Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Forte chuva causa desabastecimento de água na cidade

Edição nº 1704 - 06 de Dezembro 2019

Mais uma forte chuva que despencou, desta vez, na cabeceira do córrego dos Pintos, principal manancial de d'água do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) com 60% da captação do sistema, no último dia 29, provocou estragos e causou a paralização parcial do abastecimento de água da cidade. De acordo com o diretor do SAAE, o engenheiro Osny Zago a precipitação foi de 94 mm em duas horas.  O grande volume de água formou enxurradas que desceram na direção da nascente do córrego levando a terra revolvida de parte de uma plantação de batatas em colheita, passando por cima de represas de fazendas e suspendendo a lama escura e fétida ali decantada. Todo aquele material orgânico em decomposição juntou-se no leito do córrego, obrigando o SAAE a desligar o sistema de captação. O abastecimento da cidade ficou comprometido durante quatro dias e só foi minimizado com um rodizio feito nos reservatórios, utilizando os outros dois mananciais, a Mina da Loca e os poços artesianos. Reportagem da TV integração na noite dessa terça-feira apontou que a água do córrego dos Pintos pode ter sido contaminada com agrotóxico, em matéria intitulada: “Abastecimento é afetado e possível contaminação será investigada após chuva em Sacramento”. 

Ouvido pelo ET, Zago, explicou o que aconteceu. Veja a entrevista. 

 

ET - Segundo reportagem da TV Integração, a água pode ter sido contaminada com agrotóxico. O Sr. confirma essa possibilidade?

Osny - Na verdade, foi uma suposição, diante da movimentação de lama que ocorreu na hora da enchente, que durou cerca de duas horas, justamente quando passou todo o material carreado. Pode ter havido uma contaminação, mas é pouco provável, considerando que parte do material arrastado foi depositado na represa e durante o pico da enchente não foi possível fazer coleta da água. A empresa responsável pelas análises foi acionada, coletou água e estamos aguardando os resultados. 

 

ET - Essas análises são feitas somente em casos assim excepcionais?

Osny - Não. Essas análises de agrotóxicos são feitas anualmente ou sempre que há algum evento como o que ocorreu, até então estava tudo normal já que foi feita uma análise a um mês. A água de chuva corria das lavouras normalmente, e nunca acusou problema de contaminação, conforme as análises feita anteriormente. Essa chuva de sábado, entretanto, foi algo anormal, 94 mm de água. Estamos aguardando os laudos: as coletas foram feitas nas poças de água parada e barro deixado pela enchente nas margens, tem análise que fica pronto neste final de semana; e o outro, para medir a contaminação agrotóxica daqui a 15 dias. A ideia da coleta é saber se no evento da enchente possa ter havido contaminação. Aguardemos, as análises é que vão apontar. 

 

ET - O que mais preocupou o SAAE?

Osny - O que nos assustou foi a enxurrada formada pela precipitação passando pelas várias represas de fazendas da região e foi carreando toda a sujeira de fundo das represas, geralmente formada por toda aquela matéria orgânica mais pesada que ao longo do tempo vai decantando no fundo. A enxurrada formada foi tão forte que lavou o leito do córrego e as várzeas, carregando lama e matéria orgânica decomposta ao longo do córrego dos Pintos. Imediatamente, os operadores desligaram o sistema de captação. 

 

ET – A reportagem fala que caiu no córrego dos Pintos, o equivalente a 100 caminhões de terra... Essa quantidade não assorearia o córrego? 

Osny - Houve muita chuva na sexta-feira encharcando o solo, e no dia seguinte, choveu na área do plantio, de acordo com informação dos proprietários da lavoura, que relataram para a Polícia de Meio Ambiente, 125 mm em uma hora, o que causou a enchente. Em relação à quantidade de terra, 100 caminhões, foi uma estimativa que fizemos. Estivemos na lavoura e pelo volume de terra acumulado no trajeto, na estrada, no meio do mato foi muito significativo. Vimos os sulcos profundos no meio da lavoura, que mostram o quanto a água cortou na terra. No entanto, de acordo com as análise preliminares da Polícia Ambiental, todo o solo arrastado ficou retido dentro da estrada que contorna a reserva legal e mata ciliar, não atingindo as nascentes. Foi também identificada uma jazida de turfa (material de origem vegetal, parcialmente decomposto), localizada no subsolo que sofreu lixiviação, o que ajudou a dar a coloração escura e odor na água. 

 

ET - O Sr informou que o índice de turbidez da água e a quantidade de material sólido chegou a 2000. O que isso significa?

Osny - Significa 2000 UT - unidades de turbidez, quer dizer 2000 unidades de partículas sólidas em suspensão, como argila e matéria orgânica no córrego. Fazendo uma comparação para facilitar o entendimento, a água que chega às torneiras de nossas casas, depois de tratada, tem que estar com uma turbidez menor que 1 UT. A do córrego dos Pintos naquele dia, quando medimos, chegou a 2000 UT, mas acreditamos que tenha chegado a 4000. 

 

ET - Como está hoje?

Osny - Já na terça-feira estava 150 e na quarta, 60 UT, e vai caindo. Importante esclarecer que sempre teve plantação de lavouras naquela área, assim como enchentes menores, mas nunca houve um carreamento de solo como dessa vez por conta do volume de chuva. Em períodos de chuvas normais, as características da água se recompõem em 24 a 30 horas no máximo. Mas nessa enchente já estamos com mais de 72 horas e a água não limpou ainda. Isso mostra a gravidade da situação.

 

ET - Uma gravidade que pode oferecer risco à população?

Osny - Não. A população pode ficar tranquila, porque não tem nenhum risco. Só paramos a captação por causa do odor, do mau cheiro da água com matéria orgânica em decomposição. Depois de um tempo o mau cheiro acabou e parou de correr água escura e o volume do córrego praticamente voltou ao normal. Pelas análises preliminares, detectou-se que aquele mau cheiro seria matéria orgânica que estava no fundo das represas e nos brejos.  Quanto à contaminação por agrotóxico, ela pode ter havido no momento do grande volume de água que passou.  Se houve, pode ter ficado algum resíduo, muito insignificante, na água que está nas lagoas. Mas acreditamos que não haja contaminação, até porque a lavoura está na fase final de colheita, portanto com mais de 30 dias sem pulverização, sem nenhum tipo de defensivo ou agrotóxico.  

 

ET - É claro que uma outra tromba d'água pode acontecer... Diante dessa possibilidade há algum plano emergencial?

Osny - Sim, pode ocorrer novamente, caso aconteça outra precipitação semelhante, mesmo por que, pelo que vimos, eles devem ter colhido apenas um terço da lavoura. E a colheita de batata é feita com uma máquina que vai revolvendo, revirando a terra, que permanece ali solta. Vem a enxurrada e leva tudo. A Polícia Ambiental está vistoriando a área e naturalmente, algumas providências serão tomadas no sentido de proteger a nascente onde captamos a água. O certo ali, seria o proprietário fazer uma curva de nível desviando a enxurrada para as áreas de pastagem, onde a vegetação amortece a quantidade de terra que desce. Claro, vai mudar a cor da água, mas a terra fica retida no capim. Se for chuva normal, não vai atrapalhar. Nessa terça-feira, por exemplo, choveu e não houve problema. 

 

ET - A quem compete essa orientação da curva de nível e outras medidas?

Osny - Acredito que o Ministério Público (MP) vai convidar o SAAE, as empresas envolvidas e a Polícia Ambiental para decidir o que deverá ser feito. O que não pode é interromper a colheita, porque se a batata apodrecer debaixo da terra, pode piorar ainda mais a situação. 

 

ET - Há a possibilidade da interdição daquela área para plantio de batata?

Osny - Acredito que não, aquela área tem batata plantada há mais de dez anos e nunca aconteceu nenhum incidente. São os percalços da vida, embora nunca tenha ocorrido nenhum problema, mesmo na época das chuvas, mas aconteceu dessa vez. Uma das soluções seria usar a área apenas durante a seca usando a irrigação. Outro detalhe que favorece o escoamento da água no meio da lavoura é o fato dela ser plantada morro abaixo, para a água não acumular e apodrecer a batata ainda no pé. 

 

ET - O rodízio feito para levar água aos reservatórios dos outros dois mananciais, a Mina da Loca e os poços artesianas, que correspondem apenas a 40% do abastecimento, deixou bairros de 6 a 8 horas sem água. E a lagoa que seria construída para corrigir essas eventualidades?  Por que ainda não foi construída?

Osny - Infelizmente, o processo de desapropriação foi demorado, por conta dos 17 irmãos donos da área, que já estavam com as terras divididas, porém sem matrícula nem escritura. Mas, felizmente, isso já foi regularizado, foi também feito o decreto de desapropriação, a justiça acatou, a Prefeitura fez o depósito do valor acertado de R$ 120 mil e o juiz concedeu a posse da área para a Prefeitura. Agora, depende da Câmara Municipal aprovar uma lei enviada àquela casa pelo prefeito há 15 dias, onde foi solicitada autorização para o município buscar recursos no valor de R$ 806 mil junto a algum banco estatal, para a construção da obra. Estamos aguardando a tramitação do projeto. 

 

ET - No que vai ajudar a lagoa em casos semelhantes ao desta semana?

Osny - A lagoa terá capacidade para 20 milhões de litros, suficiente para manter a cidade completamente abastecida, sem rodízio, durante quatro dias, tempo suficiente para deixar passar a água suja e religar o sistema. Esse projeto é antigo. Vem do tempo do Dr. Biro, só que não fluiu, mesmo porque não tinha também problemas com a qualidade da água. Acontece que com a diversificação da cultura na bacia, trouxe consequência, a qualidade da água bruta veio piorando. Agora, o prefeito Baguá, com a aprovação da abertura de crédito pela Câmara, está empenhando para resolvermos de vez essa questão. Como eu disse, são 20 milhões de litros d´água, suficientes para abastecer a cidade por quatro dias sem precisar usar a água do córrego. 

 

ET - As redes sociais divulgaram uma informação de que a lavoura de batata plantada naquele região, próxima ao córrego dos Pintos pertence ao empresário e vice-prefeito, Juninho Trevisan. O Sr confirma o que vem rolando aí na rede?

Osny - Não, não confirmo. É mais uma fake-news plantada na rede, uma notícia totalmente falsa. Foi bom tocar nesse assunto. Aproveito para deixar registrado que durante a reportagem da TV Integração, nós não sabíamos quem era o proprietário da lavoura e o pessoal caiu 'de pau' pra cima do Juninho Trevisan, talvez por uma questão política e o fato dele ser o vice-prefeito, além de empresário ligado ao setor. 

 

ET - Já se sabe quem cultiva a área?

Osny - A lavoura é dos irmãos Migot. Mas isso não tem a menor importância. Mesmo que fosse do Juninho... Ninguém têm culpa pela ocorrência provocada por uma intempérie daquela. Esse grupo que planta notícias falsas nas redes sociais tem levado o desrespeito, disseminado sua falta de caridade e compreensão através da calúnia  e difamação a tantas pessoas na cidade. Toma iniciativas erradas antes de constatar o que realmente aconteceu, antes de ouvir o SAAE, por exemplo nesse caso, por conta de revanchismo político, de ódio... Esse tipo de notícia é pernicioso a sociedade. Essas pessoas têm que levar em conta, entender e respeitar, não só o Juninho, mas todas as pessoas que vêm de fora trabalhar no município. Eles vieram pra ganhar dinheiro, é óbvio, mas estão também contribuindo para o desenvolvimento, gerando empregos e renda para a cidade. Eles empregam muita gente. Infelizmente, o que ocorreu foi um acidente esporádico, porque faz mais de dez anos que plantam batata na bacia do córrego dos Pintos e nunca havia ocorrido um problema assim.