No alto da serra da Canastra, pai e seus dois filhos morreram de frio. Foram enterrados ali mesmo com uma cruz grande marcando a cova do pai e duas menores as dos filhos. O lugar ficou como Gólgota da Serra, local de peregrinação e milagres. Todas as vezes que alguém passava em frente às três cruzes, sempre encontrava uma vela acesa, protegida da ventania por um pequeno abrigo de adobes. O mecânico Tito, famoso proseador do reino, foi chamado para socorrer um motorista na serra. Pega as ferramentas, toma o seu fordeco 29 e parte. O tempo fechou na serra, nuvens escuras cobriam a região. Acende os faróis e vê à frente as três iluminadas por uma faísca elétrica que caiu próximo. Tito se espanta, sai da estrada e cai com o fordeco em uma vala. Raios chamuscavam a vegetação rasteira, ventania e ribombar dos trovões eram aterradores. De repente, entre as cruzes, aponta um monstro com vários tentáculos caminha em sua direção. Transido de medo, Tito desmaia. No dia seguinte é encontrado morto entre as cruzes todo envolvido com uma ramagem de um arbusto arrancado e levado pelo vento.
(Do livro de Saulo Wilson, No Reino da Bucolândia)