Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Personalidades do Ano de 2015: O trabalho de três grandes instituições

Edição nº 1500 - 15 Janeiro de 2016

Nos seus quase 200 anos de existência, a exemplo de muitas cidades mundo a fora, Sacramento sempre teve pessoas caridosas e de corações generosos para ajudar pobres e famílias carentes. Vieram as primeiras instituições que nasceram também de voluntários que se sucediam nessa ajuda humanitária. No princípio, sem nenhuma ajuda oficial dos poderes públicos, as campanhas eram feitas entre as famílias da cidade. Cada uma dava um pouco conforme sua generosidade. Hoje, todas elas recebem da Prefeitura uma subvenção anual, mas que ainda não dispensa a ajuda comunitária. É, como bem definiu o vicentino Miguel Alcanjo Soares: “O Dispensário continua sendo “a entidade onde Deus põe a mão”. E assim acontece com todas as outras entidades. Reconhecendo o relevante e imenso trabalho social que realizam, o ET homenageia com o título de Personalidade do Ano 2015, nas pessoas de seus atuais presidentes, Mario Antônio Florentino Santana, Francine Bessa França Amui e  José Olício Inácio  (Zezeu), as obras assistenciais, Dispenário dos Pobres, e Escola Eurípedes Barsanulfo, que completam 90 e 40 anos de existência, respectivamente; e o Terno de Congada São Benedito e Na. Sra. do Rosário que, nos seus 60 anos de existência, faz também um grande trabalho sócio-cultural na cidade.
Conheça um pouco de cada uma dessas instituições.

 

Há nove décadas fazendo história e cumprindo os princípios e objetivos pelos quais foi fundado, como obra vicentina, sempre baseada no serviço e no amor ao próximo, o Dispensário dos Pobres (DP) completou 90 anos dia 3 de janeiro último.
Tudo começou quando, um jovem de 20 anos de idade, Antônio Frederico Ozanan, mais seis companheiros, estudantes da Universidade de Sorbonne, em Paris, inspirados por Deus e desafiados por outros estudantes ateus, decidiram unir Fé e Obra fundando em 1833, a  Conferência da Caridade, dois anos depois designada oficialmente, Sociedade São Vicente de Paulo. Doutor em direito, jornalista e escritor, Ozanan foi elevado a beato pelo Papa João Paulo II.
Em 1872, a SSVP chega ao Brasil. Em Sacramento, no primeiro quinquênio do século XX, provavelmente em 1902 e, com ela, em 1926, descobrindo no pobre um irmão e a imagem do próprio Cristo, a Sociedade funda sua primeira obra, o Dispensário dos Pobres.
Ao longo desses quase centenário, centenas de sacramentanos, vicentinos ou não, passaram pela diretoria do Dispensário dos Pobres, dando sua contribuição e trabalhando em prol de seus objetivos, o de ajudar com alimentos, roupas e formação espiritual famílias carentes da cidade.
Entre eles, um dos mais longevos vicentinos, o dentista Rômulo Mendes Neto (Dr. Romin) falou ao ET da importância do DP junto às famílias mais necessitadas da cidade. “Olha, sou vicentino há 50 anos e no Dispensário eu comecei a fazer parte antes disso, no tempo do Tunim Giani. Eu era Congregado Mariano e fui convidado pelo vigário, Pe. Saul Amaral, para fazer parte. Aceitei e desde então passei a ser colaborador”, lembra Romin, hoje, nos seus mais de 80 anos, distribuindo no final da missa vespertina da Basílica, no último domingo, pequenos lembretes aos fiéis solicitandco alimentos que poderiam ser doados ao DP.
Outro longevo voluntário do DP é o atual presidente, Mário Florentino Santana, que lamenta a falta de registros históricos da entidade. “Os livros mais antigos da entidade, infelizmente, desapareceram. Temos um estatuto antigo, mas os livros com as primeiras atas não sabemos onde estão. Mas desde menino eu sei que o dispensário foi fundado para servir os necessitados, ele supre as necessidades de pobres e doentes cadastrados pelos voluntários e diretores que visitam as famílias para conhecer sua situação sócio-econômica” explica, informando que as distribuições são feitas aos sábados.
“- Aos sábados de manhã estamos aqui na sede para essa distribuição da cesta que contém os alimentos básicos, arroz, feijão, óleo, macarrão, sabão... e, nas segundas-feiras, visitamos as famílias para orientação do consumo, noções de higiene e bons costumes e a reza do terço. Ou seja, damos o pão material num dia e no outro o espiritual, mas sempre de acordo com a aceitação da família. O DP, como obra vicentina, atende a todos os pobres, indiferente de credo. Por isso, perguntamos se aceitam ou não rezar o terço”, ressalva.
O bancário e vicentino, Miguel Alcanjo Soares, que sempre teve uma ligação muito estreita com a SSVP, hoje atuando como membro do Departamento Nacional de Obras Unidas, da SSVP, vice-presidente do Conselho Metropolitano de Uberaba e presidente da Conferência Nossa Senhora do Carmo, na cidade do Prata, onde reside, também ressaltou a importância da obra. 
“- No ano em que comemora 90 anos de fundação, o Dispensário continua sendo “a entidade onde Deus põe a mão.  Às vezes, as mercadorias estão no fim e, de repente, aparece uma doação, uma ajuda, naqueles tempos muito significativamente pelas mãos dos fazendeiros”. Mas o DP representa, sem dúvida, um marco da Sociedade São Vicente de Paulo em Sacramento, pela opção feita pelos pobres. Antigamente, não havia os programas sociais que existem atualmente, então havia uma pobreza muito grande e uma necessidade emergencial de ajudar as pessoas. O Dispensário supriu em parte essa carência”.
O DP sobrevive graças a doações de pessoas caridosas, atendendo aos bilhetinhos que são distribuídos, mensalmente, no final da missa vespertina da Basílica, ou fazendo doações espontâneas e de uma subvenção anual da Prefeitura, este ano no valor de R$ 12.200,00.

 

Terno de Congada e Guarda de São Benedito e Na. Sra. do Rosário

Na verdade, o Terno de Congada e Guarda de São Benedito e Na. Sra. do Rosário, tem mais de 100 anos... O escritor e pesquisador da história de Sacramento, Amir Salomão Jacób encontrou referências da entidade, fundada e administrada, no princípio, pela Sociedade São Vicente de Paulo, em 1913, no jornal 'A Semana'.
Mas a data oficial, com ata lavrada e registro nos livros da entidade, segundo a atual presidenta, Maria Aparecida de Fátima Moreira, é 13 de maio de 1955. “A gente sabe de registros do Terno bem antes, mas foi nesse dia que Valdivino Inácio (Divino Inácio) regularizou o Terno, oficialmente, através de uma assembleia e lavratura de uma ata”, considera a presidenta, que comemorou a data em 2015.
Os dados, no entanto, não desmerecem os pioneiros do Congado na cidade que, com certeza, data de mais de 100 anos, porém ainda sem registros oficiais. A partir da memória e da oralidade, a história do Terno de Congada e Guarda de São Benedito e Na. Sra. do Rosário vai passando de geração a geração, marcando a presença dessa arte popular afrodescendente tão rica e que vem se firmando e conquistando o seu espaço ano a ano, depois de passar por muitos reveses.
 Na grande lista dos integrantes que passaram pelo Terno de Congado estão nomes consagrados pela cultura popular, como Zé Santana, Tia Joana, Azor,  Desidério,  Temístocles,  Tio Adolfo,  Zé Bertulino,  Bigico, Cristiano, o rei Divino, a rainha Vó Tonha,  Bigico,  Terezinha Maria dos Reis,  Tia Hirma, Tio Alencar e Tia Maria,  Mandino, Tutim, Sebastião Inácio dos Santos  e tantos outros, cujos nomes estão na memória das atuais gerações que os passarão aos tantos jovens e crianças que a cada ano vão aderindo ao movimento.
As novas gerações vieram sucedendo os antigos diretores e chegando a Antônio Francisco, Cid e Maria de Fátima, a atual presidenta. Uma ribeirão-pretana que chegou a Sacramento há 56 anos. Já casada com Joaquim Moreira e  com os três filhos criados, Maria,  já sem a necessidade de trabalhar, passou a se dedicar aos trabalhos voluntários  e foi aí que teve tempo para descobrir  o amor pela Congada.
“Conheci essa tradição mais a fundo, através do Antonio Francisco (Antonio Radiador). Antes eu ouvia histórias, mas não conhecia. Seu Antônio nosso vizinho,  era presidente e comecei a me interessar, participar, dançar, viajar  e a paixão  foi aflorando... Estava no meu sangue. Fui me entrosando com  a rainha perpétua,  vó Tonha, a filha dela, a rainha Terezinha, o rei Sebastião, o Cid, o Guto  e aí  não parei mais. Aprendi e aprendo muito com cada um deles. É uma história e uma tradição muito bonita”, revela,
Destaque-se a tradição da coroa na família dos fundadores Divino Inácio e Vó Tonha. O rei, Weverton (Tom)  Inácio Pires e a rainha Lucimar dos Reis, são, ele, bisneto dos fundadores e ela neta. Ele, neto do rei Sebastião  Inácio, falecido de acidente;  ela, filha da rainha Terezinha e sobrinha de Sebastião.

  Ao comemorar os 60 anos do Terno, a presidenta faz questão de frisar que as homenagens recebidas não são para ela. “Eu gostaria de dizer que a homenagem não é para mim, mas para uma história de 60 anos, ou melhor  mais de 100 anos, porque o rei Divino reergueu o Terno em 1955, uma tradição que estava esquecida. Quando tivermos nossa sede própria, e se Deus quiser  vamos ter, essa placa será guardada lá para honrar todos do Terno de Congada Guarda de São Benedito e N. Srª do Rosário”, comentou ao ET, por ocasião da homenagem recebida pela Câmara Municipal.
Pela saga afrodescendente que aqui aportou no século XVIII, e que hoje compõe grande parte da sociedade sacramentana, pela dança, pela religiosidade e expressão de cultura manifestada durante todo esse tempo, concedemos ao Terno de Congada e Guarda de São Benedito e Na. Sra. do Rosário Nossa o título de Personalidade do Ano de 2015.

 

Escola Eurípedes Barsanulfo

Inaugurada por Corina e Tomás Novelino, em 1975, a Escola Eurípedes Barsanulfo completou 40 anos de fundação no dia 5 de março de 2015. A escola foi um dos grandes legados de  Corina Novelino, a mesma idealizador e fundadora do  Lar de Eurípedes nos anos 1950, para amparar meninas carentes.
    “- O Lar de Eurípedes e a Escola são parte do ideal maior de Corina: a Educação, dando continuidade ao Colégio Allan Kardec, fundado por Eurípedes Barsanulfo, em 1907.  A construção teve início em  1973,  por Corina e Tómas Novelino. Dois anos depois, em 05 de março de 1975, as portas da Escola Eurípedes Barsanulfo foram abertas no bairro João XXIII”, registra o seu histórico.
    Com a morte de Corina, em 1980, Dr. Tomás convida a  Profa. Marlene Natal de Almeida para assumir a direção da escola. Com grande  experiência na área de educação, providenciou toda a documentação do novo estabelecimento junto a Secretária de Estado  da Educação (SEEMG) e, em 1982, é publicada a autorização de funcionamento da unidade escolar de 1º grau, validando os atos escolares anteriormente praticados. 
    A década de 80, conforme os registros históricos, foi muito próspera para a escola  com  a ampliação de suas dependências físicas, que  alcançou uma matrícula de 500 alunos. Naquela época, várias crianças ficavam o dia todo na escola, muito antes de se falar em período integral.
A administração da escola foi sempre gerida por competentes diretores, como Diva Palhares Katayama, Vivianni Pereira Bonetti e, atualmente, Francine França Amui, e sempre com um número expressivo de alunos.
    Em 1996, a pedagoga Alzira Bessa França Amui, responsável pela orientação pedagógica da Escola, assume a presidência da Fundação Lar de Eurípedes, entidade mantenedora da Escola Eurípedes Barsanulfo, e implanta a Pedagogia do Amor, de Eurípedes Barsanulfo, como metodologia da escola.
    A partir de 2006, novos desafios foram enfrentados  e superados, tais como a reforma de algumas dependências e a construção de novos espaços. Iniciava-se assim, uma nova etapa de reorganização física, sem se descuidar dos projetos desenvolvidos dentro da proposta pedagógica da escola.
Em 2013 a escola ganha um novo e moderno berçário e maternal com estrutura adequada para receber as crianças menores. No mesmo ano, foi  inaugurado o  Centro de Cultura e Esportes Dr. Tomás Novelino, espaço que permite a realização de múltiplas atividades não só da escola, como para toda a sociedade sacramentana.
    Com uma matrícula de 300 crianças e 50 funcionários, a Escola Eurípedes Barsanulfo proporciona  atendimento a alunos da Educação Infantil ao 5ª ano do Ensino Fundamenta, e educação integral a crianças de 4 a 12 anos. Dentro da Pedagogia do Amor, a escola constrói valores morais, éticos, culturais e sociais, proporcionando espaços para o desenvolvimento do pensamento reflexivo e interativo através das múltiplas oportunidades que são oferecidas.
    Pela sua história de 40 anos de existência e pelos relevantes serviços prestados à educação do município, a Escola Eurípedes Barsanulfo recebe do ET o título de Personalidade do Ano de 2015.