A escritora Carolina Maria de Jesus passa agora a ter um espaço permanente na agenda cultural e oficial da cidade, para estudos e debates sobre sua vida e obra. O prefeito Bruno Scalon Cordeiro instituiu, através da Lei 1.446, de dezembro de 2015, a Semana Carolina Maria de Jesus, que tem por objetivo, “defender, apoiar e preservar a memória da escritora e apoiar o desenvolvimento cultural dos cidadãos”. A programação da semana poderá constar de palestras, eventos, círculo de debates, representações artísticas e
culturais, atividades escolares, além de divulgação em nível nacional de suas obras e de
sua biografia
Ao presidir a primeira mesa de estudos, na abertura da semana, o prefeito Bruno Scalon Cordeiro lembrou, em entrevista ao ET, lembrou que a data marca a comemoração dos 101 anos de nascimento da escritora. “Como terra natal de Carolina, Sacramento não pode de forma nenhuma perder essa grande escritora de vista”, e lembra que a criação da semana foi uma sugestão do Professor, pesquisador e escritor José Carlos Sebe Bom Meihy
“- Ele sugeriu que não ficássemos focados apenas em exposição de trabalhos da escritora, mas que criássemos uma semana de estudos, de reflexão e hoje, 14 de março, data do seu aniversário, abrimos a I Semana Carolina Maria de Jesus que, anualmente, conforme lei de nossa autoria aprovada pela Câmara, será realizada anualmente, no mês de março e na semana de seu aniversário”.
Na segunda-feira, 14, após a abertura oficial pelo prefeito, os presentes tiveram a oportunidade de acompanhar uma palestra proferida pela professora e pesquisadora Eliana Garcia Villas Boas, que abordou a vida e obra de Carolina, sobretudo os manuscritos inéditos e uma relação entre o Diário de Bitita e o romance Rita, que mostra elementos ficcionais idênticos. Rita não foi publicado, como Diário de Bitita”, justificou.
Abrindo a palestra, Eliana revelou que só conheceu Carolina em 2010 no curso de História na UFTM. “Tínhamos uma disciplina, Sociedades Africanas, e quando apresentaram os autores negros que fizeram sucesso no Brasil, Carolina era delas. A professora da disciplina, Drª Leandra Domingues Silvério, sabendo que eu era de Sacramento, me passou a palavra pra falar de Carolina e eu, então, perguntei: 'Quem é Carolina?'. Ela espantou-se e disse: 'Você não sabe quem é Carolina?'. Eu não neguei. Respondi, 'não'. Aí veio o desafio, ela disse: 'Eliana, o seminário sobre Carolina é seu'. E aí comecei a estudá-la, li primeiro um resumo de Quarto de Despejo, me interessei muito e me aprofundei no estudo”, conta.
Na programação da terça-feira 15, exibição do Curta Metragem sobre Carolina Maria de Jesus; declamação de poemas, por José Belizário e, apresentações da Banda Lira do Borá, interpretando marchinhas de carnaval compostas por Carolina.
No dia 16, mesa redonda com o tema, "Memória em foco: O arquivo de Carolina Maria de Jesus e as novas perspectivas no campo de pesquisa", com a participação de Carlos Alberto Cerchi; Marilese de Almeida Pacheco, uma das primeiras artistas plásticas a retratar Carolina em óleo sobre tela e, o acadêmico da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Renato Muniz Barretto de Carvalho e mediação da arquivista, Eliana Garcia Vilas Boas .
Na quinta-feira 17, apresentação de poemas pelos alunos das Escolas Municipais e apresentação do Grupo de Dança Afro de Sacramento, com as músicas de Carolina Maria de Jesus.
Durante toda a semana, na Casa da Cultua, exposição de quadros, manuscritos e demais documentos de Carolina Maria de Jesus. A exposição encerra nessa sexta-feira às 17h.
Carolina tem uma trajetória admirável
Para o Professor Renato Muniz Barretto de Carvalho, secretário da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, a semana Carolina Maria de Jesus é importante na medida em que leva à discussão e reflexão temas ligados à obra e à vida de Carolina. “É importante que a comunidade comemore, discuta, faça o debate, apresente e divulgue a obra de Carolina, que nasceu em Sacramento e se tornou uma das mais importantes escritoras do Brasil.
Para Muniz, é fundamental que a cidade natal de Carolina estimule jovens escritores a assumirem o protagonismo que têm na literatura e, para isso, o exemplo de Carolina é fundamental”, frisou, destacando que Carolina tem uma trajetória pessoal”.
“- Os autores não precisam de academia para se tornarem imortais. Academia precisa de autores e a Carolina tem uma trajetória só dela, uma trajetória única, admirável e mais que isso, Carolina acaba sendo um símbolo de resistência, de luta, dos escritores e não precisa de nada a não ser dela mesma. Carolina viveu o seu tempo, soube compreendê-lo. É claro que ela sofreu. Sofreu a fome, a miséria, foi discriminada, marginalizada e isso marcou a sua vida, embora essa marca não seja só dela, ela é uma marca de toda sociedade brasileira. Então, em se tratando de Carolina, qualquer debate ou comemoração que se faça, sempre vai ser pouco, mas se pudermos com isso, valorizar sua a escrita, a auto critica e independência, estaremos cumprindo o nosso papel”.
Questionado sobre a dimensão de Carolina na região do Triângulo/Alto Paranaíba, Muniz, reconhece que é pequena. “Não tenho dados concretos sobre isso, mas o que vejo, como mero observador, é que apenas Sacramento a valoriza, no entanto, ela passou por Conquista, Uberaba. Nas outras cidades da região, em especial, em Uberaba ela não é conhecida e precisaria ser feito um trabalho nesse sentido”, afirma
Muniz afirma que o poder público tem sua responsabilidade, e cita como exemplo a instituição da Semana Carolina Maria de Jesus. “Mas a divulgação de sua obra é um trabalho de todos. E quando digo de todos, estão inclusas as academias formais da região, que são as universidades públicas e privadas, UFU, Unitri, UFTM, Uniube, Facthus, Uniaraxá, Unipac, têm a obrigação regional de estudar Carolina e sua obra, principalmente aquelas que têm o curso de Letras”.
O Prof. Muniz encerra, afirmando que todas escolas, do fundamental ao médio, têm a obrigação de fazer essa divulgação, “porque só valorizamos aquilo que conhecemos”.