Apenas dez dias da condenação dos quatro autores do latrocínio contra Paulo César Martins Lobato (Lambreta), outro crime choca a cidade, a morte do confeiteiro Nelson Borges Neto, o Nelson Rei Momo, ou Nelson Netto como era conhecido, assassinado de forma brutal em sua residência, no Jardim das Acácias. A Polícia trabalha com a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte).
O corpo de Nelson foi encontrado pelo amigo Ranério Elias e Anderson Fornazier, na tarde dessa quarta-feira 2, quando preocupados com o seu sumiço desde a noite anterior foram até a casa, pularam o muro e após quebrarem os vidros da janela, viram as marcas de sangue no local e perceberam também que o veículo da vítima, um Fiat Pálio na se encontrava na garagem. Naquele horário, por volta das 13h, um grupo de amigos já realizava um movimento nas redes sociais a procura de Nelson.
A polícia foi acionada, comparecendo ao local o comandante Tenente Idonis acompanhado dos militares, sargentos Azevedo, Augusto e Rogério, cabos Lima, Thiago, Geraldo e Mendonça. Logo, um grande número de pessoas aglomerou-se nas imediações, visto Nelson ser uma pessoa muito conhecida e querida. O local foi isolado, para aguardar a perícia técnica da Polícia Civil de Araxá que, juntos com o delegado Rafael Jorge e os investigadores Diego, Rafael, Eduardo e o escrivão Pedro, realizaram os trabalhos de praxe.
A princípio, o perito criminal, Walisson, constatou um corte na região do pescoço e uma perfuração possivelmente por faca no peito da vítima. O corpo foi removido ao IML e o perito Hudson Fiuza, juntamente com o médico legista, constaram perfurações e cortes no pescoço, peito, costas e mãos.
Um ação conjunta entre a Policia Civil e Policia Militar conseguiu localizar o carro de Nelson, no bairro Santa Cruz e, próximo ao local, se encontravam os adolescentes, V e J, ambos de 16 anos. Os dois foram apreendidos e encaminhados à Delegacia de Polícia Civil para esclarecimentos na condição de suspeitos. O delegado Rafael Jorge, a princípio trabalha com hipótese de latrocínio, que é o roubo seguido de morte, diligências continuam por parte da Policia Civil com o apoio da Policia Militar. (Fonte: William Tardelli/Redação ET)
Vizinho viu Nelson chegar em casa
Magal Pinheiro, proprietário da Pastelaria Magal, localizada ao lado da casa de Nelson, relatou à PM e à imprensa que, por volta das 20h30 da noite da terça-feira 1º viu Nelson chegando de carro com uma pessoa. “Não sei quem era, o Nelson até acenou, mas não identifiquei a pessoa, só percebi que era clara, cabelos mais compridos, lisos e pontas aneladas. Nelson parou em frente ao portão e entraram. Por volta das 11h, vi que a luz apagou e acendeu umas duas ou três vezes. Até fechar a pastelaria não vi ninguém sair...”, relata.
Uma ajudante de Magal conta também que, quando guardava as mesas que estavam no passeio, por volta das 00h30, o carro ainda estava na porta. “Quando fechamos a lanchonete, mais ou menos 0h55, o carro ainda estava lá”, informa.
De acordo com Magal, sempre que Nelson ia à casa, costumava comprar cervejas na pastelaria. “Ele não morava aí, mas sempre que vinha comprava cerveja e ontem não comprou”, afirma, lamentando a perda de “uma pessoa muito amiga, muito educada, um jovem alegre, um vizinho irmão que eu tinha aqui”.
Um outro vizinho, R, também teria visto o carro e uma bicicleta em frente à casa. Mas ninguém teria ouvido gritos ou barulho estranho naquela noite.
De acordo com Cloner, irmão de Nelson, a perícia teria dito que o corpo chegou ao IML sem rigidez, dando a entender que Nelson teria morrido na manhã do dia 2. É bem possível que tenha passado a noite agonizando. E as luzes piscando,, provavelmente, seria Nelson pedindo por socorro.
PM apreende os dois primeiros suspeitos da morte
Durante o registro da ocorrência do assassinato de Nelson, a PM recebeu uma ligação anônima dizendo que o veículo roubado teria batido num barranco numa estrada vicinal que dá acesso à Cachoeira do César, no final do bairro Alto Santa Cruz. No local, as viaturas encontraram o veículo ainda com o motor quente e com rastros frescos que levavam a um matagal. Separadas, as equipes de policiais iniciaram os rastreamentos no mato e horas depois lograram êxito em capturar dois suspeitos, os menores VSPS e JVS.
De acordo com o comandante da PM local, Ten Idônis Gales, ele já estava chegando em Conquista, onde reside, quando a PM recebeu a denúncia de que um carro, com as características do Fiat/Pálio de Nelson estaria estacionado na estrada da Cachoeira com duas pessoas no local, as quais, ao avistarem esse veículo que passava, saíram correndo para o mato.
“Assim que cheguei em Conquista, retornei em outra viatura e montamos a operação com os soldado Geraldo, cabos Lima e Thiago, o sargento Rogério e o sargento Azevedo, cuja atuação foi decisiva na captura dos menores”, disse o comandante ao ET, narrando o cerco.
“- Ao fazermos o cerco da área, eles tomaram rumo à Ritinha, onde foram encontrados, mas eles pularam no córrego tentando fugir. Conseguimos pegar um, enquanto o outro tomava outra direção, escapando de nosso grupo, mas caiu nas mãos de um militar que cobria o outro lado. E logo chegou a Polícia Civil, que é quem procede as investigações.
Segundo Idônis, os menores foram indagados e negaram a participação no crime, porém havia vários indícios. “Um deles, o fato de estarem no veículo da vítima. Outra coisa que reforçou a hipóteses foi a informação da mãe de J. dizendo que ele havia saído à noite, por volta das 20h00 e só retornou no dia seguinte, por volta das 11h . E disse mais, que “antes de o menor sair, ele havia questionado sobre o local onde era a Pastelaria do Magal”.
Ainda segundo o BO, uma testemunha confirmou ao Tenente Idônis e ao Cabo Geraldo que o menor havia chegado todo sujo de barro”. Ainda de acordo com tenente Idônis, após serem apreendidos, os menores foram conduzidos à Delegacia de Polícia Civil de Araxá.
Destacando a importância do trabalho entre as polícias Civil e Militar, o comandante destacou a operação realizada. “Foi um trabalho muito eficiente e agradecemos muito a confiança do Dr. Cezar Felipe, que considerou as informações colhidas cruciais para segurar os menores naquela Depol, o que colaborou em muito para a elucidação dos fatos”, afirma, destacando que, a partir de então, a competência ficou com a Polícia Civil.
Mãe preocupada chamou Ranério
Nelson trabalhava no Empório da Cerveja, mais conhecido como Bar do Ranério, desde a sua abertura há seis anos e estava no segundo dia de férias. “Ontem foi o primeiro dia de férias dele. E hoje a mãe dele me ligou pela manhã preocupada, porque ele havia saído pra voltar logo e não havia retornado e tinha uma entrega de bolo pra fazer. Eu então vim aqui na casa, chamei, chamei, olhei, não vi o carro”, narra, retornando a ligação à mãe de Nelson.
“- Eu disse a ela pra gente esperar, pensando que ele tivesse saído. Mais tarde, já depois do almoço, como não conseguíamos falar com ele, voltei à casa e nada. E como eu não conseguia pular o muro, o vizinho veio. Ele pulou o muro, abriu o portão, chamamos e como as portas estavam trancadas, ele quebrou o vidro da janela e ele lá. Eu não quis nem olhar...”, relata, emocionado.
Um ser humano maravilhoso
Nelson era o Nelson e vai deixar uma saudade imensa na cidade toda. Vai restar, sim, sua imagem cativante, sorriso largo e uma vontade de viver que era só dele. Muito antes de ser Rei Momo nos carnavais da cidade até 2012, já era muito conhecido e querido de todos.
Na Escola Coronel, onde cursou o Colegial, foi um aluno exemplar, com os colegas e professores, daqueles de dar flores aos mestres em ocasiões especiais.
Uma pessoa muito ligada à família e educada, um ser humano que estava sempre rodeado de muitos amigos. Nelson estava numa das melhores fases da sua vida, depois de perder uns quilos com a tão sonhada cirurgia de redução. Aliás, foi por isso que deixou o reinado de Momo...
E, agora, tão brutalmente assassinado deixa a vida. Quanto vale a vida, meu Deus! É a pergunta que fica junto a outras. Por que? Quem?
Definitivamente, a ordens da vida não deveria ser trocada. Temos que nascer, crescer e viver até quando Deus desejasse… Porém, por irresponsabilidade, estupidez e frieza de um indivíduo, em um ato bárbaro e desumano, tira a vida de um jovem inocente, um jovem que tinha sonhos, tinha uma família, amigos que o amavam, tinha dons e um futuro brilhante pela frente.
Isso, mais que pela impunidade, acontece por certo pela falta de amor, pela falta de fé, pela falta de Deus na vida. Vida que é uma dádiva divina e ninguém tem o direito de tirá-la, senão Aquele que lha deu.
Por que, meu Deus, as pessoas matam como se estivessem brincando? E, por isso, Nelson perdeu a vida, deixando uma família órfã, pai, mãe, irmãos e amigos. Todos órfãos de seus abraços, seu sorriso, sua graça, sua jovialidade e alegria contagiantes...
Fica a saudade daquele sorriso sempre cativante e prestativo ao servir os clientes no Bar do Ranério.
Um brinde à sua vida, Nelson, sempre povoada de amizade, de amor e alegria! Um brinde à sua eternidade! (ME)
Menos de 24 horas depois, morte de Nelson estava esclarecida
O trabalho eficiente das polícias Civil e Militar foram determinantes para, em menos de 24 horas, apreender os envolvidos, três menores, todos de 16 anos, e elucidar o bárbaro crime que tirou a vida do confeiteiro Nelson Netto, na noite do dia 1º último.
Primeiro, o cerco da Polícia Militar na região da Ritinha próximo ao córrego Benjamim, onde os menores, JVS e VSPS, foram apreendidos e encaminhados à Depol de Araxá, onde foram ouvidos pelo delegado regional, Cezar Felipe Colombari da Silva e, a seguir, o prosseguimento das investigações, que culminaram com a apreensão do autor do crime, VCR, no dia seguinte, pela equipe da Polícia Civil local, comandada pelo delegado Rafael Jorge.
Conforme nota da Polícia Civil, a morte de Nelson estava esclarecida, conforme nota expedida à imprensa pelo delegado regional, Cezar Felipe. “A Polícia Civil efetuou a apreensão do adolescente VSR, de 16 anos, responsável pela morte da vítima Nelson Borges Neto. Ele confessou que ceifou a vida da vítima para roubar o carro e depois vendê-lo e arrecadar o dinheiro. Com ele, participaram do assassinato os adolescentes, JVS e VSPS, os quais já haviam sido apreendidos, com o apoio da Polícia Militar, escondidos em um matagal, próximo ao local onde abandonaram o veículo da vítima.
Além do carro, também subtraíram pertences da vítima, como computador e outros eletrônicos. O carro, bem como os demais objetos subtraídos da vítima, já foram recuperados pela Polícia Civil. Os adolescentes aguardam apreendidos decisão judicial para serem recolhidos a local adequado para apreensão de menores infratores.
Participaram da resolução desse grave fato a equipe da Polícia Civil de Sacramento: Delegados Heli Geraldo Andrade, Cezar Felipe Colombari da Silva e Rafael Jorge. Investigadores Diego André Souza Lemos, Raphael Florentino Fonseca Rodrigues e Eduardo Vaz Marques. Escrivães Pedro Henrique Perassi de Oliveira e Rogério Ribeiro de Freitas”, informa a nota.
De acordo com o delegado Rafael Jorge, o principal envolvido, VSR, foi apreendido pela Polícia Civil na manhã da quinta-feira 3 e à tarde confessou o crime. “Graças a Deus, em menos de 24 horas conseguimos resolver esse crime com o apoio do Dr. Cesar, Dr. Heli e toda a equipe e da Polícia Militar, Ministério Público e Judiciário. Todo foram apreendidos”, comentou o delegado, informando como o terceiro menor foi apreendido.
“- Na verdade, eu desconfiava de um terceiro envolvido. Os dois apreendidos no dia 2 não me convenceram de que agiram sozinhos, para mim havia um terceiro elemento. E, de fato, um desses dois não havia participado do assassinato. As investigações prosseguiram até que, no dia seguinte, apreendemos, VSR, que confessou como matou Nelson. Em seu depoimento, ele disse que entrou primeiro e quando houve uma oportunidade, abriu o portão para JVS entrar”, informou.
Após o crime, os menores fugiram no carro da vítima tomando a direção de Delta, mas se perderam, até encontrar um posto de combustível onde passaram a noite. De manhã, retornaram a Sacramento, convidaram o amigo VSPS para passear de carro, onde foram até o rio Grande. Ao retornar, tentando esconder o carro em uma estrada próxima à Cachoeira, ficaram encravados, quando foram avistados e denunciados.
Na tarde de quinta-feira 3, após ouvir a confissão de VSR, o delegado Rafael Jorge, expediu uma representação ao juiz pedindo a internação dos menores, VSR e JVS, presentes na casa de Nelson no momento do crime. Agora, a competência é do judiciário”, afirma, acrescentando que, a hipótese de latrocínio do primeiro momento foi confirmada com a confissão. “Foi um latrocínio, roubo seguido de morte”, finalizou.
Ainda, de acordo com o delegado Rafael Jorge, outro menor, VSPS não esteve envolvido, ele só foi chamado no dia seguinte para andar de carro, quando foram pegos. Por serem menores, o poder Judiciário os encaminha para uma instituição própria do Estado, onde podem permanecer até três anos.
Família de Nelson pede justiça
Nelson deixa a mãe, Maria das Graças Silva e José Donizete Borges e mais dois irmãos mais velhos, por parte de pai, Cloner e Kânia, ambos residentes em Araxá. O irmão, assim que soube do ocorrido veio para Sacramento e acompanhou todos os procedimentos no local e no IML até a liberação do corpo e sepultamento, às 10h da manhã da quinta-feira 3.
Para a família fica um imenso vazio e a indignação. “Esperamos justiça, precisamos de justiça. Eu olhava meu filho naquele caixão e pensava em fazer justiça com minhas próprias mãos, mas não quero fazer, isso, complicaria ainda mais as coisas, quero que a Justiça tome conta e cumpra o seu dever de justiça”, relata o pai e o irmão Cloner completa:
“- Nossa família não vai fazer nada com eles, muito menos com suas famílias, porque não somos pessoas dessa índole. Se nossa família tivesse algum marginal, alguém ruim poderíamos fazer alguma coisa, mas não tem ninguém com esse perfil e não vamos fazer nada, só esperamos a justiça de Deus e dos homens”.
No fim da tarde, por ordem judicial, VSPS foi liberado e VCR e JVS foram recolhidos ao presídio até serem enviados para uma instituição própria para menores.
De acordo com a mãe, naquela terça-feira, ela e Nelson trabalharam o dia todo na confecção de bolos. “Nelson era tudo para nós. Um menino bom, responsável, carinhoso, alegre, trabalhador. Ele trabalhava no bar desde que o Ranério abriu e fazia bolos, doces, tinha um grande dom por confeitaria. Ele sempre falava onde ia, inclusive naquele dia, nós passamos o dia todo fazendo bolos. À tardezinha, ele saiu pra fazer uma entrega, voltou, fez outra decoração de bolo e disse: “Mãe, eu vou ali e já volto. Só vou comprar cigarro”, mas não voltou mais.
Prossegue Maria das Graças, ressaltando que não se preocupou, porque ás vezes ele dormia em sua própria casa, no Jardim das Acácias. “E naquela manhã, como ele tinha que entregar um bolo às 9h, e como era muito responsável com horários, eu me preocupei. Liguei dezenas de vezes no celular dele e nada, então chamei o Ranério, que foi lá e como o carro não estava, resolvemos esperar um pouco. E quando voltaram lá...”. A mãe ainda não acredita no que aconteceu. “A impressão que eu tenho é de que ele ainda vai voltar e entrar por aquela porta”.
De acordo com a amiga e companheira de trabalho, Lucimar, Nelson estava na sua melhor fase, muito feliz realizado, fica a saudade. E a mãe completa, lembrando que o filho aguardava ansioso a comunicação do hospital para uma cirurgia de plástica corretiva, decorrente da cirurgia bariátrica. “Ele fez todos os exames, os laudos estão aí e estava muito ansioso, só esperava a chamada e brincava: 'No dia em que me chamarem é capaz de eu ir correndo a pé até Uberaba... Não deu tempo, meu Deus!”, diz a sofrida mãe, com os olhos em lágrimas.