período colonial. Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma festa de origem portuguesa que na colônia era praticada pelos escravos. Depois surgiram os cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos e as escolas de samba. Afoxés, frevos e maracatus também passaram a fazer parte da tradição cultural carnavalesca brasileira. Marchinhas, sambas e outros gêneros musicais também foram incorporados à maior manifestação cultural do Brasil”.
Os primeiros sinais dos festejos carnavalescos no Brasil sugiram ainda no século XVII em Pernambuco e só no século XIX chegou ao Rio de Janeiro, servindo de modelo para as diferentes folias e hoje é designado pela Guinness World Records como o maior carnaval do mundo. Naquela época, os grupos eram chamados indiscriminadamente de cordões, ranchos ou blocos.
Em 1890, Chiquinha Gonzaga compôs a primeira marcha carnavalesca, "Ô Abre Alas!", para o cordão Rosas de Ouro que desfilava pelas ruas do Rio de Janeiro durante o carnaval. Os foliões costumavam frequentar os bailes fantasiados, usando máscaras e disfarces inspirados nos bailes de máscaras parisienses. As fantasias mais tradicionais e usadas até hoje são Pierrot, Arlequim e Colombina. (...)
E dando um salto na História, chegamos a Sacramento.
No artigo intitulado “Carnasacra – Símbolo de Resistência Negra e Objeto de Manifestação Popular”, de autoria de Juliana Hoffmann Rodrigues, graduada em Turismo pela Universidade Paulista (2005) tendo como Professor Orientador Dr. Juarez Tadeu de Paula Xavier, depois de uma contextualização histórica da cidade de Sacramento, a respeito das manifestações carnavalescas da cidade, afirma que, “Os negros que chegaram em Sacramento instalaram-se na periferia por volta de 1917, e a partir desta época, o carnaval surge como uma manifestação da cultura urbana e constituiu-se em espaço de sociabilidade e construção da identidade desta comunidade.
O carnaval desenvolve-se como uma forma disfarçada de resistência. (...) Essas manifestações ocorriam tanto no esporte, como em festas da comunidade que começaram a ocorrer por volta de 1930. João Pereira Guimarães e Ana Barbosa Guimarães realizavam pequenas manifestações carnavalescas com suas filhas Ruth Barbosa Guimarães e Messias da Conceição Barbosa, sobrinhas, primos e amigos.
Havia dois blocos, os Filhos da Lua e as Filhas da Lua, precursores da Congada, que ensaiavam num terreirão de terra batida no quintal de sua casa. As moças vestiam roupas de linho branco, os rapazes usavam roupas de marinheiro e os músicos vestiam-se com terno e gravata. (...)
Em 1949, Ruth mudou-se para São Paulo e sua irmã Messias da Conceição Barbosa deu continuidade aos cordões. Com a morte de Conceição, em 1961, o carnaval chegou a estagnar e alguns anos depois, Azor Pereira Guimarães, irmão de Ruth e Conceição, torna-se o Rei do Carnaval Sacramentano, trazendo uma grande mudança social e tornando a festa um fenômeno máximo da cultura popular.
Nas décadas de 40 a 50, os negros eram proibidos de frequentar os demais clubes da cidade e coibidos pela polícia ao realizarem qualquer tipo de manifestação. Surgiu assim a necessidade de criação de um local onde eles pudessem jogar o futebol e recrear. Fundou-se então um clube esportivo em 1958 que, no ano seguinte tornou-se o Clube 13 de Maio, um clube tanto esportivo quanto social e objeto de estudo desta pesquisa”.
O artigo segue destacando os anos 70. “Nessa época também, o carnaval passa a receber incentivo da Prefeitura com destinação de verbas e infraestrutura para as escolas que surgiam e premiação às campeãs. Surgiram as dissidências com criação de blocos, escolas e presença do povo nas ruas. Surgem as escolas Mocidade Alegre, Clube Operários, Tradição Sacramentana, Unidos do Areão e Blocos caricatos e mascarados, como o Maria Giriza e o Vai Quem Qué.”
Segundo, Juliana Hoffmann Rodrigues, a profissionalização chega a seguir, nos anos 80 e 90 “Na década de 80, o carnaval profissionalizou-se ocupando lugar de destaque na programação oficial no município. Nos anos 90 intensifica-se a promoção do carnaval com a manutenção do palanque das autoridades e construção das arquibancadas. Joaquim Rosa Pinheiro, prefeito em 1994 aumenta a subvenção das escolas. A Rádio Sacramento e o Jornal O Estado do Triângulo tornam o evento conhecido em toda a região. E em 2003 há um investimento crescente da administração pública nessa festa. (...)”.
O artigo, “Carnasacra – Símbolo de Resistência Negra e Objeto de Manifestação Popular, está disponível em: (http://celacc.eca.usp.br/sites/default/files/media/tcc/241-731-1-SM.pdf. Tem como referência bibliográfica diversos autores, dentre eles, Carlos Pogetti, “Da Pré-História a Santa Maria: identificação dos primeiros habitantes do Brasil” (Franca (SP): Sírius Editora, 2008)., Júlio César Pereira, “Sancas e Marimbas: A Saga do Terreirão”. (Sacramento (MG): Editora PrismaGraf, 2008), os jornais: A Semana (1925 à 1930), O Estado do Triângulo (1968 à 2009), Jornal de Sacramento (1979 à 1982), Revista Destaque In. Ano 9. N 49. (Janeiro /Fevereiro de 2003) e sites diversos.
Desfile oficial começa em 1978
Carnaval sacramentano chegou ao auge, tornando-se uma grande festa regional.
Não se pode falar sobre a história do Carnaval de Sacramento sem citar e colocar em destaque a participação da Escola de Samba 13 de Maio, que surgiu primeiro como clube esportivo seguido das festas populares da comunidade negra que começaram a ocorrer por volta de 1930, conforme registra a turismóloga, Juliana Hoffman Rodrigues, em tese acadêmica.
Durante vários anos, apenas o cordão do 13 de Maio ganhava as ruas da cidade desde o alto do Terreirão até o centro da cidade, com uma curiosidade interessante. O então Cine Capitólio interrompia a cessão e acendia suas luzes para a entrada e desfile, nos corredores da plateia, do bloco que transformaria na futura Escola de Samba 13 de Maio.
Do antigo Terreirão, o carnaval passou para os primeiros salões alugados, como a Catação do Dr. Juca e, um pouco à frente, meados nos anos 50, a comunidade branca ganhou seu primeiro clube social, o Sacramen to Clube. Ainda com resquícios discriminatórios, de um lado a Casa Grande e de outro a Senzala, a palimpséstica cidade, até os anos 60, pasmem, quase 100 anos depois a abolição da escravatura, proibia a entrada de negros em seus salões. Alguns anos depois, também a comunidade negra inaugura a sede social do Clube 13 de Maio.
Mas o Sacramento Clube, malgrado seu início discriminatório, tem uma bela história à parte, que merece registro em livro. Desde sua fundação ao seu fechamento foi palco de grandes eventos sociais, com destaque para os bailes de carnaval que começam com gritos pré-canavalescos até chegar aos quatro dias de folias, animados, especialmente, pela famosa Banda do Carabina, com direito a concursos de fantasias e melhores foliões.
A partir de 1978, com a oficialização do Carnaval de Rua, ainda sem disponibilizar subvenções aos clubes, a Prefeitura assume a responsabilidade de dotar a avenida do samba de uma estrutura suficiente para o desfile dos blocos. O Sacramento Clube tem nesse início uma participação especial, enriquecendo sobremaneira com seus blocos, os primeiros desfiles de rua do carnaval sacramentano. O ET registra, na edição de 26.02.1978 (veja abaixo), que o desfile daquele ano durou 1h30 de animação e contou com 11 blocos e três baterias.
Nos últimos anos, o carnaval sacramentano passou a denominar-se CarnaSacra e teve a participação de cinco escolas de samba: 13 de Maio, Beija Flor Sacramentano, que nasceu em 1995, composta por ex-integrantes da Mocidade Alegre Sacramentana (1976), considerada a primeira escola da cidade. Há ainda as escolas Unidos do Areão (2001), o Clube Operários, da qual Azor foi um dos fundadores com Odorico Vieira na década de 70 e Acadêmicos do Borá, até 2014.
No ano seguinte, por falta de investimentos da Prefeitura e das próprias escolas de samba, o carnaval deixou de ser realizado. A festa foi retomada em 2017 pela atual administração, mas sem os desfiles, apenas shows no parque de exposições. Contudo, a voz popular falou mais alto e o Carnasacra voltou para a avenida, porém, sem o resgate do desfile das escolas de samba.
1978 - o primeiro carnaval oficial
Através de Lei Municipal aprovada pela Câmara, em 1978, o então prefeito José Alberto Bernardes Borges, na sua segunda gestão (1977/82), oficializou o Carnaval de Rua da cidade. E nos dias 4 a 7 de fevereiro, Sacramento teve pela primeira vez o Reinado de Momo no calendário porém ainda sem verba oficial. As escolas de samba fizeram o que puderam, todas dando o melhor de si e realizando o primeiro desfile oficial, nos dias 5 e 7, com a participação das escolas, a tradicional 13 de Maio, presidida por Benedito Roberto Ferreira (Macalé) que, independente de situação oficial ou não, sempre esteve na passarela, e a Mocidade Alegre Sacramentana, fundada dois antes por Avelu Silva Araújo, e o Sacramento Clube com 11 blocos.
Mocidade Alegre Sacramentana é campeã
A Mocidade Alegre Sacramentana com alas bem definidas, boa bateria e passistas animadíssimos sagrou- se campeã do Carnaval e recebeu o troféu de Melhor Escola de Samba do então presidente do Júri, Haroldo Adrião Cunha. E Macalé recebeu o troféu de segundo lugar, das mãos da primeira dama da cidade, dona Carmelita Bernardes Borges, que foi presença simpática no palanque oficial nos dois dias de desfile, ao lado do filho prefeito, José Alberto Bernardes Borges.
O Sacramento Clube desfilhou com os blocos: Unidos da Estação, Arco-Íris, Rumbeiros, Moleques do Borá, As Piratas, Melindrosas, Fantásticas, Sacramentanos de Coração, Borboletas do Éden, As Mimosas e Juca Garganta. E também recebeu troféus de Melhor Bloco para Unidos da Estação, com a fantasia Motorneiros da Estação; Arco-Íris (Animação), Moleques do Borá (Originalidade), Rumbeiros (Beleza), Melindrosas (Luxo).
Além do artista plástico, Haroldo Adrião Cunha, fizeram parte do corpo de jurados, Maria Eliza Bonatti, Regina Scalon, Terezinha Gomide Pícolo, Astrogildo de Araújo Borges (Sussu), Jurandir Costa Neves e Herculano Almeida.
Naquele ano do primeiro desfile oficial de Carnaval na cidade, 1978, o Jornal O Estado do Triângulo completava seus dez e circulação ininterrupta e foi representado pela miss 'O Estado do Triângulo', Marluce Jerônimo que desfilou em um carro alegórico fechando o desfile.
O jornal registra que a organização geral do desfile foi do Sacramento Clube, através de seu presidente, Júli Gaspar Jerônimo e diretores teve uma participação speciala apresentação do desfile foi feita pela jornalista Walmor Júlio Silva. Organizadores do desfile de rua: Émerson Silveira, José Antônio e Ferrúcio Bonatti Melo. Um bom esquema de policiamento foi mentado e tudo transcorreu-se muito bem sob a coordenação do delegado de polícia, Marcos Antonino de Melo e Sargento Figueira.
Findo os desfiles daquele ano, os amantes dos bailes carnavalescos se dirigiam para o Sacramento Clube e Clube Operário para curtir o restante das noites.
Unidos da Estação é campeã de 1979
Com esta manchete, o jornal O Estado do Triângulo abriu a edição nº 158, de 11 de março de 1979, destacando a participação vitoriosa da nova 'Unidos da Estação'. Naquele ano desfilaram as escolas, 13 de Maio, Mocidade Alegre Sacramentana, os blocos do Sacramento Clube e estreante Grêmio Recreativo Unidos da Estação, que levou para a passarela o tema, “Da Bahia para a Sacramento sorriso e amor”. A escola inovou até ao trazer para a avenida um samba enredo, “O sonho”, de autoria do presidente da escola, Luiz Antônio Gonçalves, que era também o mestre-sala com a porta bandeira, Elzinha Pontes. O samba enredo foi considerado plágio do samba enredo da Império Serrano em 1973. Mas a estreante começou com o pé direito e sagrou-se campeã.
A 13 de Maio foi a vice-campeã e deixou o refrão do samba enredo “Conceição” gravado nas memória de todos “Morreu, morreu Conceição, a saudade ficou no meu coração”. Destaque para a participação da velha guarda da escola, entre eles, o inesquecível, Rei Azor, irmão de Conceição, a pioneira do carnaval sacramentano.
A Mocidade Alegre Sacramentana, também teve samba-enredo, “Roxinha! letra e música de Agenor Inácio, caiu de campeã para 3º lugar.
Neste mesmo ano foi criado o Troféu Conceição, idealizado pelo coordenador do Carnaval 1979, Amir Salomão Jacob, em homenagem à Conceição, para ser outorgado à escola de samba que conseguisse um tricampeonato. A decoração ficou a cargo do artista plástico, Haroldo Adrião Cunha.
Inédita também foi a subvenção dada às escolas de samba. Pela primeira vez, cada escola recebeu uma ajuda de Cr$ 1.980,00 da Prefeitura, que até então patrocinava a infraestrutura da avenida. Naquele ano a Prefeitura investiu mais: Cr 20 mil para a decoração, “que depois será reaproveitada pelas escolas municipais e mais Cr$ 10 mil para o decorador”, justificou o então prefeito José Alberto Bernardes Borges, em entrevista ao ET.
Concurso Oficial dos Blocos do Sacramento Clube
O julgamento do carnaval de 1979 ficou a cargo de Haroldo Adrião Cunha, Renan Luiz dos Reis, Marta Regina Gonçalves de Almeida, Emerson Silveira, Carlos Roberto dos Santos, Reginaldo Afonso dos Santos, Leida Silva Araújo e Marileia Maluf Ribeiro, que premiaram também os blocos do Sacramento Clube.
Luxo e Beleza - As Fantásticas com a fantasia 'Contatos Imediatos';
Animação - Sabonete (Epaminondas) e suas Sabonecretes';
Originalidade - “T´Chaga U” (O lugar de onde se tem saudades).
E o troféu 'Sorvetão”, instituído para premiar o melhor bloco infantil, foi para o bloco, “Alegria da Criançada”.
Nas premiações do carnaval do Sacramento Clube, foram premiados, Antônio Ribeiro (o Folião do Ano), Jucelaine Maria Borges (Foliona do Ano), o casal José Bento e Joana (Casal Folião), Aidê Etchebehere Souza (Fantasia Adulto) e Emmanuel Cunha (Fantasia Infantil).