Gil Barreto Ribeiro deixou na cidade um kit com três obras: 'Direitos Humanos e Promoção Social', 'Contos de um caminhante – Memórias do Missionário Andarilho' e, como brinde, 'Ciência e Fé no Espaço Acadêmico'. As duas
primeiras são de cunho filosófico-religioso por abordar encíclicas e estudos da Igreja ao longo dos tempos no que
tange aos direitos humanos, promoção da vida e a necessidade e importância das universidade aliarem ciência e fé aos currículos oferecidos aos acadêmicos, visando desenvolver os valores humanísticos. As obras foram
apresentadas, na noite de lançamento, pelos professores, Maria Elena de Jesus e Walmor Júlio Silva.
Contos de um caminhante – Memórias de um missionário andarilho
A obra 'Contos de um caminhante – Memórias de um missionário andarilho', escrita em 155 páginas reúne 10 contos de relatos de padre Helvécio Azevedo Tóffuli os seus alunos, no Seminário Santo Afonso, nos idos de 1950. Gil nunca esqueceu as histórias de padre Azevedo. “Tenho saudades daquele tempo em que podia encontrar Pe. Azevedo com um sorriso no rosto e contando suas histórias”. (P.10).
Pe. Azevedo foi um andarilho pelo Brasil pregando missões, um tempo em que viveu e conviveu, ensinou e aprendeu com a gente sofrida, com sua fé popular e suas crenças. Era tal a ausência de padres, que ele chegou a ser confundido com fantasma pela batina preta nas margens do Ribeira. Tornou-se o milagreiro ao desassombrar uma casa em Pouso Alegre.
Enfim, o livro é assim, linguagem simples cheio de vida como simples e cheio de vida foi Pe. Azevedo. E como é Gil. Vale a leitura.
Maria Elena de Jesus
Ciência e Fé no Espaço Acadêmico
A obra 'Ciência e Fé no Espaço Acadêmico' deveria ter a atenção de todos os educadores, pois o foco é a formação integral humanística das pessoas e não apenas o saber técnico-científico. O autor, Gil Barreto, alerta sobre essa necessidade já no prefácio:
“- Muitos profissionais despreocupados com a formação integral nos valores éticos, morais, de justiça e direitos humanos, usufruem de seus conhecimentos meramente técnicos e exatos no compêndio cientifico onde se formaram, para usar de seus conhecimentos em proveito próprio, ultrapassando os limites do respeito ao outro e a sociedade onde vivem”.
Mas, a nosso ver , como incutir formação humanística nos acadêmicos, se ela não tiver a sua base nos anos iniciais de estudos. Aí reside a importância da leitura por todos os dirigentes de escolas e educadores.
O livro de 78 páginas é dividido em duas partes. Na primeira parte, 'Educação cristã na realidade do mundo globalizado', trata, como o nome indica dos efeitos da globalização e suas implicações e entra com documentos da Igreja a partir de 1965 (Gravissimum Educationis - Concílio Vaticano II), todos com vistas à educação humanística.
“A educação na América Latina, sobretudo em nível universitário, não está contemplando as peculiaridades do continente, utilizando mais uma formação científica estrangeira, não ligada ao desenvolvimento local. Inclusive por parte de instituições católicas, há a falta de diálogo entre o saber cientifico e o conhecimento da fé, que em nada contribui para a preservação dos valores humanos.” (p.31/32)
Na segunda parte 'A Igreja na história das universidades'. Nela Gil trata da origem das universidades e a identidade das universidades católicas, cujo papel “é justamente fazer a mediação ente a vida plena da pessoa humana e a fé”. (P.62) A primeira Universidade Católica no Brasil é a do Rio de Janeiro fundada em 1947, hoje são 16, algumas denominadas PUC, nas regiões sul, sudeste, centro-oeste, nordeste.
(MEJ)
Nossa Casa Comum precisa de uma faxina
O livro de Pe. Gil, Direitos Humanos e Promoção Social me levou aos belíssimos e conturbados anos 60 e ao meu curso de Pedagogia, na Faculdade de Ciências e Letras S. Tomás de Aquino, das irmãs dominicanas, em Uberaba. Pensando bem, ele me levou um pouquinho antes, ao inesquecível Curso Normal, da Escola Coronel. Mais precisamente, ele me levou às aulas de uma professora de Sociologia, a quem amava muito, uma freirinha portuguesa, da Congregação francesa de Saint Joseph de Cluny, Ir. Maria Benigna de Jesus Martins...
Com irmã Benigna me vieram as primeiras manifestações de repúdio contra as injustiças sociais do mundo. Ir. Benigna defendia ardorosamente o que Pe. Gil chama no livro, “a abordagem da fé vivenciada na prática'. Razão de irmos às periferias da cidade enxergar a pobreza, viver a sua realidade das ruas, como tão bem mostra Carolina Maria de Jesus, no Quarto de Despejo. Copiei essa didática, mais tarde, com minhas alunas do Magistério...
Um pouco depois, a partir do golpe militar de 1964, já na faculdade das dominicanas, tive outros professores comprometidos com a conjuntura social brasileira, que 'ditavam', como que, antecipando, o escritor Gil Barreto Ribeiro. Falo dos mestres, Pe. Prata, Prof. Paulo e Frei Paulo Teleger... Foi aí que mais uma vez vivenciei “os direitos humanos e a promoção social”, numa abordagem cristã, mais aprofundada e mais comprometida com o que o país estava vivendo. Minha primeira prática foi partir para as periferias, nas chamadas CEBs, Comunidades Eclesias de Base, e ensinar trabalhadores adultos a ler, através do método de alfabetização de Paulo Freire.
Eu estou falando de uma educação de 40 anos atrás... E estou falando da Educação evocada pelo autor, que vê na Igreja a responsabilidade e incumbência de também Educar, conforme a declaração Gravissimum Educationis, sobre a Educação Cristã (Vaticano II). “A atuação da Igreja deve ser no sentido do desenvolvimento integral da pessoa humana”, afirma Gil.
Os futuristas, hoje, não os futurólogos (esses que preveem o futuro), afirmam que três tendências de longa duração se apresentam no mundo: a exploração demográfica, a degradação ambiental e a desigualdade social.
Pe. Gil completa em suas páginas essa catastrófica previsão. “Por conta dessas tendências, o mundo vive crises sem precedentes: emissão de gases poluentes, aquecimento global; terremotos, maremotos, explosões vulcânicas; catástrofes ambientais causadas, muitas vezes pela ganância econômica de algumas empresas”, diz o autor. Para ilustrar isso, não precisamos ir longe. Basta olharmos as manchetes de alguns meses e enxergar a catástrofe causada em Mariana e em todo o ecossistema do rio Doce.
Diz mais Pe. Gil em sua obra: “Mas há outros tipos de desgastes, os chamados desgastes humanitários: o desrespeito gritante sobre a ética, moral, corrupção; a improbidade administrativa; as desigualdades sociais, a fome, a pobreza; os atentados terroristas assumidos por grupos radicais, que matam em nome de Deus...”. Abrem-se os jornais a qualquer dia e a qualquer hora e esse drama lá está estampado.
Diante dessa realidade angustiante, o autor apresenta algumas teses baseadas em documentos do magistério da Igreja Católica. Em 183 páginas, Gil caminha do Vaticano II à Teologia da Libertação. De Puebla e Medellin à TFP. Do grande Dom Hélder Câmara à Marcha da Família com Deus pela Liberdade... Enfim, uma leitura riquíssima, atual. Uma pequena enciclopédia que serve de livro de cabeceira e reflexão. Só não chega à Laudato Si, de Jorge Bergoglio, porque foi escrito antes. Mas não deixa de mostrar o seu comprometimento com a preservação do planeta.
Bem amigos, não quero falar mais, porque seria como contar o fim do filme... Mas este pequeno livro, Direitos Humanos e Promoção Social deveria ser o livro de cabeceira de todos nós... daqueles que reconhecem que o planeta está agonizante, daqueles que, como o Papa Francisco, afirmam que Nossa Casa Comum está muito suja... precisando de uma faxina completa.
Boa leitura a todos.
(WJS)