Para que o leitor entenda a razão de tal cobrança, importante relembrar que o professor doutor e pesquisador, Sérgio da Silva Barcellos esteve em Sacramento, no final de 2013 e em meados de 2014, para um trabalho de pesquisa, organização e acondicionamento de todo o acervo da escritora sacramentana, que culminou com a publicação do trabalho, “Vida Por Escrito”, um dos 40 projetos contemplados com o Prêmio Funarte de Arte Negra, entre mais de dois mil projetos inscritos.
Na época, Barcellos catalogou, separou, identificou e, usando dinheiro do próprio Prêmio, comprou caixas e envelopes apropriados para guardar os documentos. Separados um por um os documentos forma envelopados e guardados em 12 caixas.
Cada etapa do processo, inclusive fotos mostrando o estado em que se encontram alguns manuscritos – manchados ou mutilados -, estão no Guia Vida Por Escrito e no site www.vidaporescrito.com/, com o intuito de ajudar pesquisadores nacionais e internacionais a encontrar o acervo de Carolina.
Na publicação e no site, o pesquisador alerta para o fato de os cadernos autógrafos da escritora serem transportados para eventos dentro e fora da cidade, sendo exibidos em locais sem proteção, e segurança, permitindo que visitantes manuseem as páginas dos documentos raros, sem critério ou proteção”.
Veja abaixo o ofício do pesquisador Sérgio e a resposta da Prefeitura.
Ofício cobra providências
Afirma o professor em ofício ao prefeito Bruno Scalon Cordeiro que, “além da publicação de um guia do acervo da escritora, cujo exemplar foi doado em três cópias para a Prefeitura Municipal de Sacramento (Gabinete do Prefeito e Arquivo Público Municipal Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Bruonswik), houve um significativo investimento financeiro além de um grande esforço profissional na organização e classificação dos documentos de acordo com as regras de arquivística e o apropriado acondicionamento dos documentos originais de Carolina Maria de Jesus doados à cidade de Sacramento em 1999, por sua filha, Vera Eunice de Jesus Lima”.
“Na ocasião - relata mais Barcellos - os documentos encontravam-se alocados de forma aleatória nas estantes do arquivo, em caixas de papelão, dentro de sacos plásticos e com amarrações de barbante – todos esses materiais impróprios para acondicionamento de documentos raros, além de estarem sem organização, o que dificultava o acesso de pesquisadores e interessados na obra da escritora. Foram adquiridos caixas e envelopes de papel neutro, ou alcalino, próprios para preservação documental em substituição ao material anteriormente utilizado”.
O Prof. Sérgio Barcellos (foto) ficou sabendo do sumiço dos documentos através de denúncias de dois pesquisadores de Carolina Maria de Jesus que foram orientados a realizar pesquisas no Arquivo de Sacramento.
“- Surpreendentemente, fomos informados de que o material anteriormente organizado e classificado encontra-se disperso, fora de seus respectivos envelopes e caixas. Além disso, foi verificada a ausência de duas caixas contendo dez cadernos autógrafos da escritora! A funcionária responsável pelo acesso ao Arquivo, Sra. Marly, disse não saber informar sobre a localização dos documentos”.
Finaliza, pedindo providências ao prefeito Bruno Cordeiro “para localizar o material desaparecido, assim como para a manutenção da organização e classificação do acervo de Carolina Maria de Jesus, que estão sob a custódia da Prefeitura de Sacramento, e cujo valor é inestimável não somente para o patrimônio histórico e cultural da cidade e do povo de Sacramento, mas também para a cultura e as letras nacionais”.
As etapas do projeto referentes aos documentos da escritora em Sacramento podem ser conferidas no seguinte endereço eletrônico: http://www.vidaporescrito.com/#!organizao-e-classificao-do-acervo/c1n8o
Arquivista
A funcionária do Arquivo Público, Lívia Pereirinha, mostrando os arquivos de Carolina ao ET, esclareceu que os documentos só saem do Arquivo Público, mediante a assinatura de um Termo de Compromisso assinado pelo curador da exposição, obedecendo ainda a outras exigências: Os arquivos só podem ser mostrados desde que estejam protegidos em caixas de vidro com tranca e serviço de vigilância e segurança no local.
Um cuidado que não foi observado na recente exposição da Casa da Cultura, em Sacramento. As caixas de vidro não tinham tranca e não havia guardas de segurança no local.
É sobre esse cuidado que vale a advertência do Prof. Sérgio. Todo cuidado é pouco. E não pensemos que em Sacramento não há problemas com violência.
Resposta da Prefeitura
Em resposta a emeio do ET, a Prefeitura informou o seguinte: ‘‘Todos os documentos do acervo Carolina Maria de Jesus que estão em posse dessa administração estão sendo tratados em conformidade com a legislação pertinente desses arquivos, dentro de nossa capacidade técnica. Os documentos referidos fizeram parte da mostra prevista em lei "Semana Carolina Maria de Jesus", de 14/03 a 18/03 de 2016, na Casa da Cultura Sérgio Pacheco, com visitação aberta ao público em geral, estudantes e pesquisadores. Colocados em seus devidos lugares após o término, no Arquivo Público Municipal, local onde sempre estiveram. Pode ter havido algum desencontro desses documentos nesta semana específica, por estarem sendo usados na Exposição sobre Carolina na Casa da Cultura’’.