Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Triângulo Mineiro completa 200 anos

Edição nº 1511 - 1 de Abril de 2016

A Prefeitura de Uberaba, através da Superintendência do Arquivo Público, lançou na segunda-feira 29, folder histórico da região em homenagem aos 200 anos da Anexação do Triângulo Mineiro a Minas Gerais.  De acordo com a superintendente do Arquivo Público, Marta Zednik Casanova, o objetivo do evento foi homenagear o Triângulo Mineiro, que há duzentos anos passou de Goiás para Minas Gerais, em 04 de abril de 1816. Ela ressalta que com a sua posição estratégica privilegiada, facilitou a colonização do Brasil Central, com grande pujança econômica que tem se destacado no ranking do Estado, além de evidenciar suas características culturais sui generis.
Além do lançamento, o Prefeito recebeu a doação de um catálogo histórico, intitulado “A Comarca de Uberaba”, que retrata algumas cidades do Triângulo Mineiro, como Uberaba, Sacramento e Conquista. A obra foi doada pelo deputado estadual Tony Carlos, como forma de colaboração aos 200 anos da Anexação do Triângulo Mineiro a Minas Gerais, sendo uma importante contribuição para o conhecimento da história da região, inclusive do município de Uberaba.
Aprofundando o assunto, a pesquisadora Virgínia Dolabela de Lima dá ao ET a sua contribuição sobre estes 200 anos de anexação do Triângulo  a Minas Gerais. Confira abaixo, no texto de Virgínia Dolabella (foto).

04 de abril de 1816: é de extrema importância resgatar e comemorar esta data que transformou nossa identidade de goianos para mineiros e promoveu a caracterização geográfica do estado de Minas Gerais, com a região do Triângulo Mineiro.
Essa data é o fim de uma discórdia que havia se iniciado quando a capitania de Goiás foi desmembrada da de São Paulo por Alvará de 8 de novembro de 1774, tendo como governador, Gomes Freire de Andrade, o Conde de Bobadella. A divisa entre as capitanias de Minas e Goiás foi definida pelo espigão da serra Mata da Corda, que compreendia várias serras como a da Canastra e da Marcela, uma região ainda muito desconhecida na época. Uma divisa que aparece de forma indefinida nos primeiros mapas das duas capitanias. Na região junto ao rio Grande, o ponto conhecido como Desemboque era referência para a divisa das capitanias de Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Em 1751 e 1752, Pedro Franco Quaresma, um conhecido explorador, faz o reconhecimento de parte da região de divisa para a Capitania de Goiás que, oficialmente, toma posse e funda o Arraial das Cabeceiras do Rio das Velhas (atual distrito de Desemboque), em 3 de janeiro de 1752, a mando do “Ilmo. Exmo. Snr. D. Marcos, Governador e Capitão-General da Capitania de Goiás”.
Por volta de 1761, um grupo de mineiros, liderados por Manoel Álvares Gondim, consegue iniciar a abertura de lavras de ouro a beira do rio das Velhas (hoje, Araguari) e do rio Grande. Em 2 de março de 1766, o Julgado das Cabeceiras do Rio das Velhas foi instituído oficialmente pela Capitania de Goiás para consolidar a posse da região, já em conflito com a Capitania de Minas.
Minas Gerais para formar o seu atual território teve diversos disputas de divisas com a Bahia, o Espírito Santo, São Paulo e Goiás. Algumas duraram mais de cem anos, sendo muitas resolvidas só nas primeiras décadas do século XX.
Foram diversas as tentativas dos mineiros para conquistarem parte da região do então Julgado das Cabeceiras do Rio das Velhas (1766), pertencente à capitania de Goiás, como a expedição do Mestre de Campo Pamplona e a conhecida “Carta de Tamanduá”, de 1793, que acaba promovendo o mapa de 1796, do cartógrafo José Joaquim da Rocha, onde se define a divisa de Goiás e Minas Gerais.
Nos últimos anos do século XVIII e primeiros do século XIX, a região passa por um período de certa calmaria, consolidando novos arraiais e a criação do gado vacum, com o declínio da mineração. Isso passa a gerar um novo conflito: as relações com a sede da Capitania de Goiás e os mercados consumidores que ficavam principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 20 de dezembro de 1811, a Freguesia de São Domingos é elevada a Julgado de São Domingos de Araxá, desmembrando-se do Julgado do Desemboque (antigo das Cabeceiras do rio das Velhas). Em 1815, os moradores de Araxá iniciam um movimento para separar a região de Goiás, tendo como justificativa as dificuldades existentes com a grande distância para a capital, Vila Boa de Goiás.
Em 04 de abril de 1816, graças ao movimento dos moradores do Araxá, a região do antigo Julgado do Desemboque, atuais Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, é separada de Goiás e anexada a Minas Gerais, ficando sob a jurisdição de Paracatu.
Como se vê, pela matéria da arquiteta Virgínia Dolabella, os acontecimentos dessa separação do Triângulo com Goiás, passando a pertencer a Minas, fazendo referência ao protagonismo de Da. Beja, famosa cortesã de Araxá, não passam mesmo de estórias.