Ao abrir a cerimônia, Iracy Batista de Almeida Calil, emocionou-se ao lembrar que, após a morte da irmã, Nizinha foi convidada para assumir o seu lugar na mesa dos trabalhos, mas não aceitou. “Diante de sua humildade evangélica, ela se negou, afirmando que continuaria ali no seu cantinho. E assim, por mais de 50 anos, ali permaneceu, recebendo de todos o olhar e a saudação tão logo adentravam à sala. No seu silêncio negava-se sempre a qualquer homenagem”, lembrou Iracy com a voz embargada, citando outra passagem.
“Quando completou seus belos 80 anos, o próprio pessoal nos cobrou. 'Ela merece outra festa, como a da Tia Heigorina'. Não é que, ao saber, fez chantagem emocional conosco. Eu mesma, brincando, lhe disse isso. Mas ao saber da surpresa, nos respondeu: 'Olha, se vocês fizerem uma festa igual a da Heigorina, eu me mudo para o Paraná', onde reside sua irmã Ionete. Essa era a Tia Nizinha. Amava a simplicidade. Gostava do arroz e feijão”, afirma a amiga, recordando seu último pedido.
“- No final do ano, quando já estava bastante debilitada, ela nos chamou e pediu: 'Peço a vocês, encarecidamente, que continuem o trabalho do Culto das 9 Horas. E que continue da mesma forma, na mesma simplicidade, sem novidades...' Então, ela era, realmente, amiga da simplicidade”, lembrou.
Iracy concluiu com doces palavras de agradecimento. “Nestas últimas homenagens, Tia Nizinha, não temos palavras, a não ser nossa eterna gratidão, por tudo o que você nos passou. Agradecemos por tudo o que presenciamos nesses últimos dias. Somente um coração cheio de amor como o seu poderia realizar tantas coisas maravilhosas. Nós te agradecemos por esses exemplos de amor, de perseverança, de firmeza, de constância e de fé”.
Após a leitura de um poema de Santo Agostinho, 'A morte não é nada', pela sobrinha Sheilla Cunha Bessa, de Arapongas (PR), e a canção, Deus, cuja letra é de Chico Xavier, entoada pelo coral da Chácara, a escritora Alzira Bessa França Amui, proferiu uma mensagem carregada também de sentimentos, em nome do Grupo Espírita Esperança e Caridade.
Nizinha foi uma completista
Alzira iniciou sua homenagem lembrando os momentos felizes de sua infância com Tia Nizinha, como “a trabalhadora da última hora, da primeira hora e a trabalhadora de todas as horas. Conhecemos em Tia Nizinha um espírito sério, uma postura de dignidade, um silêncio grandioso, um trabalho operoso que, jamais, todos aqueles que estivessem próximos dela, pudessem sentir o valor sublime que ela edificou nesta existência, em especial, no campo da humildade e da simplicidade”.
Alzira enalteceu o seu trabalho desmedido e sempre atento. “Tia Nizinha sempre esteve a postos, sempre atendendo aos convites. Jovem, dirigiu por muitos anos, o Colégio Allan Kardec junto com Corina Novelino. Ali, muito prestimosa, só veio a deixar o trabalho, quando Tio Ataliba, seu pai, adoeceu”, lembrou, ressaltando o legado que deixava.
“Hoje, apesar das lágrimas serem lágrimas de sentimentos, eu me sinto feliz pela convivência, sinto a libélula que usou de todos os seus esforços e se libertou... E tenho a certeza de que se libertou de alegria, porque ela leva consigo uma tarefa cumprida. Tia Nizinha permanecerá no pensamento de todos que receberam dela a força do exemplo, a semeadura. E neste momento, podemos repetir-lhe suas próprias palavras. Quem não se lembra das frases que sempre dizia ao se despedir:
'Vai com Deus, minha filha. Deus te dê forças'. Esse é o cumprimento da tarefa daqueles que amam, daqueles que compreendem que a vinha do Senhor precisa de muitos trabalhadores. Nas palavras de André Luiz, Tia Nizinha foi 'uma completista', uma completista em todo o sentido. E tenho certeza de que esse amor há de sustentá-la nessa hora em que chega ao mundo espiritual, regozijando-se de alegria, por tudo aquilo que tanto fez”.
Nizinha foi a ética em pessoa
Citando as palavras do apóstolo, Paulo de Tarso, tirada de uma de suas epístolas ao povo de Corinto, Carlos Alberto Pogetti, que nos últimos anos teve uma convivência mais próxima com Nizinha, proferiu também uma bela mensagem de despedida à amiga.
'Morte, ó morte, onde está tua vitória. Onde está o teu aguilhão? Tragada foi a morte da vitória...', citou, questionando: “Por que a Nizinha?”. E respondeu, na sua sábia eloquência, tecendo uma mensagem de amor e ternura à amiga querida.
“ - Porque ela soube, sem sombras de dúvidas de todos aqueles que desfrutaram de sua convivência, traduzir ao longo de sua vida, da infância, adolescência, juventude, de sua madureza e de sua decrepitude, de bons exemplos de vida. Nizinha soube cumprir os sagrados prismas dos deveres, éticos, sociais, morais e espirituais... Ó morte, ó morte, onde está tua vitória?”.
Foi mais profundo o orador, quando fez uma singela comparação: “Se fôssemos rotular Tia Nizinha em termos de uma expressão, uma frase, que pudesse ficar no frontispício da mente de todos nós ou dela mesma, diríamos: 'Nizinha foi a Ética em pessoa'.
Em outro momento de sua homenagem, ao fundamentar o conceito ético na amiga, o professor afirmou: “Quanto silêncio não fez essa criatura para cumprir os seus deveres. Um silêncio de corpo físico, um silêncio de emoções... Ela realizava em si mesma uma alimentação frugal para poder manter no bojo de sua alma, nos decoros de seu pensamento a energia que lhe faria mister para transcender os ócios da vida e o silêncio das emoções”. E concluiu: É esta a lição: 'Felizes os que calam as suas perplexidades, os seus melindres, os que deixam de se sentir ofendidos para que a obra não sofra”.
Pogetti faz por fim uma ressalva, lembrando suas horas de estudo. “Nizinha tinha esse silêncio, mas era uma ledora, não uma inveterada, mas sabia ter os seus horários de leitura e de reflexão sobre esses princípios, para formar o seu caráter, que estava fundamentado numa filosofia de vida. Como se fez Jesus para a posteridade com sua filosofia de vida, assim foi Nizinha... pensava com o pensamento do Cristo”.
Outros oradores também deixaram a sua mensagem: Emmanuel Alves da Silva, de Conquista, Maria Luiza Bozo, de Lençóis Paulista - SP, Edina Aparecida Pontes Devós, Nelcíria D´Arc Florêncio e Ismael, de Jacareí – SP.
Ás 11h00 de uma manhã de sábado, muito bonita, foi transportada pelo carro fúnebre até à porta do Cemitério de São Francisco de Assis, e dali carregada pelos familiares, amigos e amigas que acompanharam o enterro, até o jazigo da família, onde foi sepultada, ao som das já saudosas e emocionadas vozes do Coral.
Na Chácara, também os belos flamboyant, demonstrando sua tristeza, estavam sem flores...