Catadores de materiais recicláveis de Sacramento reuniram-se no Centro de Apoio ao Produtor Rural Anésio Gonçalves, nessa quarta-feira 16 para uma rodada de palestras abordando os temas reciclagem, cooperativismo e seus benefícios, ministrada por integrantes da Cooperativa Recicladora de Uberaba (COOPERU), a convite do Consórcio da Usina Hidrelétrica de Igarapava em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do município.
O secretário de Meio Ambiente, Marinho Martins Severino II, em entrevista ao ET, falou da iniciativa de criar o espaço para ouvir e falar aos catadores de materiais recicláveis de Sacramento, que fazem parte de um cooperativa, ainda em fase de regularização.
“Reunimos os catadores para vivenciarem e trocarem experiências e para isso trouxemos, em parceria com o Consórcio da Usina Hidrelétrica de Igarapava, o pessoal da Cooperu (Cooperativa Recicladora de Uberaba), que tem uma história de sucesso pelos longos anos de trabalho com reciclagem apresentando resultados muito positivos. Através de sua experiência bem sucedida, repassada aos nossos catadores de lixo reciclável, vai somar conhecimento. Enfim, nosso objetivo é que eles estimulem os nossos catadores a se unirem, se fortalecerem e também trabalharem em cooperativa e verem quantos benefícios terão se unirem ao invés de trabalharem sozinhos, justificou.
Marinho quer também unir, não apenas os recicladores que trabalham no lixão, mas os autônomos da cidade, aqueles que recolhem esse tipo de material com seus carros, e carrocinhas. “Penso que é também do interesse deles, assim como do interesse das autoridades constituídas do governo, do Legislativo, do Judiciário, da ACE, porque queremos interagir os catadores com a comunidade, para que possamos alavancar a cooperativa em nossa cidade, para, inclusive darmos uma melhor qualidade de vida para essas pessoas”, frisou.
Ainda de acordo com Marinho, até o momento, a Prefeitura, através da Secretaria de Meio Ambiente vem prestando seu apoio para a regularização da cooperativa e atendendo naquilo que é possível. “A Prefeitura cedeu o espaço onde funciona a usina de reciclagem no antigo lixão, dá todo o suporte de transporte, cede alguns equipamentos de segurança e doa também cestas básicas até se fortalecerem”, informa, lamentando a depredação ocorrida com as máquinas no Lixão.
“- Infelizmente, a prensa e a máquina de esteira que funcionavam no Lixão foram sucateadas. Agora estamos readequando o local para que possam trabalhar em condições humanas, existindo ainda a possibilidade de colocarmos um guarda.”
“Chegamos à estaca zero e agora estamos recomeçando...
Gilmar Nunes Correa, presidente em exercício da Associação dos Catadores de Lixo de Sacramento - ACLS, (nome ainda não definido), que participou do evento com outros 11 membros, destacou a importância da reunião. “Olha, estamos iniciando do zero, então é hora de buscar o apoio que tínhamos do prefeito Baguá, na sua primeira gestão, e da Usina.
Com a troca de prefeito, perdemos o apoio e não conseguimos continuar sem o apoio da Prefeitura e chegamos à estaca zero, e agora estamos recomeçando. Então, é muito importante essa reunião para nós, porque tem gente ali que não sabe fazer outra coisa a não ser separar lixo. Eu mesmo, estou ali desde os dez anos, não tenho estudo, não tenho profissão e vivo daquilo ali, e como eu são muitos”, avalia, explicando o que aconteceu.
“- Não sou contra a Usina ter saído, porque nós saímos e o pessoal que entrou lá não fez as coisas corretas. A Usina apoiava, ajudava, nos dava até o café da manhã, mas tínhamos normas a seguir. Hoje não temos nada disso, e estamos novamente buscando esse apoio. Queremos fazer ali uma coisa modelo, bem arrumada, limpa, bem cuidada esse é o nosso sonho”, enfatiza, destacando também as orientações que iriam receber. “A gente aprende é no dia a dia, não adianta eu pensar que sou um sábio, que sei tudo sobre lixo, porque eu não sou, eu ainda estou engatinhando, tem muita gente bem melhor à nossa frente” reconheceu.
Lamentando a coleta do lixo seco ser feita apenas num dia da semana, Gilmar revela que dos 14 separadores de lixo do Lixão, 11 participaram do encontro, “É pena que o lixo seco seja recolhido só na sexta-feira. Com isso, a população vai misturando tudo de segunda a quinta-feira. Por isso, só trabalhamos na sexta, sábado e terminamos na segunda pra fechar”, afirma, lamentando também a falta de consciência da população. Infelizmente, grande parte da população não tem a consciência de separar os tipos de lixo, ela mistura tudo, reciclável com húmido, seco...”.
O fato dos moradores misturarem os vários tipos de material, segundo Gilmar, estraga o lixo reaproveitável. “Tem muita gente ainda que bota cachorro morto, gato morto, qualquer bicho morto no lixo, misturado com restos de comida, até seringas de injeção, lixo de banheiros, fraldas descartáveis, absorventes. Infelizmente, a população ainda não se conscientizou da separação do lixo. Sabemos que a Prefeitura faz campanha, mas o povo ainda não se conscientizou”, lamenta.
O trabalho feito nas atuais condições do Lixão rende muito pouco aos separadores do lixo. “Tem mês que ganhamos R$ 400, R$ 500”, revela Gilmar, reivindicando os três equipamentos sucateados, uma esteira por onde passa o lixo para a separação, um pequeno trator e uma prensa, e acrescenta ainda um guindaste pequeno para levantar os fardos prensados. “Isso tudo existia lá, mas quando saímos, os que entraram sumiram com tudo”, reclama.
José Eustáquio de Oliveira, diretor financeiro da Cooperativa Recicladora de Uberaba, foi um dos palestrantes do dia. Acompanhado do tecnólogo Mário Lúcio Cardoso, José Eustáquio, responsável pela gestão da Cooperu, em relação às compras, vendas, organização de rotas e do pátio, disse ao ET que sentiu um grande interesse nos catadores da cidade em se organizarem.
“- Percebi neles um interesse muito grande de trabalhar a questão da reciclagem e dar a destinação correta. A Cooperu trabalha em rede com diversas cooperativas do Triângulo. Só não havíamos procurado parceria em Sacramento, porque os catadores da cidade ainda não legalizaram sua cooperaiva. A partir de agora, há essa possibilidade de parceria de prestação de serviços, até na criação da cooperativa e naquilo que for necessário. Queremos ajudar a juntar mais gente em defesa do meio ambiente”
Clube do Tiro é um dos parceiros dos catadores de Sacramento
Presente à reunião como convidado, Oswaldo Vasques Bruno há quatro anos vem dando apoio à cooperativa de Sacramento, através do Clube de Tiro de Uberaba, do qual é associado. “Estou aqui hoje, em nome do Clube a que pertenço, para me inteirar do trabalho que está sendo realizado e para agradecer pela parceria que temos com a cooperativa local”, destaca, informando que o Clube de Tiro de Uberaba é único no Brasil e no mundo nessa iniciativa. “Estamos na vanguarda e isso é raro”, reconhece, se propondo a ajudar a cooperativa. Inclusive, na intermediação para conseguir essas três máquinas de que tanto precisam, para continuarem esse trabalho, que é de grande impacto para a preservação ambiental”, elogia, informando que o trabalho que o clube de Uberaba realiza é elogiado pelo Exército Brasileiro. “Nosso balanço anual, mostrando o projeto de reciclagem que temos, é elogiado pelo Exército em vista de ser um esporte olímpico de baixo impacto ambiental”, finaliza.
Incentivo e valorização
Joelma Mendes Gomes, analista sócio ambiental do Consórcio da Usina Hidrelétrica de Igarapava, parceira da cidade em projetos ecológicos há vários anos, em entrevista ao ET, destacou o papel do consórcio na reformulação da Cooperativa e na possibilidade de continuar prestando seu apoio.
“- A mensagem que estamos trazendo aos catadores de lixo reciclável de Sacramento é de incentivo e de valorização do trabalho que estão realizando. É também de confiança no trabalho deles, que é muito importante não só para a natureza, mas também para a sociedade. Eles desempenham um papel primordial, fazem um trabalho de grande valor social e ambiental”, reconheceu, informando que o Consórcio está à disposição para auxiliar, principalmente no sentido de sua profissionalização, seu crescimento e que consigam andar sozinhos, como uma empresa auto sustentável”.
Joelma lembra que desde o início o Consórcio vem apoiando o trabalho dos catadores, desde a primeira gestão do prefeito Wesley. “Quando a cooperativa se desfez, tivemos que dar uma parada, mas agora retomamos esse trabalho de educação ambiental pela sua importância e para o fortalecimento do grupo”, explica, ressaltando que esse apoio está junto com a coleta seletiva do município.
“- A coleta seletiva precisa estar bem estruturada para podermos trabalhar junto aos catadores, isto é, a excelência do trabalho deles e seu bom resultado está estritamente ligado à eficiência da coleta seletiva”.