Edição nº 1603 - 29 de Dezembro de 2017
Depois de nove dias na cidade, de 12 a 20 de dezembro, a equipe do Projeto Bandeira Cientifica, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Triânulo Mieiro (UFTM) com cerca de 200 integrantes entre profissionais já formados e universitários das diversas áreas de saúde, humanas e técnicas, além de supervisores, deixou Sacramento no último dia 21, com um saldo altamente positivo.
As avaliações são dos coordenadores de programação, o médico pediatra Luiz Henrique Aguiar Del Nero e da engenheira ambiental, Natália Torres Alessander. “Somos um total de 200 pessoas no projeto, entre estudantes e profissionais da USP e da Universidade Federal de Uberaba (UFTM), de todas as áreas atendidas pelo projeto. Esses profissionais supervisionam os procedimentos desenvolvidos pelos universitários”, explica, informando que o projeto foi criado pela universidade em meados do século passado.
“- O projeto foi criado na década de 50, para os estudantes de Medicina terem um contato com uma realidade diferente, daquela que temos num hospital na capital. Porém, na década de 60 o projeto foi extinto e só retomado em 1998, também pela Faculdade de Medicina e desde então veio agregando cursos de outras áreas como Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudióloga, Nutrição, Psicologia e Farmácia, Engenharia, Veterinária, Administração, Odontologia e Oftalmologia, completando neste próximo ano, 20 anos de voluntarismo”, explica Luiz.
Natália completa, informando que “a agregação de novas áreas veio juntamente pelo novo conceito de que Saúde é uma questão muito mais ampla e que envolve várias áreas e fatores: meio ambiente, saneamento, alimentação, habitação, por isso o projeto é interdisciplinar, propiciando o contato com diferentes populações. O sair de sua zona de conforto, vivenciar novas realidades e ter contato direto com a população, com a realidade das cidades, é o fator mais positivo do projeto para esses universitários que, depois de formados, vão para o mercado de trabalho, para novos desafios levando na bagagem essa experiência, isso agrega muito na formação de um profissional”.
Como o Projeto chegou a Sacramento
Sacramento é a primeira cidade do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba a receber o projeto. E de acordo com Luiz Guilherme, a escolha da cidade não é aleatória. Ela é feita depois de um estudo geográfico, econômico, além de outros fatores realizados pela coordenação.
“- Fazemos uma lista com cidades de todo o país. A partir de então, começamos a entrar em contato com as prefeituras, para apresentar o projeto. A maioria das cidades, sequer retornam e assim vamos eliminando, até que resta um número mínimo, entre três a cinco cidades. E foi isso que aconteceu com Sacramento. Ligamos, falamos primeiro com o secretário de Saúde, que na hora se interessou em conhecer o projeto. Levou ao conhecimento do prefeito, evidentemente, que também aprovou. Então, a iniciativa é nossa, mas o projeto só acontece, se houver interesse do governo municipal”, explicou, informando a contrapartida do município.
Quanto custou o projeto
Sobre os custos, informam Natália e Guilherme que, por parte da participação dos universitários e profissionais não há custo algum.
“- Sobre a contrapartida da Prefeitura, não há custo algum com a equipe, nem com os universitários, nem com os profissionais. Todo nosso trabalho é voluntário, ninguém recebe nada por isso, a não ser um certificado que se torna referência no currículo. Já para o município a contrapartida consiste em fornecer alojamento e alimentação, que teve lugar na E.E.Carolina Maria Jesus; ajuda no transporte; fornecimento de pessoal da cidade para dar suporte nos locais de atendimento e hospedagem para alguns profissionais que não ficam no alojamento”, esclarecem, elogiando a recepção que tiveram.
“- A acolhida de toda a população foi super carinhosa, atenciosa, inclusive das secretarias de Saúde, Educação, Assistência Social e outras, foi muito bom, desde que começamos a trabalhar na cidade no mês de maio”, reconhece e agradece, Dr. Luiz.
Quantas pessoas foram atendidas
Os coordenadores, no momento da entrevista, na tarde da quarta-feira 20, não puderam precisar o número de atendimentos feitos nas diversas as áreas, que farão parte de um relatório minucioso que será entregue ao município nos próximos meses.
“- Não temos todos os dados, mas só para exemplificar, na Oftalmologia foram cerca de dois mil atendimentos. Só que falamos em número de pessoas, porque uma mesma pessoa é atendida em várias especialidades: fisioterapia, psicologia, etc”, explica Luiz, lamentando que na Odontologia, muitas crianças que estavam agendadas não compareceram. Já algumas pessoas, em outras áreas, não foram atendidas devido à grande demanda, completa Natália. “Eram dois tipos de atendimentos, com consultas já agendadas e outros fora do agendamento, mas houve dia, que a demanda foi muito grande, não havendo como atender todos”.
O projeto tem continuidade. De acordo com Luiz e Natália, os atendimentos na cidade terminaram, mas o processo e a ligação com Sacramento vai durar ainda de seis a sete meses. “Nestes dias aqui, além dos atendimentos, foram coletados inúmeros dados para um diagnóstico mais aprofundado, complementação de projetos e estudos dentro da universidade. Os alunos entram em férias agora e retornam em fevereiro e aí, cada um na sua área, vai computar, tabular e analisar os dados minuciosamente, retirando no final um relatório que será entregue à Secretaria de Saúde”, explicam, destacando que os oftalmos retornam entre abril e maio para entregar os óculos e avaliar, junto aos pacientes.
Os pontos positivos e negativos
Fazendo uma avaliação das condições de Saúde encontradas no município, Dr. Luiz diz que dá para afirmar que são boas, destacando alguns pontos:
“Em se tratando de saúde, a demanda é sempre muito grande, mas Sacramento é uma cidade bem assistida e há uma vontade de melhorar cada vez mais.
- Na área da odontologia, detectou-se que a falta de flúor na água há alguns anos está prejudicando a população mais jovem. As crianças mais velhas têm um estado de conservação dos dentes muito bom, já as mais novas estão com vários problemas devido à falta de flúor na água tratada.
- Na área da Psicologia e Psiquiatria, foi detectada uma super medicalização, isto é, pessoas com excesso de medicamentos e ainda querendo mais. Não que os medicamentos não sejam importantes, mas até certo ponto...
- A cidade está muito bem assistida na área de Fisioterapia.
- Na Pediatria foram poucos atendimentos e todos satisfatórios.
- Na zona rural, devido à grande extensão do município, não foi possível atingir as metas de atendimento.
- Na área de Engenheira, na parte de infraestrutura não há questões graves, mas foram alguns problemas em relação à perda de água e a proximidade da Estação de Tratamento de Água com a zona urbana, devido ao crescimento da cidade. É uma questão delicada”, avaliaram.
O que levam e o que deixam na cidade
“- Levamos o grande aprendizado e conhecimento que tivemos. Embora eu já tenha sete anos de projeto, cada um é diferente, cada cidade, cada contato, é um aprendizado muito grande tanto para a população quanto para nós profissionais. Em relação ao que deixo, espero que possa ter contribuído um pouco de nós e a ideia de como poderá ser melhor estruturado o sistema de saúde, de saneamento, enfim de tudo que é extremamente importante para a saúde”, afirma Luiz, que é natural de São Paulo, formado em Medicina pela USP.
“- Acredito que esteja deixando um pouco a inspiração de mobilização, de comunicação entre os diversos setores e áreas, de cada um fazendo a sua parte, de cada um buscando ser cada vez melhor, porque a cidade tem um potencial muito grande para melhorar ainda mais. O que levo, além do que o Luiz falou, levo a hospitalidade mineira, com o cafezinho, muito pão de queijo, doce, queijo, enfim, levo o sabor mineiro e acho que os ônibus vão voltar um pouco mais pesados', brinca Natália, também paulistana, formada em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, que viveu a primeira experiência no projeto como estudante.
A despedida dos universitários foi marcada por um Sarau Cultural realizado no Ginásio de Esportes Mário Eugênio, no Rosário, quando o secretário de Saúde, Reginaldo Afonso dos Santos, falando da importância do projeto para o município, do seu sucesso e da amplitude alcançada, agradeceu em nome do prefeito Wesley De Santi a presença dos universitários e de seus supervisores. A seguir, abriu o Sarau de Despedida com música e poesia.