Edição nº 1654 - 21 de Dezembro de 2018
Por falta de espaço para guardar os arquivos, a diretoria da Santa Casa de Misericórdia de Sacramento, representada pelo
seu provedor, Atílio César Servato, em ofício datado de 5 de abril deste ano, solicitou à irmã superiora da Congregação de
São José de Cluny, Ir. Hermínia Roseli Genaro, “a doação do espaço onde se encontra a clausura”,
para fazer do local um depósito de arquivos da instituição.
Em resposta expedia à Santa Casa no dia 13 de novembro último, a superiora acedeu ao pedido da Santa Casa, conforme decisão unânime das irmãs. “Venho por meio deste comunicar-lhe que o nosso Conselho foi unânime em relação ao vosso pedido”.
O mesmo não aconteceu com a Paróquia do Santíssimo Sacramento Apresentado pelo Patrocínio de Maria, conforme ofício enviado ao provedor pelo pároco, Pe. Ricardo Alexandre Fidelis, e lido também em reunião do Conselho Fiscal da Santa Casa, do qual faz parte.
No seu ofício, o pároco expõe fatos históricos, aponta alguns documentos e defende a permanência daquele conjunto arquitetônico à Igreja, como um lugar que deve ser utilizado exclusivamente para o fim a que se destinou, o religioso. “O que venho solicitar agora, em nome da população católica, em nome e memória dos benfeitores dessa construção, por razão de justiça, não é um “pagamento” pelo trabalho da Igreja na Santa Casa por quase um século, mas um RECONHECIMENTO de que concerne à Igreja local o uso do espaço sagrado (capela) e do ambiente religioso (clausura)”, escreve.
Na intenção de trazer para Sacramento uma nova congregação religiosa para atuar na comunidade, Pe. Ricardo pede a formalização daquela doação para a Paróquia. “Venho solicitar a transferência do conjunto Capela-Clausura para a Matriz-Basílica do Santíssimo Sacramento Apresentado pelo Patrocínio de Maria, como guardiã da fé católica local, como paróquia que esteve presente em toda a história da Santa Casa local, como repositória dos anseios da população católica que um dia, no distante 1963, construiu esse conjunto de obras e que muito serviu à comunidade”.
Em entrevista ao ET, Pe. Ricardo argumentou suas justificativas e disse que, antes de oficializar uma resposta ao provedor, tomou conhecimento de toda a história que comprova a intenção dos doadores, assim como de uma ata existente, confirmando que o espaço foi cedido para a construção no local de uma Capela e uma Clausura para as irmãs que iriam, a partir daquele ano de 1963, administrar a Santa Casa. (Veja abaixo a íntegra do oficio)
Diretoria quer decisão da Assembleia dos irmãos
Tudo começou quando o provedor Atílio César Servato solicitou da Congregação S. José de Cluny a devolução do espaço, justificando “a ampliação da demanda do hospital, devido ao crescimento de nossa instituição, que visa um melhor atendimento para toda a população”. Diz mais o provedor que na história da Santa Casa não encontrou relatos confirmando que a Capela e a Clausura pertenceriam à Congregação ou à Igreja.
Segundo o provedor, “de uns tempos para cá, o espaço está ocioso, parecendo que perdeu o objetivo”, motivo pelo qual a provedoria está pedindo a sua devolução para transformar o local em um depósito de arquivos. Para isso, Servato pretende convocar uma Assembleia dos 222 irmãos da entidade para decidir a questão, “pois, conforme o art. 12 do Regimento Interno da Santa Casa, os casos omissos são decididos em Assembleia Geral”, cita.
A vice-provedora, Alzira Jerônimo de Melo Almeida, comunga com os argumentos defendidos pelo provedor, reforçando que “o espaço é de fundamental importância para a Santa Casa, pois não tem para onde expandir mais, o que nos obriga a alugar um prédio para essa finalidade, atendendo a uma exigência legal, a de manter os documentos da instituição arquivados durante 20 anos”.
Alzira apresentou também ao pároco a sugestão de abrigar as futuras irmãs, que devem vir para realizar um trabalho religioso na cidade, no prédio do CAS Pe. Antônio Borges de Souza (antigo Seminário), através de uma parceria.
Doação atende a uma causa religiosa
Também entrevistado pelo ET, o historiador Amir Salomão Jacob narrou toda a situação histórica da chegada das primeiras irmãs portuguesas à cidade, em 1963, lembrando também a iniciativa da comunidade em construir para elas, em terreno anexo à Santa Casa, um abrigo e uma Capela”, recorda, citando as famílias beneméritas.
“- Pelo menos quatro famílias estão envolvidas na construção da Clausura e da Capela das Irmãs, Ferrúcio Bonatti e sua filha Da. Aparecida; o prefeito José Sebastião de Almeida e sua esposa, Iralva; Alberto Marquez Borges e sua esposa, Da. Carmelita, Da. Sebastiana Dias... A inauguração foi um ato solene realizado no local com a presença de várias autoridades, eclesiásticas e civis”.
De acordo com o historiador, a entrega do prédio, formado pela Clausura e Capela, ao então bispo da diocese, Dom Alexandre Gonçalves do Amaral configura a intensão de doar o espaço à Igreja. “Foi Dom Alexandre quem recebeu a doação. Estava presente e tenho fotos do evento. Por isso, na minha concepção, aquele espaço, desde então, pertence à diocese, com uma finalidade religiosa. O fato de não existir um documento de doação, o seu tempo de uso por mais de 50 anos comprova essa posse, até mesmo através de usucapião”, ponderou Salomão.
Sobre sua futura destinação pela Paróquia, para abrigar nova congregação, com a iminente saída das Irmãs de S. José de Cluny, diz: “Nada mais justo, pois, essa foi a vontade dos doadores, para que ali funcionasse uma casa religiosa. E não há como reter apenas a Clausura para a Santa Casa. A estrutura do prédio é única, é um conjunto só, até mesmo pelo telhado, não há como entregar a cabeça e reter os pés”, argumenta.
Pároco pede doação completa do imóvel
Ilmo. Sr.
Atílio César Servato
Provedor da Santa Casa de Misericórdia
Nesta
Venho, na condição de Pároco da Basílica do Santíssimo Sacramento Apresentado pelo Patrocínio de Maria, e ainda como membro efetivo da Diretoria dessa Instituição de saúde, conforme estabelece seu Estatuto, expor a Vossa Senhoria e aos demais membros da administração um assunto de real interesse da Paróquia-Basílica, assim como da vida social e assistencial desta cidade de Sacramento, onde a atuação de religiosos e religiosas católicos sempre se mostrou proveitosa e necessária.
Inicialmente, julgo necessário evocar algumas informações históricas que realçarão e firmarão a propositura que este ofício expõe junto a essa Diretoria e aos Irmãos da Santa Casa.
Desde a ideia nascida em 1928 de construir uma Santa Casa em Sacramento, que, precariamente, funcionou até 1944 em um imóvel, também precário, cedido pela Irmandade de São Vicente de Paulo, no local onde hoje se encontra a CIJU, passando pelo lançamento da Pedra Fundamental desse hospital e pela assistência conferida por párocos que nos antecederam, arcebispos e religiosos, a presença da Igreja Católica Apostólica Romana na história da Santa Casa é evidente e incontestável.
Em um momento crítico dessa Instituição, no início de década de 1960, devido à debilidade administrativa e financeira por que passava, prestes a fechar suas portas, o então arcebispo de Uberaba, Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, conseguiu com a Congregação Francesa de São José de Cluny que religiosas portuguesas viessem para administrá-la e dar a ela um sentido verdadeiro de casa de saúde e de organização.
Por um período de meio século, essa Congregação aí atuou, administrou-a diligentemente, dentro dos padrões exigidos e ofereceu conforto espiritual a milhares de pacientes no leito de dor ou de morte.
Em todas as construções, ampliações e melhoramentos recebidos por essa Santa Casa, destaca-se a participação da Igreja. Conforme consta em seus registros, o próprio arcebispo de Uberaba dedicava-se a acompanhar, em visitas, o andamento das obras e, ao final, vinha abençoá-las.
Em 1963, para abrigar as religiosas da Congregação de São José de Cluny, a comunidade católica sacramentana se mobilizou para construir-lhes abrigo. Ocorreu, segundo as memórias do ex-prefeito, Dr. José Alberto Bernardes Borges, vereador naquela época, o seguinte: o senhor seu pai, Alberto Marques Borges, construiu a capela e a sacristia; a senhora Sebastiana Dias doou o forro da capela (hoje substituído); o Senhor José Sebastião de Almeida, ex-prefeito,doou (com recursos próprios) todo o alicerce da clausura e o Senhor Ferrúcio Bonatti a construiu por completo, sendo que sua filha, Dona Aparecida Bonatti, mobiliou toda a clausura para uso das religiosas.
Vê-se assim, senhor Provedor, que todo esse conjunto de construções, constitui-se, desde sua origem, em espaço religioso, destinado ao serviço prestado pela Igreja e à devoção católica. Construído em terreno da Santa Casa, teve a anuência da direção da mesma, consciente de que reverteria em benefício geral.
Recentemente, a superiora da Congregação de São José de Cluny nos fez a entrega das chaves da Capela, por segurança, já que é um espaço sagrado e que ainda mantém o Santíssimo Sacramento.
Em conversa pessoal com Vossa Senhoria, ficou acertada a transferência total da capela para a Matriz-Basílica.
Porém, Senhor Provedor, meditando com mais prudência sobre o assunto, cheguei à conclusão de que não seria justo e nem de bom sinal seccionar o prédio, separando clausura e capela, já que estão no mesmo alicerce de construção e construídas para o mesmo fim. Acredito ser mais sensato e justo manter o bloco íntegro na sua finalidade, já que originalmente foi idealizado e edificado como complementos.
Isto posto, Senhor Provedor,
Venho solicitar a transferência do conjunto Capela-Clausura para a Matriz-Basílica do Santíssimo Sacramento Apresentado pelo Patrocínio de Maria, como guardiã da fé católica local, como paróquia que esteve presente em toda a história da Santa Casa local, como repositória dos anseios da população católica que um dia, no distante 1963, construiu esse conjunto de obras e que muito serviu à comunidade.
O que venho solicitar agora, em nome da população católica, em nome e memória dos benfeitores dessa construção, por razão de justiça, não é um “pagamento” pelo trabalho da Igreja na Santa Casa por quase um século, mas um RECONHECIMENTO de que concerne à Igreja local o uso do espaço sagrado (capela) e do ambiente religioso (clausura).
Cumpre-me esclarecer que no espaço sagrado pretendemos manter uma capela, um ambiente de piedade cristã. Em princípio, temos em mente a criação de um MEMORIAL PADRE VÍTOR, com peças, objetos religiosos e documentos desse Servo de Deus, filho desta cidade de Sacramento, mantendo o espaço e o altar para missas e atos litúrgicos. Considerando que a clausura é parte da capela, é o prolongamento necessário e útil dela, vamos nos empenhar para, num futuro próximo, alojar ali uma congregação religiosa que, como todas as demais que se instalaram em Sacramento, será de suma importância para a vida social do lugar. Os religiosos ou religiosas, além do serviço de guarda da capela, também haverão de servir a comunidade.
Esperando de Vossa Senhoria e demais membros da Diretoria a valiosa atenção e o pronto acolhimento deste pedido, pejado de Justiça, aguardo seu deferimento e a tramitação legal da transferência do citado imóvel para a Matriz-Basílica.
Atenciosamente,