Eles já são quase 900 na árvore genealógica levantada por um de seus descendentes, o engenheiro civil, Celso Bonatti, que tem Lenza só no sangue. Sua mãe, Celma é filha de Concheta Lenza, filha de Generoso Lenza... De todos esses Lenza espalhados Brasil afora, além daqueles que permaneceram na Itália, pouco mais de 10% estiveram no 1º Encontro dos Lenza em Sacramento. Segundo as descendentes, responsáveis pela organização do evento, Mariú Cerchi e Vânia Maria Bonatti, respectivamente, neta e bisneta de Generoso Lenza, mas que também não trazem o sobrenome Lenza, 117 descendentes de Antonio e Carmina, entre adultos, jovens e crianças estiveram na cidade no último final de semana, 28 e 29, para uma festa de confraternização. “- Podemos dizer que foi um encontro histórico, por ser a primeira vez que a família se encontrou em uma comemoração desde a chegada do primeiro descendente, Francesco Lenza, em 1893, em Sacramento”, comemorou Vaninha, reafirmando: “E foi um grande sucesso!!”. O encontro começou na sexta-feira, com um Chá da Tarde, no Samba Hotel. Momentos de reencontros e primeiros encontros, momentos de 'quem é quem', de abraços e emoções, momento de repetir várias vezes, 'piacere di conoscerti', sou tetraneto de Luigi”, “sou tataraneta de Maria Lucia...” No sábado, um almoço no Curral Eventos marcou a grande festa de confraternização com um lauto almoço, onde, claro, não faltou uma belíssima macarronada. O final de semana foi registrado também por muitas visitas à cidade, imagens colhidas dos poucos casarões preservados, dos históricos locais, hoje tão raros, por conta da perda da memória histórica da cidade, que não soube conservar, valorizar, tombar seus velhos casarões, suas calçadas e ruas de basalto rosa.. Como costumava dizer um italiano da família Recidive: “Sacramento, Sacramento, sempre storto! Tutto sbagliato!!”. Mas o registro afetivo permaneceu em cada um dos descentes que permaneceram na cidade. A festa se prolongou até o início da noite com muita música italiana, “anche brasiliano”, e por que não, “danza e tarantela”!!
Uma autêntica festa italiana, com muita conversa, regada a gestos e alegria e fotos, e fotos, e fotos... e “tanti abracci”.
O grupo da Família Lenza
De acordo com Vânia, a ideia nasceu a partir de uma visita do primo, Rogério Rabelo, a Sacramento. “Rogério, neto do Francesco, está pesquisando a família e na pesquisa ele focalizou o Triângulo Mineiro, localizou o Joãozinho (João Batista Lenza) em Uberaba e de lá vieram a Sacramento, onde tudo começou há mais de 100 anos. E a partir de então criamos o Grupo da Família”.
Mariú Cerchi que abraçou a coordenação com Vaninha, lembra que, “até então, Rogério não existia para nós e nós não existíamos para ele e aí ele ficou cada vez mais interessado em conhecer a família. Um dia, conversando com ele, dei a sugestão de realizarmos um encontro da Família Lenza e ele apoiou na hora. Liguei pra Vânia, que logo se prontificou: 'Festa, deixa comigo', ela disse, e hoje estamos abrindo o encontro”.
No mês de janeiro, dia 28, Vaninha criou o Grupo da Família. “Hoje temos no grupo mais de 120 Lenza e na árvore genealógica que meu irmão Celso e Rogério estão fazendo são mais de 300 descendentes”, ressalta Vânia revelando que pode ter mais parentes na Itália.
“- Entrei em contato com uma jovem, a Kiara e pelo que conversamos deve ser da nossa família. Ela é de Prepezzano, filha de Antônio Lenza, mas isso ainda há que ser comprovado. O pai dela vai pesquisar”, explica, destacando sua satisfação. “Eu não imaginava que tivesse essa dimensão, porque todos entraram numa afetividade muito grande, parecia que nós nos conhecíamos...”
Rogério pesquisa a família desde 2010
O médico Rogério Rabelo, tataraneto de Antonio e Carmina, bisneto de Francesco, neto de Antonio e filho de Itália, conforme diz, só tem Lenza no sangue. “Minha mãe, a filha mais velha de Antonio, se chamava Itália, que ganhou esse nome para homenagear o país de origem”, justifica, lembrando que era comum as famílias italianas batizarem seus filhos mais velhos com os nomes dos antecessores. “O avô de meu pai se chamava Francesco, o meu bisavô se chamava Antonio e assim se sucedia”, exemplifica, narrando o trabalho que vem fazendo.
“- Fui para a Itália, a primeira vez em 2010 para pesquisar as origens, depois voltei outras três vezes. Já na minha primeira visita me dei conta de que a família de meu bisavô, o Francesco, aquele que se mudara para Catalão e depois Ipameri, havia perdido contato com os que ficaram em Sacramento. Decidi que precisava encontrar a família, até que me encontrei com João Batista Lenza Filho, dentista em Brasília, que me falou de seu pai, Joãozinho Lenza, residente em Uberaba, onde estive. Depois de muita prosa, percebi que Joãozinho é a memória viva da família. Foi ele quem me trouxe a Sacramento pela primeira vez, a terra em que meu bisavô Francesco chegou em 1893”, conta, lembrando que se emocionou quando viu os túmulos dos tataravós, Antonio e Carmina, no cemitério da cidade.
“- Depois dessa visita a Sacramento, retornei à Itália para aprofundar as pesquisa e trouxe a certidão do nosso tataravô, Antonio, datada de 1839, e de sua esposa, Carmina, de 1846. E hoje estou conhecendo a maioria dos meus primos. Somos três irmãos e dois estamos aqui, mas dos descendentes do Francesco somos 30 descendentes neste encontro. E é uma alegria conhecer a família depois de 118 anos em que os primeiros Lenza chegaram ao Brasil”, reconhece.
Rogério, que nasceu em Ipameri (Goiás) é médico formado pela Universidade Federal de Goiás e radicado em São Paulo. “Aos 15 anos deixei Ipameri e fui para Goiânia e aos 23 vim para São Paulo, fazer carreira, depois fui para o Canadá. Sou meio migrante...”. Dr. Rogério possui MBA pela FIA/USP, Ph.D. pela USP e fellowship pós-doutorado em Operações e Gerenciamento de Laboratório Clínico pela McGill University, Canadá. Atualmente é diretor da holding Dal Ben Home Care & Senior Care, uma das principais empresas de assistência médica domiciliar do Brasil, e da Althea Clinic, pioneira em cuidados pós-agudos.
João Batista Lenza, o Joãozinho Lenza, é um dos descendentes de Generoso, o 4º filho de Antônio e Carmina. Aos 86 anos, no encontro, é um dos mais longevos, só perdendo para Auris, filha de Antonio, também neta de Generoso. Meu pai, Alfredo Lenza, foi o primogênito de Generoso e minha mãe, Conceição. Nasci em 1932, na casa do meu avô Generoso, onde é hoje a Escola Coronel José Afonso”.
Revelando a satisfação que foi conhecer Rogério, quando recebeu o convite do encontro, Joãozinho diz que estava realizando um antigo sonho. “Este encontro que está acontecendo é um sonho que eu sempre tive, o de reunir a família Lenza. Quando firmou a ideia do encontro, alguns queriam que fosse em Uberlândia, mas eu falei: “Alguns querem a reunião da família em Uberlândia, mas esse encontro só pode ser realizado em Sacramento, e assim foi, conforme o desejo da maioria, o que me deixou muito feliz, porque o umbigo de muitos Lenza está enterrado aqui”.
Joãozinho lembra quando conheceu Rogério. “Ele veio a Uberaba só para ouvir as histórias da família. Conversamos muito, relatei o que eu sabia e o levei a Sacramento para conhecer a terra mãe, da chegada da família ao Brasil. Fomos ao cemitério e mostrei pra ele a lápide dos nossos patriarcas, fomos à gruta dos Palhares e visitamos também a casa onde a bisavó dele, a Orsola, morou, no bairro Areão. Depois da morte de seu marido, o Francesco, em Ipameri, ela voltou para Sacramento”.
Segundo informações e pelas características, a casa deve ser a da chácara de Juvêncio Bizinoto. Outra informação de Joãozinho é de que Orsola teria chegado ao Brasil dois meses depois dos demais parentes. “Embora tivessem partido no mesmo dia, sua esposa estava em outro navio que se extraviou e foi parar nas costas da África...”, conta mais Joãozinho.
Heda Luzia Fraga Lenza é neta de Maria Lucia, a 3ª filha de Antonio e Carmina. E vai logo justificando o 'Luzia' no nome. “Por causa da pronúncia, 'Lutchia', aqui no Brasil passaram a chamar minha avó de Maria Luzia, e assim ficou. Mas na verdade é Lucia (em italiano, a tônica está no 'i'). Meu pai, Primo Lenza, filho de Maria Lucia, para homenagear a esposa, minha mãe, Ieda Fraga, me batizou como Heda Luzia. E aqui estou eu na festa da família”, contou emocionadíssima, às lágrimas, da alegria de participar do encontro.
“Muita, muita felicidade, foi uma emoção muito grande saber deste encontro. Perdi meu pai em 2008 e quão feliz ele não estaria aqui hoje. Estive algumas vezes com ele em Sacramento, mas faz tempo. Na sua última visita eu tinha 15 anos, ele voltou outras vezes, depois foi ficando mais velho e deixou de vir, mas eu estou retornando agora. Estou muito feliz e emocionada, é muita gente nova pra conhecer”, recorda Heda.
Primo era médico obstetra, e a filha Heda e o irmão, Geovanne (professor de Obstetrícia na UFRJ) seguiram na mesma profissão. “Sinto muita falta da convivência com papai, trabalhamos juntos durante muitos anos, não faço nem ideia de quantas crianças nasceram por nossas mãos, ele me ensinou muito. Falava da família em Sacramento com muito amor”.
Heda é militar da reserva da Marinha Brasileira, como Capitã de Mar e Guerra, desde 2008, ano em que seu pai faleceu. Aposentou-se em junho último como médica obstetra do Hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Vladimir Lenza, nos seus belos 70 anos, demonstrou muita alegria ao falar da família Lenza, em especial dos parentes que ainda residem em Sacramento, pois como vendedor sempre passava pela cidade e não perdia oportunidade para visita-los.
“Sou neto de Luigi, o 5º filho de Antonio e Carmina, e filho de Leolina Lenza. Sempre teve contato com os Lenza de Sacramento. “Tio Generoso, irmão de meu avô Luigi, sempre morou em Sacramento. Sempre tive contato com todos, era uma família grande. E hoje conheci pessoas que nem imaginava conhecer. É gente de mamando a caducando, tem gente da quarta, quinta geração.
Expressando sua alegria, Wladimir completa: “É muito gratificante, uma alegria indescritível, a gente se renova em ver pessoas que têm a mesma origem. Eu pensava que esse sentimento havia acabado, mas eu percebo que estava enganado. Como ele está vivo e presente neste encontro, reascendeu... A gente ver a árvore genealógica, é uma emoção, conhecer nossos antepassados. Dá vontade de a gente ir à Itália. Foi uma grande ideia reunir a família, e espero que este seja apenas o primeiro encontro de muitos”.
Filho único, Wladimir é aposentado depois de trabalhar 30 anos como vendedor. Divorciado, é pai de uma filha, Ana Paula, que está concluindo especialização na área de Enfermagem e pretende ir para a Itália e para isso tanto ela quanto o pai já têm cidadania italiana.
Nenhum descendente de Michelle (pronuncia-se Mikeli) compareceu ao encontro. De acordo com os organizadores, um dos descendentes que estava vindo, passou mal e teve de ser internado em Ribeirão Preto.
Árvore tem quase 800 Lenza
Celso Bonatti é o autor da árvore genealógica da família e explica como tudo começou e a dimensão que tomou.
“- Na verdade essa árvore começou quando minha avó Concheta (filha de Generoso), a Nona, morreu e eu sempre fui muito ligado a ela e, senti necessidade de procurar as raízes. Fui para a internet e recebi informações da Itália e comecei a pesquisar. Até um ano atrás já contava com 250 pessoas, mas resolvi parar, porque é uma pesquisa difícil de fazer’’, relata, até que chegou Rogério.
‘‘- E aí apareceu o Rogério, quando veio a ideia do encontro, o que é muito bom, porque não tínhamos contato com outros Lenza, a não ser os de Uberaba e de Ribeirão Preto. E com a notícia do encontro, começou a 'chover' Lenza pra todo lado, muita informação, então resolvi retomar a árvore, que saltou em um mês de 250 para 780. E já estamos na quinta geração de Antonio e Carmina, que chegaram ao Brasil em 1900”.
Celso que é engenheiro civil, formado pela UFU, reside em Brasília desde 1979 e trabalha na “Nova Cap”, empresa estatal criada por Juscelino Kubitsceck em 1956 para a construção de Brasília. Hoje, como empresa independente é a responsável pela manutenção dos jardins, praças, enfim áreas verdes, pavimentação, monumentos da cidade.
Para o desembargador aposentado, Sérgio Antonio Rezende, neto de Generoso Lenza, filho de Dozolina (Vigilato), o encontro foi emocionante. “Dos descendentes de Generoso há pessoas que há 30, 40 anos eu não via, porque cada um seguiu seu caminho e quantos fiquei conhecendo hoje, que nem sabia que existiam. Nunca pensei que fossem reunir tantos Lenza assim e a tendência é aumentar nos próximo encontros”, afirma.
Esses laços agora vão se estreitar...
Para Vânia Maria Bonatti, o encontro superou a expectativa. “Foi maravilhoso, mas o que chama a atenção é que 80% das pessoas que estão aqui não se conheciam e o afeto que rolou foi muito legal, parece que nos conhecíamos a vida toda e já queremos definir hoje, onde e quando será o segundo encontro”, avalia, completada por Mariú:
“- Na verdade, começamos este movimento com a certeza de que daria certo, mas não sabíamos da extensão que teria, a adesão que teve até na última hora. E isso é muito emocionante, a cada inscrição, Vaninha e eu quase arrebentávamos de alegria. A afetuosidade entre todos é muito grande e esses laços agora vão se estreitar”.