Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

25 Folias de Reis participaram do 30º Encontro

Edição nº 1624 - 25 de Maio de 2018

O domingo, 20 de maio foi de frio, muito frio, mas também muito calor humano, animação, com mais de 3 mil simpatizantes e devotos indo reverenciar os Santos Reis e apreciar a cantoria de 25 folias de Araxá, Guará, Ibiá, Igarapava, Nova Ponte, Pedrinópolis, Perdizinha, Ponte Alta, Santa Juliana, Santa Rosa, Serra da Canastra, Tapira,  Uberaba e Sacramento. 

Conforme tradição, o Encontro iniciou-se com a missa, às 8h, presidida pelo vigário paroquial, Pe. Edney de Freitas e abrilhantada pelo coral coordenado por Cacildo Afonso, que cantou a Missa Sertaneja, em bonita e animada celebração. Logo após a missa, apresentação da Orquestra de Viola de Sacramento, regida pelo jovem Augusto dos Santos Gomide, e seu coral. Na avaliação dos organizadores, a chuva do sábado e o frio intenso no sábado e domingo atrapalharam a vinda de mais folias.  

 Antônio Claret Scalon, Polaco, é o presidente da Associação até o final do ano e, desde que sua saúde começou a ficar comprometida, ele passou a contar com a ajuda da esposa, Maria Valéria Schiffini Silva Scalon, que há três anos assumiu a coordenação do evento ao lado dos demais diretores. 

“- Foi mais um desafio, muito difícil... Houve momentos em que achei que não iríamos conseguir realizar o encontro, especialmente por conta da obrigação de atualizar e colocar em dia toda a documentação e correr contra o tempo, além do gasto para regularizar tudo. Mas conseguimos, e deixo aqui os agradecimento a todos que estão conosco, voluntários, diretores e as folias que vieram da cidade e de fora, contribuindo todos para a beleza desse 30º encontro, que vai ficar na história.

 Ao agradecer, Valéria, que deixa esse ano a coordenação, quando Polaco entrega no final do ano a direção da Associação das Folias de Reis de Sacramento ao novo presidente, João Pereira dos Reis, eleito em janeiro último, após expressar seu agradecimento faz um pedido: 

“Peço que não deixem essa tradição acabar, é um evento muito bonito em que sentimos a presença de Deus, trazendo a todos uma energia muito boa, e isso não pode acabar. Hoje, a maioria dos foliões, dos capitães, dos diretores são pessoas idosas, alguns doentes... É preciso que passem essa tradição aos seus filhos para renovar sempre, para que os jovens assumam essa responsabilidade para dar continuidade”, afirma, ao lado do marido Polaco, que assiste emocionado, numa cadeira de rodas, cada momento do Encontro e ainda atento aos detalhes.

 

“- Ele fala e eu faço - diz Valéria - Graças a Deus entendo tudo o que ele fala. O polaco está lúcido e com uma memória prodigiosa. Veja que ontem (sábado), à tarde, ele pediu pra eu ligar para o cozinheiro Luizmar. 'Liga pra ele, que eu aposto que ele esqueceu o caldo knorr'. Pois não é que eu liguei e ele havia esquecido mesmo”, relata a esposa, reconhecendo também sua emoção. “Estou muito emocionada por ver a emoção dele, mas graças a Deus tudo deu certo”.  

 

“Essa é um tradição que perpetua na nossa história

Filho de casal fazendeiro, o prefeito Wesley De Santi de Melo aprendeu desde cedo com os pais católicos a demonstrar sua devoção aos Santos Reis, o que o levou, não apenas como prefeito, mas como devoto, sempre estar presente na missa de abertura dos encontros. 

“- Não estou cumprindo aqui um ato oficial. Aliás, também por essa causa, pois fui convidado pela Associação, mas principalmente para cumprir uma devoção que trago desde criança, herança de meus pais e avós paternos. Independente de cargo ou não sempre estive aqui e venho pela fé que carrego comigo. E este ano não foi diferente”, justifica em entrevista ao ET, exaltando a tradição e falando como prefeito.

“- São 30 anos, três décadas é muito tempo. Essa é uma tradição que perpetua na nossa história e nós governantes temos que dar total apoio, porque essa é uma cultura que está desaparecendo, mas nós não podemos deixá-la acabar. E especialmente hoje, ao celebrarmos o 30º Encontro, estamos assinalando um marco histórico para nós e para a cidade”, disse, na sua mensagem de abertura, parabenizando os organizadores. “Em seu nome, Polaco, quero parabenizar a todos por tudo que vocês vêm realizando em prol dessa cultura”.

 

 Além da subvenção de R$ 17.500,00, a Prefeitura foi parceira na limpeza do parque na montagem da estrutura.

 

Luizmar, há 28 cozinhando nas festas

Luizmar Fernandes da Silva, mais uma vez coordenou a cozinha nos preparativos para o almoço com uma equipe de 34 cozinheiros. “São 30 anos de tradição do encontro dos quais 18 estou cozinhando. Além do almoço, fizemos também o café da manhã. Não me considero o 'Chefe da Cozinha', somos, na verdade, uma grande equipe, eu me considero um companheiro, um parceiro, porque somos uma irmandade, trabalhamos em comunidade com cada um cuidando de sua panela”, explica, dando lição de como deve trabalhar um líder.

Devoto dos Santos Reis desde criança, Luizmar aprendeu a cozinhar ainda muito novo, mas a cantoria veio primeiro. Recorda que começou com 'aqueles gritinhos da sexta voz'.  “Desde menino gostava de folias de Reis, comecei cantar com nove anos, era muito moleque ainda, não tinha nem voz, mas pedi pro capitão se podia dar aquele gritinho lá atrás e ele deixou. E não parei mais de cantar folia. Mas comecei a cozinhar muito novo também”, recorda. 

Diz Luizmar que sua primeira 'chefe' de cozinha foi Da. Mindinha. “A primeira vez na cozinha foi com a dona Mindinha, do João Moicana, há 28 anos, numa festa do Zé Pereira, lá nos Bráulios. Ela estava na bica lavando os pratos, que não eram descartáveis como hoje, eram de louça. E ela me chamou (diz imitando a voz de Da. Mindinha): “ 'Mininu', me ajuda aqui, mas não deixa quebrar, não, heim!”. E eu fui enxaguando e ela cantando Capelinha Branca: 'Capelinha branca, na cruz de ferro que tem na frente/ está pregando um inocente/ que deu a vida pra nos salvar...'. Eu tinha 11 ano e lembro-me como se fosse hoje e me apaixonei pela cozinha”, revela. Nas Folias de Reis Luizmar toca violão, caixa, pandeiro e agora está aprendendo a viola. 

O cardápio do almoço foi composto de arroz, tutu, polenta, macarronada, almôndegas e batata. “Fizemos oito mil almôndegas, com 480 kg de carne moída, além disso, cozinhamos 300 quilos de arroz, 120 kg de feijão, 200 kg de macarrão, oito sacos de batata,  cinco sacos de cebola, 120 litros de óleo e ainda tem a farinha, o sal, o extrato de tomate,  queijo, temperos diversos... enfim é comida para muita gente. Isso é bom demais e agradecemos muito a Santos Reis, por essa nossa união”, reconhece.

 No parque, o ET conversou com o capitão José Ramos da Folia de Reis, de Ibiá. “Há muitos anos participamos aqui, graças a Deus. O povo nos recebe muito bem e é um encontro muito bonito, muita fé, muita devoção. A gente fica muito feliz e agradecido”, afirma, destacando que sua companhia existe há 59 anos e ele é capitão há 39. Ibiá realiza o encontro no primeiro domingo de agosto. 

Osmar Rezende é o capitão da Folia de Reis São Vicente de Paulo, de Sacramento, grupo  fundado há 50 anos, pelo seu pai, José Rezende da Silva. “Desde criança eu acompanhava meu pai nas folias, até que ele fundou essa e pedia pra não deixar acabar e estou aí tentando renovar, porque como o meu pai, muitos dos antigos já foram. Eu já estou com 70 anos e a gente tem medo de não dar conta de segurar”, comenta 

De acordo com Rezende o grupo, além de participar de encontros na região, faz entregas (cantam) nas festas a convite dos festeiros. “Antigamente, folia de Reis era do 25 de dezembro a 6 de janeiro, mas hoje não tem época, fazem festa o ano inteiro”. 

 

O que são as Folias de Reis

A Folia de Reis, Reisado, ou Festa de Santos Reis é uma manifestação cultural religiosa festiva e classificada, praticada pelos católicos e simpatizantes com o objetivo de rememorar a atitude dos Três Reis Magos, Belchior, Baltazar e Gaspar, comemorados em 6 de janeiro, (festa denominada de Epifania na liturgia católica), que partiram em uma jornada à procura do esconderijo do Prometido Messias, o Menino Jesus, para prestar-lhe homenagens e dar-lhe presentes. 
De tradição espanhola, as folias de Reis ganharam destaque no Brasil, a partir do século XIX e mantêm-se vivas em muitas regiões do País, sobretudo nas pequenas cidades, com destaque em Minas Gerais dentre outros estados. 
A tradição do Reisado aponta ser forte no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, mas é difícil estabelecer o seu início na região   e em Sacramento. Uma coisa é certa, são muitos anos de devoção aos santos, desde os nossos antepassados, tataravós, bisavós, avós persistindo até nossos dias, claro que com algumas modernidades. Anualmente, são realizadas várias festas familiares para cumprir promessas ou a passagem da coroa de um festeiro para outro. Mas na cidade, nenhuma festa é maior que o Encontro Regional de Folias de Reis, que já chegou a reunir cerca de 50 companhias de cidades da região.
 A tradição vem sendo mantida, graças ao trabalho dos devotos que não medem esforços para a realização, da festa que começou com os saudosos , Jair Ferreira, Jota Ribeiro,  Walter Fonseca e Polaco que até poucos anos atrás esteve no comando.  
Em entrevista ao ET em 2010, ano em que recebeu o título de Personalidade do Ano,  Polaco revelou que a ideia de criar a Associação e fazer os encontros regionais foi  de Jair Ferreira. E 30 anos se passaram desde o primeiro encontro de Folias locais na Casa da Cultura, o primeiro palco no primeiros anos do encontro. Algum tempo depois, transferiu-se para a Escola Maria Crema (hoje, Centro Administrativo) até chegar alguns anos depois ao Parque de Exposição.