Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Personalidades do ano: Pessoas que fazem a diferença

Edição nº 1552 - 06 de Janeiro de 2017

Berthold Brecht diz que há pessoas que são imprescindíveis... O poeta e dramaturgo alemão usou de metáfora para afirmar que há pessoas que fazem a diferença pela competência e responsabilidade, pela ética e trabalho humano que desenvolvem, e mais, que têm um profundo respeito pela 'Nossa Casa Comum'. É nessa dimensão que o ET aponta essas personalidades, como pessoas que servem de exemplo para todos nós. 

Veja um pouquinho de sua história de vida. 

 

Bergson Evangelista dos Santos 43 é filho dos saudosos  Manuel Evangelista dos Santos  (Cabo Mané, da Polícia Florestal) e Maria Nilza Jesus Santos, que assim como os irmãos, Jefferson (de saudosa memória) e Nara,   nasceu em Patos de Minas e   chegou a Sacramento aos 12 anos, com a transferência do pai para o Grupamento Florestal da cidade.  

Bergson seguiu os estudos na Escola Coronel, onde fez também o curso de Eletrotécnica, mas não chegou a trabalhar na área, porque foi aprovado no concurso municipal, realizado em 1997, pelo então prefeito Biro. Começando por baixo, capinando rua, recolhendo lixo no caminhão... chegou à seção de  Zoonose. 

E, alguns anos depois veio o convite da chefe da Vigilância,  Ivana Leite da Cunha,  para o cargo de  Educador em Saúde. E lá se vão   16 anos nesse setor, um trabalho que,  realmente,  faz a diferença, sobretudo,  no combate à dengue. O que lhe valeu o apelido de  'O Bergson  da Dengue'.

 Contrariando o chavão dos privatistas, de que funcionário público concursado acomoda-se no serviço, é preguiçoso e displicente, Bergson deu exemplo de competência e ética como trabalhador efetivo.  Para Bergson não há sábados, domingos, feriados, dia ou noite. Está sempre pronto para participar ou fazer palestras em empresas e clubes de serviços, programas de rádio, campanhas.

 “- Há certas coisas que não se pode fazer pelo dinheiro ou pelo horário de serviço. Se assim fosse,  a maioria das ações não seriam  realizadas. Faço isso pela valorização que tenho e sinto pelas   pessoas, que acreditam no nosso trabalho e nos convidam para ajudar. Para mim, o  pagamento é a conscientização  que fizemos e que leva ao  interesse das pessoas para o  combate ao mosquito...”, afirma, preocupado em manter a cidade limpa neste verão.

“- A cidade está muito suja, há muito lixo acumulado, o mutirão de limpeza preventivo, feito antes das chuvas de verão, não foi feito e o histórico da cidade, nesses últimos anos não foi bom, tivemos perto de uma epidemia no ano passado, com duas mortes confirmadas...”, alerta. 

Para Bergson, Sacramento precisaria de mais um Educador em Saúde, sobretudo para atender as comunidades  rurais, destacando ainda a necessidade de um veículo próprio para o setor. “A maioria das ações que realizamos, utilizo meu veículo...”. 

Bergson é casado com Ana Cláudia Santos.  Pelo seu trabalho, sua dedicação e preocupação com Sacramento e a saúde do povo sacramentano, Bergson é Personalidade do Ano de 2016.

 

Henrique Prata 62,  Diretor Geral do Hospital de Câncer de Barretos, é filho do casal de médicos oncologistas, Dr. Paulo Prata, Dra. Scylla Duarte Prata, fundadores do Hospital São Judas, de Barretos, em 1962, para atender à demanda de pacientes que apareciam  com a doença,  que  eram, em sua maioria, pessoas de baixa renda, com alto índice de analfabetismo e que não tinham condições de buscar o tratamento em São Paulo.   

O São Judas   contava com apenas quatro médicos,  Dr Paulo e a mulher,  Dr. Miguel Gonçalves e Dr. Domingos Boldrini, que  trabalhavam em tempo integral, dedicação exclusiva, caixa único e tratamento personalizado. Filosofia de trabalho que promoveu o crescimento da Instituição. Em 27/11/1967, o  Hospital  transformou-se na Fundação Pio XII, mais conhecido como Hospital do Câncer de Barretos (HCB).

 Com o tempo, o velho e pequeno hospital não comportava mais a demanda,  Dr. Paulo Prata, idealizador e fundador, recebeu a doação de uma área na periferia da cidade e propôs a construção de um novo prédio que pudesse responder às crescentes necessidades. 

E é neste momento que entra o importante trabalho do filho, Henrique Prata, um fazendeiro que nunca cursou medicina, mas que em 1989, aos 37 anos, resolveu abraçar a obra de seus pais e servir a Deus desse modo. E com doações de fazendeiros da cidade e da região inaugurou em dezembro de 1991, o pavilhão Antenor Duarte Villela, onde funciona o ambulatório do novo hospital. Antenor Duarte, filho de Sacramento, era avô de Henrique e pai de sua mãe, Scylla Duarte. Nas suas lembranças, narradas no comovente livro, 'Acima de Tudo o Amor', Henrique recorda o avô Antenor como uma das pessoas mais queridas que conheceu, dedicando-lhe durante a vida em que estiveram juntos um carinho imenso. 

“- Meu avô era um homem que mostrava, com suas atitudes, seus reais valores, que ajudaram a formar meu caráter. Deus me deu o privilégio de conviver, trabalhar e aprender com um homem extremamente sábio e humano” – reconhece. 

Em outras passagens mostra sua fé, mostrando como Deus estava presente em sua vida. “Como é que Deus permite a um ignorante como eu, sem cultura, que nem fala português direito, ir além dos estudiosos?”, ganhou, por unanimidade o voto dos professores doutores que compunham a banca para escolher o melhor projeto para a Avon, nos Estados Unidos. Ele mesmo responde, de uma forma extremamente humilde: “De qualquer maneira, eu queria fazer muito mais coisas para agradecer a Deus, pois sabia que aquilo não era uma força da sabedoria, da inteligência, era simplesmente a honestidade do meu amor, buscando sempre o que fosse melhor para servir a Deus”. 

Enfim, a vida toda de Henrique foi momento e ocasião para fazer o bem. “Fazer o bem supera todas as outras instâncias, as dúvidas e as incertezas”. E foi essa força que o moveu a prosseguir o trabalho na direção da Fundação Pio XII, entidade mantenedora do Hospital de Câncer de Barretos, transformando-o em uma das maiores e mais bem conceituadas instituições do mundo. 

Anualmente, o Hospital de Câncer de Barretos atende milhares de pacientes de todo o Brasil. De Sacramento, conforme dados de 2015, foram atendidos 93 enfermos, com vários procedimentos realizados ao longo do ano.

Por essa vida dedicada ao bem e ao próximo, Henrique Prata é Personalidade do Ano de 2016.

 

Wagner Mendonça 74 é sacramentano, filho de Arquilino Cândido  de Mendonça e Cesária Alves Sarmento  de Mendonça. Cresceu com os irmãos Aparício, Dimalta, Lorisvaldo (Lorinho), Josué, Hipólito e Diomira, uma família de músicos, a começar do pai, como diz a gíria popular, 'de cabo a rabo'. Os estudos foram em Sacramento, na EE Dr. Afonso Pena Jùnior e Colégio Alan Kardec.

Completada a maioridade, aos 18 anos, passou no concurso para o Banco de Minas Gerais (atualmente o BMG) e se  mudou para trabalhar em São Paulo, capital. Foi ali que, nas suas horas vagas, estudava violão com o professor Rubens Cubeiro Rodrigues, mais conhecido como Rubinho, o guitarrista do programa Jô Soares. Mas seu dom musical está na genética, pois, além do pai, irmãos, sobrinhos e netos se destacam na música. 

Depois de três anos trabalhando em São Paulo, em 1963 foi transferido para a agência da cidadezinha  de Jacutinga,  no Sul de Minas. Alguns anos depois, cansado de ficar longe da terra natal pediu exoneração do cargo,   retornando a Sacramento.

Eram ainda os memoráveis Anos 60 e tão logo chegou a Sacramento, criou em 1968, o conjunto musical, Os Tremendões, com os irmãos Josué e Lorin e ainda, Levy, Dutra e Bandoleiro. Dois anos depois, em 1970, a banda mudou o nome para 'The Red Stones',  incluindo a cantora Diomira, sua irmã.  Quanto sucesso   fizeram na época! E até hoje são  lembrados por todos  daquela geração.

Finda a carreira musical, em 1971,  Wagner se aventurou em outras atividades. Em 1978,  já casado  com   Ada Alice de Oliveira,  pais de  duas filhas Daniela (Ivan Afonso Borges) e Karine (Cleber Silveira  Borges), Wagner abriu uma farmácia na cidade de Rifaina (SP)  e lá  pôde estudar e aperfeiçoar-se na música com o  grande maestro, Rossini Caetano de Menezes,  de Franca.  Quatro anos depois, em 1982, após   ganhar a concorrência,  mudou a farmácia para a Vila de Jaguara e ali conciliava o tempo com  a família e  o trabalho farmacêutico, para ensinar violão clássico aos moradores da Vila e estudar na Academia Musical José Marques, na cidade de Franca.

Wagner  ficou em Jaguara com a farmácia até 1992, quando então  retornou com a família a morar em  Sacramento, onde abriu uma barbearia. Mas como a música era o seu carro chefe,  seguiu ensinando música clássica e  fazendo  parte do Grupo Sênior, composto por Zezinho e Wagner  no violão, Josué no contrabaixo e Thales na flauta transversal.  E, para completar o seu talento musical e realizar o seu sonho,  adquiriu uma harpa e aprendeu a tocá-la...  

Hoje, aposentado Wagner continua cultivando suas três paixões: a  família com um zelo imenso pelos três , Gabriel, Brenda e Ryan;  a música e seu violão, que ainda dedilha para deleite dos amigos e de ex-alunos, que não perdem a oportunidade de estar com o mestre. 

Pela sua história de vida, seu talento nato e amor à arte musical, Wagner é Personalidade do Ano de 2016. 

 

Wesley Nascimento 38, o Chicão, sacramentano, filho do operarador de máquinas da Prefeitura, Adauto Nascimento e da dona de casa,  Nazir do Nascimento (Keka), ambos de saudosas memórias. De família numerosa, eram 11 irmãos, a vida não foi fácil. Lembra Chicão que para alimentar a família, o pai ganhava dos fazendeiros das regiões onde reparava as estradas, frutas, mandioca, queijo e até galinhas... 

A paixão pelo esporte começou também ainda quando era moleque. Vizinho do campo do XIII de Maio EC, passava o dia brincando no campo e nos arredores. “Minha infância foi ali no campo. Televisão não tínhamos em casa, então restava o campo e a gente estava sempre ali com uma bola, às vezes, até de pano”, conta, recordando o trabalho da mãe com os filhos. 

“- Era filho demais para tomar conta. Então, mamãe tinha que ser brava para dar conta daquela molecada. Passava o dia gritando um e outro e quando pegava uma vara, era só correria, mas como ela não tinha muita destreza, a gente a driblava. Mas quando ela nos pegava... Levei muitas varadas... Mas graças a Deus, todo mundo deu gente...”,  narra com um riso de felicidade e agradecimento, lembrando a calma do pai. “Papai era a calma em pessoa, muito trabalhador, muito inteligente. Ele não batia,  conversava e nos defendia da mamãe”, relata com carinho. “Eu era feliz, era não,  sou muito feliz”. 

Os estudos foram nas escolas Afonso  Pena e Coronel e já adulto concluiu o segundo grau na Escola Sinhana Borges. Hoje cursa Educação Física.   Iniciou no trabalho aos 13 anos na Prefeitura, onde permanece até hoje, prestes a completar  22 anos de serviço como concursado (Auxiliar de Serviços Urbanos). 

 

“A gente tinha que trabalhar pra ajudar em casa e, papai arrumou pra mim no viveiro, plantando mudas de café. Do viveiro saí para outros setores. Primeiro fui para a limpeza do Poli, depois,  Gruta,  caminhão de lixo, cobrador do circular, limpeza de ruas...”, enumera. 

Até que um dia caiu no Esporte, devido ao trabalho de voluntarismo que fazia ligado ao esporte, jogando e arbitrando. “Aí veio a consagração!!   Há 12 anos me mandaram  para trabalhar no Esporte, no Marquezinho e ali estabilizei. Fiz o curso de arbitragem na Federação Mineira, em Belo Horizonte, em 2009, e hoje, por mérito, estou como Técnico Esportivo”. Além da Escolinha de Base, Chicão trabalha na arbitragem dos campeonatos de futebol da cidade e zona rural e da região.

O grande diferencial de Chicão,  sobretudo, no bairro onde mora e conduz a Escolinha de Base do Areão Esporte Clube e na  Praça de Esportes (STC), faz um trabalho de formação sócio-esportiva, educando a criançada para a vida. É outro exemplo de que não se pode trabalhar só pelo salário, mas ser presença entre os seus atletas nas viagens, organizando competições finais de semana e feriados.  É o técnico, o amigo e às vezes, até o juiz da partida, enfim, é 'pau para toda obra' em prol do esporte. É o primeiro a chegar e o último a sair. 

Mas mais que isso,  no campo do Areão, com a ajuda da garotada e  voluntários mantém o campo  sempre em condições de uso, podando a grama e plantando, arrancando cupins e drenando minas d'água... “Temos que deixar tudo em ordem e ensinar as crianças que para ter as coisas temos que lutar para conseguir, por isso todo mundo arregaça as mangas...”, afirma, destacando o respeito e compreensão que tem dos pais dos atletas, com quem se reúne periodicamente e, dos patrocinadores, inclusive,  para uma festa de confraternização no final do ano.

 Casado com Juliana Reis da Luz, Chicão é pai de três filhos Gustavo, Talita e Tawane. 

Por sua história de vida, sua dedicação ao trabalho, sobretudo, ao esporte Wesley Nascimento é Personalidade do Ano de 2016.

 

Olavo Luiz Miguel 92, veja sua biografia na página 11, em matéria especial.