Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

'A Epopéia dos Borges' narra 300 anos de história

Edição nº 1708 - 03 de Janeiro de 2020

‘A Epopeia dos Borges' é o título do livro de autoria de Carla Mendes Bruno Brady e Randolfo Borges Filho, lançado no Museu do Zebu, no último dia 21 de dezembro, em Uberaba. A obra de 980 páginas retrata a saga da família Borges, imigrantes portugueses cujas gerações foram divididas em quatro troncos, destacando, além da origem, sua história e descendências daqueles que se firmaram no Brasil a partir do início do século XVIII. Aqui se estabeleceram e se multiplicaram em diferentes regiões do país, passando especialmente, pelo Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Goiás. Nessa saga, chegaram a Sacramento no final do século XIX.

Os quatro troncos dos Borges, conforme minuciosa pesquisa e estudos feitos pelos autores são: 1º - Martins Borges; 2º - Gonçalves Borges; 3º - Borges de Gouvêia, e 4º -  Antônio Borges Sampaio, oriundos da Ilha Terceira do arquipélago dos Açores.  E em meio a tantos Borges, chegaram a Alberto Marquez Borges (Marquezinho), pai do ex-prefeito José Alberto Bernardes Borges, que prestigiou o lançamento da obra, quando gentilmente recebeu os agradecimentos dos autores, Carla Brady e Randolfo Borges: “Muito obrigado pela sua presença. Apoiando 'A Epopeia dos Borges', você está ajudando a perpetuar a história de nossa família. Um abraço caloroso!” 

Apresentando o livro à redação do ET e sugerindo uma reportagem, diante de sua importância histórica, José Alberto afirmou: “Olha, é uma genealogia, uma verdadeira enciclopédia da família Borges. Os autores esclarecem que Borges é uma corruptela de 'Bougez', sobrenome que foi acrescentado ao primeiro dos Borges, Rodrigo Annes, um português de Alentejo cuja descendência acabou aportando no Brasil em meados do século XVIII, por conta do ciclo do ouro. E dali, depois de anos de trabalho, os autores chegam a essa obra fantástica resgatando toda a história dos Borges. Um trabalho magnífica que merece todo nosso reconhecimento. Parabéns aos autores, Carla Brady e Randolfo Borges”.

 

E tudo começou em 2014

Na introdução, os autores expressam o desejo de atualizar a pesquisa “Genealogias” de José Carlos Machado Borges (Juquita Machado) e “Genealogia Mineira”, de Hildebrando  de Araújo Pontes. “Tudo começou em uma reunião em junho de 2014”, revelam.  Em setembro do mesmo ano, criaram a página 'A Epopeia dos Borges', na internet, para buscar informações. 

“Somos Borges e temos como objetivo atualizar e documentar a genealogia dos Borges a partir das obras de José Carlos Machado Borges e Hildebrando de Araújo Pontes. Queremos registrar nossa trajetória a partir da Região Centro / Sul de Minas rumo ao oeste, passando pela Picada de Goiás, Desemboque e Triângulo Mineiro. Recolher informações sobre nossa gente, nossos costumes, nossos “causos”, nossas realizações – enfim, o nosso “jeito Borges de ser”, justificaram.

O desejo resultou num livro imenso, um documento precioso para as futuras gerações, começando com o título, 'O primeiro de nome Borges', o fidalgo Rodrigo Annes, natural de Santarém no Alentejo, em Portugal. “Dizem os registros que, Rodrigo teria cometido alguns delitos, pelo que partiu para o Condado de Flandres e ingressou nas tropas do Rei Dom Felipe II (Felipe Augusto) na França. (...) Destacou-se de tal forma   pela bravura    na tomada de Bourgez, no Ducado de Borgonha, que ganhou a alcunha de “Bougez” (depois, por corrupção, “Borges”). Finalmente obteve o perdão de seus delitos e regressou a Santarém, sua terra natal”, registra a obra. 

Seus descentes serviram aos reis de Portugal e se tornaram “Senhores de várias terras em diferentes regiões no território português, inclusive da Torre de Moncorvo”.  De acordo com os autores, o genealogista Gayo descreve as gerações a partir de Rodrigo Annes, anos 1200 até aproximadamente 300 anos depois. “As armas utilizadas pelos Borges foram bem documentadas no “Livro do Armeiro Mor” de 1509, na sala dos Brasões no Palácio Nacional de Sintra, no “Livro da Nobreza e Perfeiçam  das Armas”, de  1521 a 1541, e no livro “Thesouro da Nobreza”, de 1675”. E seguem outros registros. 

 

O Marquezinho do Zé Borges

Destaque especial tem a família do ex-prefeito e professor José Alberto Bernardes Borges.  O registro de Alberto Marquez Borges, conhecido popularmente na cidade como Marquezinho, consta do Livro de Batismos da Igreja Matriz de Sacramento,  fls 103: “Aos vinte e quatro dias do mês de setembro de mil novecentos e onze nesta matriz  baptizei solemnemente a Adevicta, nascida a vinte e seis de julho de mil nove centos e onze, filha legitima de José Borges Marquez e de Rita Fidelis Borges. Foram padrinhos A? Alves Borges e Anna Francisca Borges. O vigário Pe. Pedro Ludovico Santa Cruz. Sacramento Nossa Senhora do Patrocínio Batismos 1911. Ago”. 

Uma pequena biografia completa o registro de Marquezinho. “Alberto Marquez Borges (Marquezinho), importante agropecuarista, empresário e figura de relevo na sociedade sacrametnana;  dá nome ao Ginásio Poliesportivo de Sacramento, popularmente chamado de Ginásio Marquezinho.

O livro dá um destaque especial à sua esposa, Carmelita de Mello Bernardes (1912/2010), filha do Coronel Amâncio José Bernardes e Guiomar de Mello Alvim. Dona Carmelita foi mulher de fino traquejo social à frente de seu tempo, admirada e querida pela família e pelos sacramentanos. Mulher de fé inabalável, dedicou sua vida a obras caritativas e de assistência social, ao mesmo tempo em que participou da administração dos negócios da família com grande sucesso. Foi das primeiras-damas mais carismáticas de Sacramento. 

Consta das páginas dez fotos, entre elas, a histórica e bela casa, da Visconde do Rio Branco, típica do Ciclo do Café, de 1904, que havia pertencido a George Hermann Rodolfo Tormim, sogro do Coronel Júlio Gonçalves Borges (Julinho) e que hoje pertence a José Alberto Bernardes Borges, filho de Marquezinho e Carmelita.

 

O ex-prefeito José Alberto

Finalizando, registra-se na página 834, um resumo da biografia de José Alberto, que retornou dos estudos de Direito em São Paulo aos 23 anos. Cursou também Letras, na antiga FISTA (Faculdades Integradas São Tomás de Aquino), foi professor e se consagrou na política. Primeiro como vereador para o mandato 1963/1964 e como prefeito por três mandatos 1971/1973; 1977/1982 e 1989/1992.  

 

José Alberto deixou sua marca com a criação do brasão e bandeira do município, idealizados pela irmã Maria Benigna de Jesus Martins, da Congregação de São José de Cluny; em 1977 oficializou o carnaval, (que infelizmente fizeram acabar em 2015,  depois de 38 anos de grandes festas); restaurou as igrejas do Desemboque; declarou Na. Sra. do Patrocínio do Santíssimo Sacramento como padroeira da cidade; construiu grandes obras, dentre elas o Museu Corália Venites Maluf; Ginásio Poliesportivo Marquezinho; o prédio onde é hoje a sede do Executivo, dotou a cidade de infraestututra básica. Destaque-se o seu lado social, com trabalhos diversos na cidade em prol da Santa Casa e do bairro João XXIII junto com as irmãs de São José de Cluny.

 

Pioneiros da raça zebuína no país

Prefaciado pelo professor José Peres de Lima Neto, a obra destaca o grande desafio que os autores Carla Mendes Bruno Brady e Randolfo Borges Filho enfrentaram para buscar a ancestralidade dos Borges. A obra contém, além da rigorosa e estafante pesquisa histórica feita em documentos de paróquias, cartórios e jornais, uma preciosa contribuição de colaboradores com artigos, fotos, textos de descendentes sobre suas famílias, e que muito enriqueceu o livro, incluindo aqui algumas colaborações extraídas do jornal O Estado do Triângulo. 

 Ivone Borges Botelho, por exemplo, através do artigo intitulado, “Os Borges de Uberaba”, publicado na coluna “Seu Lar e Você”, do jornal O Estado de Minas, em 27/08/1981.  No artigo, Ivone destacou que os Borges chegaram na região “no início do século XX foram pioneiros e há mais de 100 anos se fazem representar na vida sócio e empresarial das cidades, nas casas legislativas municipais de Uberaba, Araxá, Sacramento, Conquista, Perdizes, etc.

 Após a decadência do ciclo do ouro, partiram da comarca do Rio das Mortes para conquistar o 'sertão grande' (Sertão da Farinha Podre, depois Triângulo Mineiro). Pelo menos dez gerações se sucederam ao longo desses 300 anos de história, onde deixam sua marca e grande contribuição. Primeiro, na mineração, depois como mascates, boiadeiros com a pecuária zebuína que trouxeram da Índia, ou como lavoristas, trabalhadores do comércio e empresários nos primórdios da indústria... 

 

Nessa descendência, a obra dedica pelos menos 200 páginas na narração dos Borges filhos de Sacramento ou que por aqui se estabeleceram ou passaram: Vicente de Paula Vieira (Barão da Rifaina), Cel. José Affonso de Almeida (Zeca Affonso), José Afonso Borges (Zé do Bandó) e filhos, os irmãos Pe. Antônio Borges e Elza de Souza Crema, Edson Chaer Borges, João Borges da Matta, Oswaldo Affonso Borges, Vanda Borges Bonatti entre tantos outros.