Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Sacramento aplaude 'A Cidade e as Flores'

Edição nº 1571 - 19 de Maio de 2017

Sacramento teve cinema no último final de semana, dias 13 e 14, com a exibição do filme “A Cidade e as Flores”, na Casa da Cultura. Produzido pela Companhia independente Urukubaca Filmes e estrelado dentre outros, por dois sacramentanos, Arnaldo Santana e a filha, Isabela Santana, o filma nasceu de um concurso de redação promovido nas escolas municipais e estaduais do município de Água Comprida com o tema, 'Minha cidade pode virar um filme'.

“- Ele conta a história da pequena Água Comprida, cidade com aproximadamente 2.500 habitantes. Para o concurso de redação, os alunos tinham que conversar com os pais, os avós, enfim pessoas mais idosas e falar como nasceu a cidade, que foi desmembrada de Uberaba, no dia 12 de dezembro de 1953 e eleito seu primeiro prefeito em 1955”, explica o diretor, Mário Luiz Assunção, antes de iniciar a projeção.  

De acordo com o diretor a produção do filme recolheu centenas de histórias dos moradores que, depois de lidas, cinco foram aproveitadas para traçar o roteiro. “Na verdade, o filme fala do ser mineiro, da construção da nossa identidade, dos nossos costumes, pois só conhecendo quem somos de verdade é que valorizamos o nosso presente e valorizamos o nosso futuro e o cinema é parte disso”, ressalta Assunção, mostrando a lição que a cidade dá com a iniciativa. 

“- Enquanto Água Comprida procura resgatar,  conservar seu patrimônio e valorizar a sua história, vemos em muitas  cidades Brasil a fora a destruição do pouco que resta de seu patrimônio e história viva”, lamenta o diretor.

Para Assunção, é muito difícil fazer arte no Brasil e ressalta a importância do cinema “as pessoas que interpretaram as personagens, todas representando cidadãos de Água Comprida, alguns são atores do teatro, outros já fizeram cinema, mas a maior parte são pessoas da própria cidade, que nunca viram um filme na telona, nunca tinham ido ao cinema, o primeiro filme a que assistiram foi o filme que eles estrelaram”, revela, destacando uma personagem. 

“Um dos atores do filme era viciada em álcool, nunca tinha sido chamado pra nada na cidade. Era conhecido como aquela pessoa que só fica no boteco e só dá trabalho. No dia, ele apareceu no teste de gravação e quando pedimos que ele voltasse com a roupa que ele iria fazer parte do filme, todos alertaram: 'Mário, larga pra lá. Ele não sabe nem onde está, nem sabe o que é isso aqui...', lembra o diretor, completando: 

‘‘- Pois no dia marcado, lá estava ele com a roupa, o sapato... Fez o filme e nunca mais bebeu. Isso pra nós, já valeu o filme, porque quando ele chegou eu cheguei e lhe disse 'que bom que você veio, André, obrigado'. E dei-lhe um abraço. Sabe aquele olhar de alguém que nunca recebeu um abraço na vida... E ele aprece no filme, de forma muito simples, mas aparece e, como ele, várias outras pessoas tiveram suas vidas transformadas”.

 De acordo com Mário Assunção, o filme cuja história se passa nas décadas de 50 e 60, estreou em Água Comprida, Uberaba e já  está sendo exibido Brasil a fora e na república Tcheca e em breve estará em concursos de cinema.  E finalizou agradecendo a participação dos atores, sobretudo de  Arnaldo e Isabela. 

O espetáculo foi gratuito, mas aqueles que quisessem ajudar e promover um ato de solidariedade, poderiam doar um pacote de fraldas para o Lar São Vicente de Paulo. Também as mães presentes foram lembradas com sorteio de brindes pelo seu dia. 

 

Uma emoção muito grande

 

Mário Assunção que estava presente com o roteirista.....  recebeu o ET para uma rápida entrevista:

ET - Como foi a emoção de finalizar seu primeiro longa? 

Mário - Fazer um filme é um grande desafio, principalmente no Brasil, onde não temos apoio, ou melhor, até dizem que temos, mas na hora que precisamos do dinheiro ele desaparece. Então, o filme é uma produção independente com sangue, suor, lágrimas  e muita entrega. Então a finalização de um trabalho desses é uma emoção muito grande. Vimos o trabalho nascer e depois de um ano e meio de projeto”.

 

ET - Como podemos classificar o 'A cidade e as flores'?

Mário - O filme está na categoria do épico. Eu o defino como um épico do interior de Minas Gerais, porque é uma história muito simples, singela, mas verdadeira, porque conta as histórias da fundação de uma cidade, que representa a fundação de muitas outras cidades de Minas e do interior do Brasil. Esse épico rural, de certa forma, está nos nossos corações, porque representa um grande desafio e que foi vencido com esforço de todos, de gente simples, do povo, inclusive de Arnaldo e Isabela. 

 

ET – Há espaço no circuito comercial para esse tipo de filme?

Mário - Eu acredito que há espaço e que este tipo de filme renova a nossa identidade e a força que temos que ter, principalmente, num momento de crise como estamos vivendo agora. Nós, só olhando para quem somos, como nos constituímos, como nos formamos, temos forças para resistir a momentos de inconstância como o que estamos vivendo agora.

 

ET - Fale um pouco sobre sua filmografia.

Mário - A Companhia Urukubaka Filmes, fundada há três anos, além de “A cidade e as flores”, que é o primeiro longa metragem, tem mais duas produções em curta metragem: “Desassombro”, que conta a lenda do caboclo d´água, no Rio São Francisco, que é comercializado para bancar novas produções, e um documentário sobre a vida do Maestro Pinóquio, intitulado, “Pão e azeite”.  E agora, trabalhamos o projeto de mais um longa, intitulado, “Desancamento”, no estilo bang-bang (faroeste) do interior mineiro, que será filmado bem   em dezembro e janeiro próximos, baseado num conto uberabense, além de três roteiros de curtas e, com certeza, Arnaldo e Isabela estarão conosco.

 

ET - Por que essa palavra mágica, Urukubaka, para definir a companhia, urucubaca não dá azar?

Mário - É uma palavra mágica, sim, mas como já é 'Urukubaka', então se mandarem uma urucubaca, urucubaca com ururukubaka, anula tudo (risos). Mas nós acreditamos que o cinema é uma urucubaca no bom sentido, porque quem é amaldiçoado pelo cinema, não o abandona jamais. A gente termina um e quer fazer outro e luta para isso, não importa o orçamento”. 

 

ET - Fora da direção cinematográfica, quem é Mário Luiz Assunção?

Mário -  Sou graduado  em História e Mestre em Educação e professor do Instituto Federal do Triângulo Mineiro, campus Uberlândia, há 15 anos. Na minha atividade como professor, utilizo o cinema, curtas metragens com meus alunos e o cinema foi o tema do meu mestrado”.