Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Pires de Lima lança livro de poema em noite cultural

Edição nº 1519 - 27 de Maio de 2016

Noite de poesias, boa música e um seleto público marcaram o lançamento do livro, “Rua da Ladeira e Tantas líricas”, do artista plástico José Pires de Lina, na Casa da Cultura Sérgio Pacheco, no último dia 20.  O livro lançado pela Editora Bertolucci, com capa, projeto gráfico e diagramação de Alessandro Abdala vem recheado com 125 belos poemas distribuídos em 267 páginas.

 Os versos de Lima são clarividentes...

O prefácio é do professor, escritor e historiador Carlos Alberto Cerchi, membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro (ALTM), cadeira 39. “Conheci José Pires de Lima como artista plástico, desenhista e pintor de traço firme em estilo sóbrio e marcante. Suas obras ficaram conhecidas a partir das telas expostas na Casa da Cultura Sérgio Pacheco, em Sacramento. Depois o pintor revelou seu dom pela escrita pelas páginas da revista Destaque In e, agora chega aos leitores com seu primeiro livro', apresentou o professor.
Segundo Cerchi, os versos de Lima são “clarividentes, frutos de um sentimento maduro, resultado de uma sensibilidade que valoriza situações particulares, porém projetadas na universalidade que somente os poetas conseguem transmitir, conforme descreve no poema título: 'Tivéssemos o tempo das ladeiras,/ não sentiríamos tanto o sofrimento /e nem as alegrias rolariam tão fugazes/ no nosso lombo cansado'”.
Finalizando, Berto ressalta que “a poesia não é palavra inútil, vibra e faz despertar esperança e entusiasmo. Pires de Lima possui este dom, mais uma dádiva dada a poucos, mais um talento a cuidar, sobretudo pelos que possuem em abundância. percalços existem, contradições persistem. Não é aqui nessas palavras toscas que se vislumbra o poeta e sua obra. Andemos por esta estrada aberta, fruto de inspiração e arte.”


Noite Cultural enriquece solenidade

A bela noite cultural foi abrilhantada pelo trio, violonista Wagner Mendonça e os cantores, Luiz Feliz e Steve, com suas belas vozes. Arnaldo Santana, na performance de José Belarmino Assunção (Zeca), interpretou com seu personagem jocoso, o poema 'O Gago e o candidato'. O músico Leandro Eurípedes (Lelê), parceiro musical, cantou duas letras que musicou do poeta, 'Blues Estradeiro' e 'Nação de Sonho', em homenagem a Zumbi dos Palmares. Os jovens Henrique Teodoro, Rodrigo Coimbra e Ronald Pires, apresentaram o poema, “A fé morre na favela”, em estilo rap, e o Prof. Walmor Júlio Silva encerrou a noite declamando outros três poema do autor.
 Para o professor e escritor Dimas da Cruz Oliveira, hoje radicado em Uberlândia, responsável pela revisão da obra, Pires Lima vem enriquecer o rol de artistas na cidade.  Citando os versos de Castro Alves, em Espumas Flutuantes, “Oh! Bendito o que semeia/Livros à mão cheia/E manda o povo pensar! / O livro, caindo n'alma / É germe – que faz a palma, / É chuva – que faz o mar!”, afirmou que o poeta com esse trabalho vem realçar essas gotas que, uma a uma vem completar a obra”.  Finaliza o escritor apontando nos poemas traços dos parnasianos Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Vicente Carvalho e, também, dos simbolistas Cruz e Sousa e Alphonsus Guimarães.
“Algumas poesias trazem a melancolia e lembram a famosa Serenata do Rio de Alberto de Oliveira. É um trabalho que realmente veio enriquecer o nosso patrimônio cultural”.
O designer Alessandro Abdala falou da sua satisfação em transformar as ideias e palavras em algo concreto, que é o livro. E, pela Secretaria de Cultura, a funcionária Lívia Melo Pereirinha, que falou em nome do prefeito Bruno Scalon Cordeiro, parabenizou o autor José Pires de Lima.

 

Um pouco de Pires de Lima

O primeiro Pires que se fez conhecer na cidade, é o Pires artista Plástico, cujas primeiras obras na cidade encontram-se no saguão da Casa da Cultura. Três personalidades filhos das terras do Borá. Duas do mundo das letras: Carolina Maria de Jesus e o professor Homilton Wilson; a terceira é do filho que brilha nas telas da TV e cinema: Lima Duarte.  Depois vieram outras... Veja um pouco de Pires na entrevista que concedeu ao ET.
O gosto pela arte do pincel e das cores...
Comecei a pintar ainda criança, com Dona Lurdinha, professora de artes em Pedregulho. “Ela era pintora e me incentivou muito, depois fiz curso de Desenho e Pintura, na Escola Santa Mônica, em Franca. Mas, na verdade, essa é uma habilidade que nasce com a gente, é um dom”. As pinturas de Pires são bastante abrangentes, mas seu gosto por figuras humanas é tangível. “A maior parte do meu trabalho são retratos.
O Pires poeta...
Essa dimensão é mais nova, é minha, digamos, mais recente faceta, porque começou nas letras escrevendo contos, crônicas, ensaios e letras de músicas. Poesia é, relativamente, novo na minha vida. Comecei a escrever desde criança, inclusive poesias, mas esporadicamente, porque sempre gostei de contos, crônicas e ensaios filosóficos. Participei da Revista Destaque IN e tenho material suficiente para publicar um livro.
O gosto pelos versos aflorou...

Esse gosto aflorou e fique feliz, porque gostei do meu trabalho e tudo começou a partir do momento que comecei a usar o facebook, que nos propicia receber muitas informações. Usei o facebook como ferramenta de produção literária, isto é, comecei a fazer parte de grupos literários e aí foram nascendo os poemas e podemos dizer que meu primeiro livro foi virtual”, explica esclarecendo que, no entanto, não são poesias feitas para a internet. Na internet tudo tem que ser reduzido, muito rápido e nas minhas poesias quem determina o tamanho é o seu senso estético.
O mundo tem sede de arte, de poesia...
Quisera, mas acho que não. A arte é uma grande conquista e um bem da humanidade, mas, hoje, a meu ver, a sensibilidade artística está um pouco em decadência. E isso advém de vários motivos, pode até ser pelo crescimento vertiginoso da tecnologia, mas vemos que determinados segmentos culturais de massa têm um gosto duvidoso. O melhor exemplo disso é a música, que está mais próxima das pessoas, porém não dá para comparar com o que tínhamos anos atrás e os poucos que ainda a cultivam estão num segundo plano, isto é, não estão próximos das pessoas. Usamos a música como um termômetro, mas a mesma coisa acontece com as demais expressões de arte, talvez, numa intensidade até maior. Tivemos momentos culturais muito ricos em Sacramento.
A rua da ladeira...
O poema título da obra “Rua da Ladeira e tantas líricas”, não é uma rua propriamente dita, mas uma metáfora das mudanças. As mudanças ocorrem em todo s lugares, mas na ladeira esse é um processo mais acelerado, todo ano, todo os dias as coisas rolam pela ladeira, erosão pela chuvas, por exemplo. Só que a ladeira, em sendo parte do relevo, tem outro tempo diferente do humano. Isto é, ela pode passar por agruras, intempéries, vicissitudes e suportar por milênios, ao contrário do ser humano, cuja vida é de um século para baixo. Em síntese, a rua da ladeira é a metáfora da constante mudança do ser humano. E o grande mote do livro é que ele trafega por quase todos os níveis de linguagem, enfim um livro para todo tipo de público.

 

Autor e sua obra

José Pires de Lima é sacramentano, filho de Edgar Pires de Lima e de Izaura Maria de Lima (de saudosas memórias) e cresceu com as irmãs, Dorcelina e Letícia, radicadas em Pedregulho, onde mora também a dona de seu coração, Lidiani Cristina Francisco.
Ainda bebê, a família mudou-se para Pedregulho (SP) e lá Pires cresceu, estudou, fez amigos, em fim, escreveu parte de sua história. Aos 20 anos retornou a Sacramento como funcionário do Bemge, até ser aprovado no concurso da Caixa Econômica Federal. Lotado em Orlândia, trabalha alguns anos naquela cidade para voltar definitivo para sua terra natal, há mais de dez anos, e onde nasce seu filho, Arthur Caetano, sua maior paixão.  E foram para o filho, suas palavras finais, no lançamento do livro e na orelha do livro.
“Três coisas a dizer:
1ª – eu sou o pai do Arthur; 2ª – a presente obra transita por diversos tipos de linguagem. São poemas que voam do linguajar coloquial, popular ao erudito. E da simples observação do cotidiano à contemplação filosófica. Na minha poesia eu procuro o sentimento quase sempre antes de escrever. Ternura, medo, angústia, revolta, desilusão, saudade, amor e, por que não, fúria, agressividade, concupiscência?... Mas sempre com o objetivo de encantar, nunca pretendi assustar ninguém; 3ª – dessas três observações, apenas a primeira é relevante ao propósito da minha vida.”
A obra foi dedicada aos pais já falecidos, às irmãs, ao filho e à amada e, aos amigos Alessandro Abdala e Carlos Alberto Cerchi.