Uma manifestação pacífica organizada pelos próprios estudantes, que contou com o apoio do Sind-UTE, professores da rede estadual da ativa e aposentados, alunos da Apae e apoio também de escolas privadas como CNA e Colégio Rousseau saiu às ruas às 8h da manhã dessa quinta-feira 21 para reivindicar ao Governo do Estado o pagamento do salário atrasado dos tabalhadores da educação do estado e o fim do parcelamento, que se arrasta desde 2016.
A iniciativa na verdade nasceu de quatro alunas da Escola Estadual Coronel José Afonso de Almeida, Nadia Caroline dos Anjos, Luana Camila Monteiro, Vitória Silveira de Oliveira e Heloisa Manzan Florêncio, todas do terceiro ano do Ensino Médio.
“- Nós resolvemos tomar essa atitude, porque estamos vendo que nossos professores estão lutando, mas não estão sendo ouvidos. Decidimos abraçar a causa deles, porque a causa deles é a nossa causa. Os professores sendo afetados, nós, alunos, também o somos diretamente e com muita força. Então decidimos fazer este movimento para mostrar ao Governador que temos voz, queremos os nossos direitos e os direitos dos nossos professores também”, afirma Nádia, com Luana completando:
“- Estamos vendo isso já tem um bom tempo. Nossos professores não estão tendo direito a nada, em relação a outros países, o salário que os professores recebem no Brasil é nada. Isso tem que mudar. Não bastasse isso, o que já é uma mixaria o que ganham, ainda mais parcelando e não pagando. É um absurdo isso que o governo está fazendo. Querendo ou não, isso afeta também a gente, os vestibulares, o Enem estão aí e teremos que fazer, porque eles não vão adiar”, denuncia.
Vitória compartilha o pensament “Com aula ou sem aula, no final do ano tem Enem, tem vestibular, eles não esperam. Então, essa luta é de todo mundo, porque todos têm um filho, um parente na escola. Ninguém é nada sem educação, então essa causa é nossa, por isso a abraçamos”, afirma. E Heloísa finaliza, destacando:
“- Acredito que nenhum país desenvolvido chegou onde está, sem antes passar pela educação. Esperamos melhoria no nosso país, mas estamos pensando agora no nosso Estado, que está numa situação precária, especialmente em relação aos professores, o que reflete diretamente na escola. Então, os estudantes também resolvemos acordar para sensibilizar a sociedade a aderir à causa para nos ajudar, não só a nós, mas a toda comunidade escolar de Minas Gerais que está passando por situações precárias”.
A professora de História, Maria Amélia Alcântara e Oliveira, juntos aos estudantes fala do sentimento de solidariedade dos seus alunos. “Para mim, este momento é histórico, é a plenitude da democracia. Eu, enquanto professora, na nossa labuta diária, é essa consciência que sempre quis formar. É o conteúdo, sim, mostrando que a história é cíclica e que nós estamos vivendo um novo ciclo, um ciclo de tomada de decisão e posição. Temos que mudar, sim, o nosso Brasil e é com essa postura que acredito, vamos ver novamente transformação”, afirma, justificando a roupa preta usada pelos professores.
“- Este luto é um protesto em todas as esferas da educação. Apoio à educação não é carteira nova, não é pintura de prédio, não é comida... Educação é muito mais que isso. Enquanto política, falta a valorização do profissional em todas as esferas, são planos que nos chegam e que somos obrigados a cumprir nas escolas, são teorias elaboradas por pessoas que nunca estiveram numa sala de aula, isto é, não sabem a arte de educação, aí mandam tudo pronto e temos que seguir, então esse luto é contra tudo isso”, frisou.
O professor Joaquim Oliveira, acompanhando os estudantes do Colégio Rousseau em apoio aos professores em relação ao descaso do Governo com a classe também justifica o apoio da rede particular ao movimento. “Conversamos com os alunos, que antes de tudo, isso é um ato de cidadania, é uma reclamação por um direito da sociedade de ter educação de qualidade. Mostramos que seus pais pagam impostos, contribuem para que a educação, a saúde sejam de qualidade e isso é dever do Estado e, se isso não está sendo cumprido. Os estudantes, como cidadãos, apesar de não usufruírem da escola pública, também devem reclamar, para que toda sociedade tenha qualidade nesse serviço”, afirmou.
Entendendo a situação dos servidores da Educação
Desde fevereiro de 2016, o Governo de Minas vem parcelando os salários dos servidores da Educação em até três parcelas: a primeira integral para quem ganha até R$ 3 mil; a segunda para quem ganha entre R$ 3 a R$ 6 mil e a terceira para que ganha acima de R$ 6 mil.
Mas o parcelamento que, segundo o governo, seria temporário, se arrasta há mais de dois anos, inclusive em relação ao 13º salário, que enquanto outros setores do Estado receberam em duas parcelas, dezembro e janeiro, a Educação recebeu em quatro, de janeiro a abril.
Ao longos dos meses, a primeira parcela que era paga entre o quinto e 8º dia útil foi ganhando distância. Só a título de exemplo, a primeira parcela de maio (folha de abril) só foi paga no dia 16; a segunda no dia 25 e a terceira no dia 30, sendo as duas últimas pagas com atraso.
Para este mês, conforme calendário divulgado no dia 5 de junho, a primeira parcela seria paga no dia 13; a segunda, dia 25 e a terceira, 29. Mas, até a tarde da última sexta-feira 15, nenhum servidor da Educação havia recebido um tostão sequer. Só à noite o dinheiro caiu na conta, mas apenas a metade da primeira parcela, R$ 1.500,00 para os servidores ativos.
Na segunda-feira, 18, o Governo soltou nota que quitaria a primeira parcela na terça-feira 19. E de fato pagou mais R$ 500,00 para os servidores ativos, e para os aposentados, nada. E, não há previsão.
Na quarta-feira 20, o Jornal Estado de Minas, mancheteia: “Governo de MG afirma que pagou restante da 1ª parcela dos servidores que estava em atraso”, seguida da síntese, “Valor para inativos segue sem data para ser pago, segundo informou a Secretaria de Estado da Fazenda”.
A justificativa é que dificuldades em caixa ocasionaram o não cumprimento do calendário inicial, divulgado no início do mês. No entanto, sobre os servidores aposentados ainda não há previsão de quando o restante da parcela fracionada será paga. “Em relação aos valores restantes da primeira parcela de parte dos servidores inativos, os depósitos serão feitos tão logo o fluxo de caixa do Tesouro Estadual seja normalizado”, informou a Fazenda.
Estava previsto o depósito de mil reais para os aposentados, dia 19, mas apenas R$ 500 foram transferidos para as contas dos servidores. Em nota à imprensa, divulgada na semana passada, a pasta informou que o pagamento da segunda parcela, prevista para 25 de junho, está mantida. (...).