Um dos convidados ilustres da Primeira FLIT chegou atrasado: o Professor Dimas.
Imprevistos fizeram com que ele só conseguisse estar conosco depois do almoço de encerramento no domingo, dia 09.
Dimas é preto como a Mariana da Lídia.
Preto como a nossa homenageada, Carolina Maria de Jesus, a Bitita, do Quarto de Despejo.
Qualquer dia a gente conta para a Mariana que preta era a mãe do capitão São Roque, patriarca da família de Santa Maria, cujo pai era padre.
Dupla heresia.
Quando fiz um resumo do que havia se passado, Dimas quis conhecer a Aurora.
Aurora, como o nome diz, é branca como o sol do cerrado.
Num zóio azul como o céu de lá.
A acadêmica da USP é especializada em literatura russa.
Foi como juntar preto e branco.
O professor ouvia, olhava e sorria como criança.
Aurora recitou poemas e lembrou que na boa poesia a palavra conta e canta.
Dimas é homem simples, professor de história, aposentado.
Pelos livros já deu várias voltas ao redor do mundo.
Dimas é como Minas, muitas.
E muitas são suas línguas.
Gabriel, de 09 anos, quis saber quantos idiomas o professor fala.
Modesto responde: não falo, estudo.
Quantos professor? Nove.
Português, inglês, francês, espanhol, italiano, latin, alemão, holandês e russo.
O mesmo russo da professora Aurora, mas sem as entonações e os acentos, ele ressalta.
Só que ao contrário dela, Dimas é autodidata.
Quando pela primeira vez o chamaram assim ele concordou, mas não tinha a menor ideia do que significava.
Vai ser humilde assim longe...
Na linguagem da moçada, tipo a Mariana, o professor é geek, um anglicismo para nomear "os pinos redondos nos buracos quadrados".
Dimas não veio de carro, mas de carona.
Suas calças parecem ser um número maior.
Calvo, óculos, cabelos brancos, tem sempre à mão um livro e um embrulho em plástico.
Fosse tempo úmido certamente teria um guarda-chuva, desses que a gente aperta até ficar pequeno.
Fico pensando se no ano que vem não devemos chamar nosso encontro de festa.
Festa Literária do Triângulo.
Teve coral na abertura.
Teve varal, feira de livros e trocas.
Teve criança correndo e gritando.
Teve artesanato e quitutes.
Teve comida típica e orgânica.
Teve o Cerchi e o Muniz falando da Bitita.
Teve o Leal falando da Janete.
Teve a Aurora falando dos russos.
Teve o Boris falando do Padura, o autor cubano.
Teve a Alba falando do seu próprio livro.
Teve oficina texto e observação celeste...
Teve sarau e luau noite adentro.
Teve artes marciais e dança circular no dia seguinte.
Teve tanta história que deu até para escrever um livro.
Ou melhor, um caderno.
Dimas é o personagem que só chegou no fim.
Dimas é do tamanho das Gerais.
Dimas é do tamanho que a FLIT vai ser.
* Marco Aurélio Cordeiro
de Mello é jornalista e um
dos organizadores da FLIT