A Bandeira de Sacramento foi idealizada pela inesquecível religiosa e artista plástica, Irmã Maria Benigna de Jesus Martins, da Congregação de São José de Cluny, que passou a morar na cidade logo que as irmãs assumiram a administração da Santa Casa de Misericórdia de Sacramento, em 1963, aqui permanecendo vários anos e atuando de maneira prodigiosa em vários setores da comunidade.
A sábia criatividade de Ir. Benigna fez, na minha concepção e, ouso dizer, uma das mais bonitas e ricas de simbologia de todas as bandeiras das cidades brasileiras. Ir. Benigna concebeu nossa bandeira retratando duas simbologias, a das figuras geométricas e a das cores.
Em relação aos símbolos geométricos, a bandeira de Sacramento foi concebida dentro de um retângulo. Nele se juntam três triângulos isósceles separados por duas faixas, um círculo e uma estrela. Ela se abre a partir do mastro através de duas faixas até as extremidades opostas, porém, que não se fecham, dando uma dimensão infinita, como a de dois caminhos sem fim, ou dois braços abertos para abrigar todos os seus cidadãos e imigrantes que por aqui aportam.
As duas faixas formam três triângulos: dois externos e um interno, simbolizando a Santíssima Trindade, onde, na sua abertura maior, Ir. Benigna incrustou um círculo representando a hóstia consagrada, o próprio Santíssimo Sacramento, que remete à origem da cidade, o orago a quem o fundador, Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick, dedicou a capela curada, em 24 de agosto de 1820, sob o patrocínio de Maria, conforme reza a ata de fundação da cidade, da terra do Santíssimo Sacramento ser o 'pasto espiritual' de sua gente,
Dentro do círculo branco há uma estrela de seis pontas, conhecida como Estrela de Davi, guardando também outra simbologia histórica: Jesus, o Santíssimo Sacramento, nasceu da estirpe de Davi.
Na simbologia das cores, ainda me lembro do desenho com lápis colorido apresentado ao então prefeito, José Alberto Bernardes Borges, Ir. Benigna utiliza duas cores primárias, o azul e o vermelho; e o branco. O campo azul dos dois triângulos externos corresponde ao manto de Maria, obedecendo à narração histórica do nascimento da cidade, que surgiu a partir da construção da capela do Santíssimo Sacramento, apresentado pelo patrocínio de Maria. “De humilde capela surgiste sob o manto da Virgem Maria”, diz a letra de Célia Bianchi no Hino de Sacramento.
As duas faixas que formam o triângulo infinito são brancas, a cor da paz, da concórdia que deve sempre existir entre os habitantes do município. O círculo branco, simbolizando a hóstia consagrada, tem também a cor branca, alva, que, aliás, é a ausência de cor, como que dizendo que o Santíssimo Sacramento não tem cor, Ele não segrega, Ele não discrimina, Ele não aparta, Ele não tem preconceito... Ele é o puro Amor e o Amor não tem cor...
No dizer de Paulo, em Coríntios 1: “O Amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso, o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. (1 coríntios 13).
Que linguagem maravilhosa Ir. Benigna deixou retratada em nossa bandeira. Assim ela queria nossa gente que, infelizmente, em muitos momentos não corresponde ao encanto desejado pela irmãzinha de Cluny.
Finalmente, a estrela de Davi, de seis pontas, em azul, colocada estrategicamente por Ir. Benigna dentro do círculo branco, ou seja, dentro do Santíssimo Sacramento, mostra a descendência nobre de Jesus. Ele nasceu da 'estirpe do rei Davi'.
O triângulo vermelho, na simbologia da saudosa Ir. Benigna, demonstra a bravura, o espírito de luta, a chama que arde em sua gente. Povo destemido, onde palpita o sangue (vermelho) revolucionário de um Cgo. Hermógenes, de um Coronel José Afonso, de um Eurípedes Barsanulfo, de um Pe. Victor, de um Leonard Nye, de uma Carolina Maria de Jesus, de uma Corina Novelino, de uma Corália Venites, de um Pe. Antônio Borges pra citar apenas alguns dos grandes homens que fizeram a grandeza desta terra. Eu completaria esta lista, hoje, com Ir. Maria Benigna de Jesus Martins, a irmãzinha portuguesa que, recentemente, descansou nos braços do Pai. (WJS)