Na noite dessa quinta-feira 28, por volta das 20h, o ET esteve no bairro Perpétuo Socorro atendendo chamado dos moradores da rua Uberaba e Jéfferson Ramos, nas imediações da ponte do córrego Benjamin. As águas já haviam baixado e os moradores indignados lavavam suas casas. Segundo os moradores, a água ficou estagnada entre a ponte e o Supermercado Renata, que não chegou a ser atingido pela enchente.
“Ficou pior depois da obra. Antes havia enchente, mas a água espalhava, agora ficou estancada aqui, que é o trecho mais baixo, não tem vazão”, denunciavam vários moradores. Um deles apresentou um vídeo feito na hora da chuva, mostrando que a água não passava pelo manilhão na rua do Rádio. “É como se o manilhão estivesse acima do nível correto. Ficou pior, muito pior”, lamentavam, pedindo urgente uma intervenção da Prefeitura para corrigir o que estiver errado.
A água atingiu também várias casas na rua Jefferson Ramos. De acordo com dona Emiliana, a rua começou a encher por volta das 20h. “Logo formou a lagoa e a água começou a invadir as casas. Aqui na casa 14, nunca havia entrado água, foi a primeira vez. Nessa enchente entrava de um lado e saia do outro. O córrego Benjamin não encheu, era só a água da chuva que vinha pela enxurrada”, explicou.
Outro morador completa, também culpando o erro na implantação da nova rede de galeria. “As novas galerias que fizeram não dão queda pra cair no córrego. Ficou pior, porque antes não entrava em todas as casas. Chegava no máximo no quintal e escoava rápido, agora atingiu todas. Tenho a filmagem da galeria nova e não sai água nela. Trava tudo”, contou.
A casa de Jadir Costa Barbosa teve a sua casa invadida pela água e nem a casinha de dois cômodos de sua mãe, no fundo da residência escapou. “Moramos aqui desde 1984, nunca houve esse problema. Melhorou um pouco depois que desviaram o córrego Benjamin, mas agora, com a nova galeria ficou pior, porque o volume de água aumentou. Antes não tivessem mexido”, observa, lamentando o prejuízo e o sofrimento de sua mãe.
Apavorada com o que assistiu, Dona Benedita Costa, de 85 anos, depois que o filho morreu veio morar com o outro filho, Jadir, na cidade. “Mamãe veio morar com a gente, ela tem um apego muito grande com as coisinhas dela e a gente respeita. Então, fizemos dois cômodos no fundo e lá colocamos suas coisas. Ela come e dorme aqui conosco, mas passa o dia no cantinho dela, limpando, cuidando das suas coisinhas”, explica.
Ansiosa para ir ver suas coisas, acompanhou o filho até o cômodo para ver como estava, mas encontrou tudo molhado e barro no piso. O filho Jadir e os netos agora se preocupam, porque dona Benedita diz que quer voltar para a roça.
Cidinha do Brechó - Maria Aparecida, a Cidinha do Brechó, também estava revoltada pelo aperto que passou para impedir que mais roupas molhassem. “Vendo minhas roupas, vivo disso. Aqui nunca entrou água assim. Ela entrou pela porta da sala, espalhou pelos quartos e saiu pela porta da cozinha e eu acudindo as coisas, mas mesmo assim, molhou muita roupa. Nunca havia entrado água deste jeito aqui”.
Thaís Pansani e o pai Marcos, com a ajuda de amigos, lavavam a casa. Segundo eles, não foi só água, mas lama com fezes. E de fato, o odor não era nada agradável. “Nunca entrou água assim, não, era só no quintal e olha que tem tempo que moro aqui. O córrego não encheu de sair pela rua, a lagoa que formou foi de água das galerias”, explica Marcos, com o amigo Ricardo, confirmando.
Robervani dos Reis Silveira foi socorrer a sogra, dona Irene de Paula, moradora do local há mais de 30 anos e mostra que a água na varanda atingiu 30 cm na parede e ainda há um degrau de uns 20 cm para entrar. Nunca deu enchente assim. A água ficou parada neste trecho até mais ou menos próximo ao Supermercado Renata e isso aconteceu agora, depois da obra. A Prefeitura tem que rever isso”, alertou.
90 milímetros de precipitação
Atendendo às solicitações dos moradores e da Secretaria de Desenvolvimento Social, vários funcionários da Prefeitura estiveram no local ainda durante a chuva para observar o que estava acontecendo. Segundo um dos funcionários da Prefeitura, Perãozinho, a enchente foi provocada pela enxurrada que desceu desde o bairro Alto da Santa Cruz. “Observamos a rede implantada, o dissipador colocado próximo da ponte e constatamos que a água estava fluindo normalmente”, disse ao ET.
Na manhã seguinte, o ET acompanhou também o prefeito Wesley De Santi de Melo e o engenheiro Sérgio Araújo ao local onde teria originado a enchente. Veja a declaração do prefeito:
“Antes de mais nada, eu lamentei toda aquela ocorrência e o sofrimento dos moradores pelo transtorno e também prejuízos. Mas já determinamos à Secretaria de Ação Social para entrar em contato com cada uma das famílias que foram atingidas para resolver esse lado humano da situação”.
Quanto a inundação, depois de um estudo feito pelo engenheiro Sérgio e vários outros funcionários que estiveram no local, no momento da enchente naquela parte do bairro Perpétuo Socorro, o prefeito disse que ficou constatado o seguinte:
“A inundação não foi provocada por um serviço mal feito das galerias, recentemente implantadas. O que aconteceu, na verdade, foi causado por uma chuva muito forte. Segundo o pluviômetro instalado na fazenda Cachoeira, do Sr. Clarete Zandonaide, em meia hora de chuva houve uma precipitação de 90 mm, uma verdadeira 'tromba d'água'.
Ainda ontem à noite, o engenheiro Sérgio e sua equipe fizeram o que tinha que ser feito: seguiram a água, para saber de onde vinha o problema e detectaram que todo aquele volume de água descia do Alto da Santa Cruz pelas duas ruas Caramuru Paraguaçu e Argila. A enxurrada atravessou a rodovia e continuou pelas ruas Salomão Jacób, Eulógio Natal, Uberaba e Jefferson Ramos até próximo à ponte, onde houve a inundação”, explicou.
Segundo o prefeito, a enxurrada canalizou ruas abaixo e foi arrancando pedaços de asfalto, levando o que havia no caminho. “Era de fato muita água e a parte mais prejudicada foi aquela próximo à ponte, porque o nível das casas é mais baixo”, explica, não aceitando a versão de erro de nível das galerias implantadas recentemente.
“É um absurdo dizer que a água está correndo o contrário, a galeria tem 80 cm por dentro, livre. Mas vamos buscar solução. À medida que os problemas forem aparecendo, a Prefeitura se obriga a resolver todos, é nosso dever e obrigação enquanto governo. E é o que estamos fazendo agora. Mas os moradores não podem culpar a Prefeitura por uma coisa que foge da nossa competência. Ninguém esperava uma tromba d´água”.