O verde amarelo, palavras de ordem, faixas, cartazes, apitos, fogos e músicas de protesto marcaram a passeata contra a corrupção e o ipeachment da presidenta Dilma Rousseff. Liderada pelas lojas maçônicas Acácia do Borá e General Sodré, com o apoio de vários segmentos da sociedade: OAB, Rotary Club, Heróis do Futuro, de populares, dentre outros que se juntaram aos milhares de brasileiros que foram às ruas no domino 13. Com as recentes ameaças de prisão sem provas do ex-presidente Lula, houve também menções a sua pessoa, com xingamentos, como “Lula Bandido”, “Lula vagabundo”. Durante quase uma hora de caminhada não houve nenhum incidente, o clima foi absolutamente tranquilo e democrático.
A concentração começou pouco antes das 9h, na praça José Valadares da Fonseca (Rosário) com a distribuição pelos mações de flâmulas verde-amarelo para serem agitadas durante a caminhada, animada por um carro de som com frases curtas sobre o objetivo do movimento de protesto dirigida por um dos irmãos e animadas com canções de protesto, desde a antológica, 'Caminhando', o principal hino da esquerda brasileira, ‘Brasil, mostra sua cara’, de Cazuza, ‘É preciso saber viver’ , do Titâns e ‘Seja Patriota’...
A passeata tomou a direção do centro da cidade, pela av. Benedito Valadares. Na ponte do ribeirão Borá, o ET contou 262 manifestantes. A caminhada prosseguiu até a rua Major Lima e, dali, continuou pela rua Visconde do Rio Branco, contornou a Basílica do Santíssimo Sacramento e retornou pela av. Benedito Valadares, até o largo do Rosário, onde os manifestantes se concentraram para a leitura do manifesto feita pelo venerável da Loja Acácia do Borá, Ivan Rosa Gomide, destacando a atuação da maçonaria brasileira no país ao longo dos tempos.
“- A maçonaria inspirou mudanças profundas nos rumos da nação. Participou ativamente dos principais acontecimentos em nosso país. Por isso, hoje, achamos por bem sairmos do recato das nossas oficinas e nos expor, aliados à força do povo brasileiro, que temos orgulho de compor, ao lado de pais e mães de famílias, trabalhadores, empresários, jovens e crianças às quais ensinamos princípios de conduta cidadã, para manifestarmos nossa profunda indignação com os rumos tomados em nosso Brasil com a crescente onda de corrupção”, disse.
Segundo o venerável, ‘‘os maçons há séculos deixaram de ser 'construtores de catedrais para serem construtores sociais, por isso é impossível presenciarmos as escabrosas revelações e investigações trazidas a público, sem que nos manifestemos”.
Referindo-se ao governo da presidenta Dilma, Ivan destacou que “o povo brasileiro não aguenta mais ser responsabilizado por atos criminosos de um governo corrupto. Não podemos pagar essa altíssima e estrondosa conta realizada por esse governo corrupto, que, ao invés de enxugar a própria máquina, propõe aumento e de impostos, sobrecarregando ainda mais o trabalhador e a sociedade como um todo. Chega de corrupção!”, frisou.
Por fim, Gomide disse que “o povo brasileiro merece respeito. Queremos um país melhor, mais ético, livre da corrupção e soberano. Não somos contrários aos governos justos, não temos vinculo partidário. Somos homens livres e de bons costumes. Vamos juntos construir o Brasil que queremos para nós e para nossos filhos”. Finda a leitura do manifesto, juntos todos cantaram o Hino Nacional.
Líderes falam sobre a caminhada
Em entrevista ao ET, o venerável Ivan Gomide destaca que a maçonaria está atenta ao clamor do povo em geral. “Juntos com os cidadãos de bem, pedimos um basta na corrupção. Não atacamos nenhum partido, mas aquele que estiver lá em cima corrompendo são eles que combatemos. Queremos o fim da corrupção e o bem estar da nação”.
Questionando se a maçonaria é a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o venerável não quis responder a pergunta. “Sendo a maçonaria apartidária, prefiro não falar sobre isso, mas como cidadão de bem, aquele que estiver lá em cima sendo corrompido, acho que deve ocorrer, como foi feito com o Fernando Collor de Melo”.
Sobre a Maçonaria liderar desta vez a passeata, Ivan afirmou o seguinte: “Muito pelo contrário, a iniciativa é dos cidadãos de bem. Foi criada uma comissão de maçons propriamente ditos e outras pessoas para fazer este chamamento à população, convidando aqueles que estivessem descontentes para vir para as ruas. Não há uma liderança na cidade, mas um grupo que tomou a frente para organizar a passeata”.
Edmo Ferreira
Para Edmo Ferreira Borges, venerável da Loja Maçônica General Sodré, o objetivo da passeata é dizer “não à corrupção”, e explica: “Estamos fazendo uma passeata pacífica, ordeira, dentro de nossos parâmetros. Vamos lutar em prol do povo brasileiro que está subjugado a um poder que está nos consumindo. Se usássemos três palavras Liberdade, Fraternidade e Igualdade, temos a a liberdade do ir e vir, de sair com a família e não ser seqüestrado ou roubado, a liberdade de querer um país melhor e com a renda distribuída de acordo com a necessidade do povo brasileiro, nos hospitais, nas escolas, na moradia isso é igualdade e fraternidade. Não pode haver mais corrupção. Por muito menos do que estamos fazendo hoje, Dom Pedro no salvou do jugo português, que nos estava prejudicando”.
Thiago Silva Scalon
Para o advogado Thiago Silva Scalon, que liderou as primeiras manifestações, disse que, a pedido da maçonaria apoiou o movimento.
“- Essa manifestação dá continuidade ao que vem sendo proposto desde 2013. Este ano, a Maçonaria liderou, mas emprestamos todo nosso apoio através das redes sociais. E o objetivo é combater a corrupção em qualquer esfera. Não viemos aqui só para gritar 'Fora Dilma', viemos para manter o propósito inicial de fazer uma limpeza no meio político, que hoje está totalmente combalido e, infelizmente, não vamos ter outra opção, senão o impeachment da presidente Dilma através dos meios legais”, afirma.
Apoiando as mensagens e faixas de protestos na passeata, Thiago viu tudo de forma positiva. “A manifestação do pensamento é livre e todos estão aqui para manifestar contra quem quer que seja. Temos que trazer essas pessoas, independente, de estarem ou não ligadas a partidos isso não faz diferença. Se vieram se juntar a nós é porque também não estão satisfeitas”, afirma e admite ser favor do impeachment da presidenta.
Segundo Thiago as manifestações pelo país a fora não têm vínculo algum com a grande mídia. “Essa manifestação em nível de Brasil não tem vínculo com Globo, nem com partido político. Isso é um anseio da população em mudar o que deve ser mudado. A corrupção chegou a um ponto alarmante que destruiu todas as nossas instituições, CUT, ONGs, Entidades Sindicais, UNE, que recebem verbas públicas.
Dizendo-se um cidadão politizado, Thiago afirma que faz leitura de várias mídias, não apenas a grande mídia, que defende o ipeachment, como outras revistas e sites, que chama de 'chapa branca', para formar sua convicção.
“- Temos que assistir e ter acesso a várias mídias para formar convicção. Como mídia alternativa, temos as mídias, que nos ajudam a formar uma convicção do que o Governo vem fazendo nos corredores, a chamada mídia ‘chapa branca’, que defende o governo. Não que o governo não tenha porque não ser defendido, porque existiram avanços, mas infelizmente é uma mídia que é tão comprada como a alternativa, como 'Carta Capital', 'Caros Amigos'. Elas defendem o governo porque são beneficiadas por ele. Cada uma defende os seus interesses.
Thiago defende a grande mídia, afirmando que não existe mídia golpista. “Temos que ver que existem investigações judiciais que são idôneas, sérias. Sou a favor da Operação Lava Jato e enquanto ela estiver fazendo limpa, estamos juntos”, afirma destacando que não é candidato a nada nas próximas eleições.
Filiado ao PV, partido de oposição ao governo, Thiago Scalon diz que não é candidato a cargo eletivo. “Não sou candidato, quero que Sacramento mude e defendo uma terceira via nas eleições, não apoiarei nenhum ex-prefeito nem reeleição”.
A politização dos Heróis do Futuro
A jovem Vitória Caetano da Silva, membro do grupo Heróis do Futuro, da empresa Sak´s, que acompanhava a passeata com o grupo também deu sua opinião ao lado da pedagoga Maria de Lourdes Foleto Vasquez Bruno. “A gente quer mudar o Brasil, precisamos mudar. Não tem como continuar desse jeito, com tanta corrupção. Precisamos de muita coisa e nada”, afirma e a coordenadora completa, destacando a politização dos jovens.
“Foi lhes exposto, ensinado que, independente, do partido que está no poder, temos que buscar um país melhor, sem corrupção. Que temos que demonstrar a nossa insatisfação em relação á corrupção. E eles foram orientados também a olhar a nossa cidade, começarem a olhar os políticos locais, o que eles fazem e deixam de fazer pelas pessoas que estão na comunidade, como agem na cidade, porque daqui a pouco eles estarão com 16 anos e irão votar. Eles precisam aprender que não podemos ficar no conforto de nossas casas, sem fazer nada e as coisas acontecendo aí, principalmente, na nossa cidade”.
De acordo com Lourdes, hoje são 21 adolescentes Heróis do Futuro na Sak's, que recebem essa politização.
“- Temos de começar a mostrar-lhes que não adianta eles irem para a comunidade, participarem das creches com auxílio e não cobrarem de quem deveria fazer. Eles têm que aprender a analisar as ações e atitudes dos políticos, independente do partido e temos que começar a analisar, estudar quem está perto”, afirma.
Segundo a pedagoga, a formação dos jovens tem como foco principal, a cidadania e não a política partidária. ‘‘Eles não estão aqui contra PT ou PSDB, estão aqui se posicionando como brasileiros. A questão pró ou contra Dilma, isso não é falado, porque o nosso objetivo é politizar, formá-los para serem cidadãos brasileiros, por isso estamos de verde amarelo”, finalizou.
Maçonaria lança projeto de lei de iniciativa popular
Durante a passeata de protesto que pediu o ipeachment da presidenta Dilma, a Maçonaria distribuiu na praça um folheto com o título, “Corrupção Nunca Mais”, convocando eleitores para subscritarem o Projeto de Lei de Iniciativa Popular que tem por finalidade, “evitar que pessoas inescrupulosas e de caracteres duvidosos se apoderem do dinheiro que a sociedade coloca à disposição do poder público, por meio dos impostos que pagamos”.
Entre as mudanças propostas sugeridas pelo projeto, constam as seguintes:
Aumento das penas para todos os delitos que elenca:
- Código penal (Decreto-Lei 2848/40);
- Crimes contra a ordem tributária (Lei 8137/90);
- Crimes da Lei de Licitações e Contratos (Lei 8666/93);
- Crimes de prefeitos (Decreto-Lei 201/67).
Criminalização de condutas antes estabelecidas apenas como improbidade administrativa e criação de novas tipificações criminais;
Criação de um regime processual próprio;
Cria pena acessórias de perda da função pública e inelegibilidade para os condenados, pelo triplo do tempo da condenação;
Estabelecem serem insusceptibilidade de graça, anistia, indulto e fiança aos delitos de lesa-pátria;
Redução, à metade, dos tempos das penas para início de cumprimento em regimes semiabertos e aberto e ampliação do tempo de cumprimento de pena para progressão de regime;
Recuperação dos recursos baseada na Lei 8613/98 (Lei de combate à lavagem de dinheiro);
Extensão dos dispositivos da Lei 12.846/13 aos partidos políticos;
Prioridade de tramitação dos processos e obrigatoriedade do Poder Público criar varas especializadas para julgamento destes delitos.