O Parque Náutico de Jaguara, sob a coordenação de seu diretor, Ivan Sebastião Barbosa Afonso e de suas filhas, Renata e Paula Afonso, recepcionou nessa terça-feira 10, no salão do clube do parque, cafeicultores e compradores de café do município e região no III Espaço Jaguara de Cafés Especiais.
Presidida pelo prefeito local, Bruno Scalon Cordeiro, a mesa foi formada por outros dois prefeitos da região, Abrão Bispo, de Rifaina, e José Raimundo de Almeida Jr, de Pedregulho; Maurício Miarelli, presidente da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec); Hermógenes Vicente Ribeiro, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Sacramento, além de representantes das empresas patrocinadoras, Syngenta, Sebrae/SP, Mogiana/Cafés Especiais.
Na pauta dos trabalhos, mesa redonda abordando os temas, 'Manejo integrado de pragas e doenças', 'Diferentes formas de adubação nitrogenada' e conferência proferida pelo Prof. Flávio Meira Borém, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), sobre o tema, 'Inovações no cultivo de cafés especiais'. O evento prosseguiu à tarde, após o almoço, com o leilão de lotes de cafés especiais e roda de negócios entre vendedores e compradores, sob a coordenação do Sebrae/SP.
Ao convidar as autoridades para a formação da mesa, o também produtor de cafés especiais, Ivan Barbosa, afirmou que o Espaço de Cafés Especiais faz parte do projeto de desenvolvimento e incremento da cafeicultura especial na região. “Neste evento procuramos fomentar o cultivo, as práticas que melhoram o café e desenvolver atividades de comercialização de cafés especiais, com a presença dentre outros de dois grandes exportadores de cafés especiais, a Bourbon Speciality Coffees, de Poços de Caldas, e a Carmo Coffees, de Carmo de Minas. A cada encontro maior é o número de cafeicultores, isso mostra a robustez do nosso espaço de cafés especiais e isso faz com que ele se desenvolva”, afirmou, agradecendo a presença de todos.
O prefeito Bruno Cordeiro abriu o encontro dando as boas-vindas aos presentes destacando a lisonja da cidade em sediar o evento sob a coordenação de Ivan Sebastião Barbosa Afonso, empresário visionário no ramo de café e turismo.
“- Ivan é um baluarte em eventos que engrandecem a nossa cidade. E Sacramento se sente lisonjeada por receber pessoas que investem no agronegócio e de forma pesada na produção de cafés especiais. Para nós que temos vocação para o agronegócio é muito bom poder discutir estes assuntos, numa época em que o Brasil enfrenta tantas dificuldades, trazendo pessoas notórias para discutir alternativas de produção e de renda. Isso amplia horizontes e engrandece a nossa cidade”, frisou.
O presidente do Sindicato Rural de Sacramento, Hermógenes Vicente Ribeiro vê o evento como de extrema importância, por ser uma oportunidade de troca de informações e experiências.
“Hoje, não basta produzir café simplesmente, tem que produzir com qualidade, sobretudo cafés especiais que têm um mercado garantido e que dependem de aplicação de práticas diferenciadas na produção, mas que fazem muita diferença no retorno financeiro”, disse o presidente do sindicato.
Questionado sobre a produção de café no município, Hermógenes informa que a área plantada no município já foi bem maior, hoje é de apenas 2.500 hectares.
“- A maioria são pequenos produtores, com 20 hectares plantados”, informou, ressaltando a importância do encontro, no sentido de incrementar a produção no município e lamentando a rescisão do convênio entre Emater e Prefeitura, que mantinha no município um engenheiro agrônomo para acompanhamento técnico das lavouras, recentemente dispensado pelo prefeito Bruno Cordeiro.
Para Simone Goldman Batistic Ribeiro, do Sebrae/SP, o Espaço de Cafés Especiais em Jaguara, fomenta o mercado de cafés especiais na região que precisa aumentar a produção.
“- O produtores precisam acreditar nesse mercado que paga um preço bem melhor por esses cafés e a oportunidade é essa para aprender sobre como produzi-lo, conhecer produtores, ver de perto a comercialização, além de poder vender o seu produto. O Sebrae/SP acompanha esse grupo de produtores de cafés especiais, que são associados à Cocapec e à Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana (AMSC), como assessoria técnica”, explicou Simone.
Compradores elogiam café da Borá Agropecuária
Calixto Jorge Peliciari, gerente de qualidade da Carmo Coffees, empresa exportadora de Carmo de Minas, sudeste de Minas, cidadezinha de 14 mil habitantes que produz um dos melhores cafés especiais do país, falando sobre o evento, elogia a visão de Ivan Barbosa.
“- Ivan foi um dos primeiros a abraçar essa ideia de que a região tinha e tem condições de produzir cafés finos e de lá pra cá nos tornamos parceiros e compradores, porque exportamos para a Europa e Japão, uma média de 180 mil sacas de café especial, peneira 16 acima e de 84 pontos acima e o maior fornecedor da cápsula Nespresso”, reconhece o exportador, ressaltando que o mercado exterior é de expansão, razão da necessidade de aumento da produção da cafés especiais.
Entre os cafés produzidos na Alta Mogiana, região da qual Sacramento faz parte, Calixto elogia o café da Borá Agropecuária. “A primeira vez que provei o café, pela nossa experiência com cafés especiais, já me surpreendi. Liguei para o Júlio da Bourbon, com quem trabalhava, que também se interessou na sua origem e logo ficamos conhecendo o Dr. Ivan e por ele descobrimos também o potencial de Sacramento. O café da Borá Agropecuária chamou-nos a atenção pelo sabor frutado que lembra o chocolate e que na época recebeu pontuação de 87 pontos, de acordo com os parâmetros da Classificação Oficial Brasileira (COB) e a Metodologia Specialty Coffee Association of America (SCAA)”, comenta.
Questionado sobre o público consumidor do café especial, Calixto destaca que no Brasil o consumo cresceu bastante, embora os cafés especiais ainda estejam nas cafeterias e nas gôndolas do supermercado a um preço de R$ 120,00 o quilo. A resposta foi suficiente para definir o público consumidor e mostrar a importância de sua produção. Enquanto uma saca de 60 Kg de café comercial é vendida a R$ 400, o especial pode custar o dobro desse valor.
Júlio Aparecido da Silva Vieira, da Bourbon, endossa as palavras do ex-sócio, ressaltando também a importância do encontro, afirma que prestigia o evento desde sua primeira edição. “Como maior exportadora de cafés finos do Brasil e do mundo, num evento como esse temos que ser parceiros, porque e neles que encontramos os melhores cafés e os dessa região estão com altíssimo nível”.
Flávio Borém: 'Inovação no cultivo de cafés especiais'
Quando se fala no mundo em ciência por trás de uma xícara de café especial, o nome do professor Flávio Meira Borém(foto), do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), é referenciado e destacado em fóruns e eventos nacionais e internacionais. E, ninguém melhor que ele para dar uma aula sobre cafés especiais no Encontro.
Em entrevista ao ET, o professor explica o que é que faz um café ser especial. “Eles têm características únicas, diferenciadas do café convencional, seja no aspecto, cor, origem, sistema de produção, ambiente... Isto é, ele tem uma característica diferenciada. A produção pode até ser similar ao convencional, porém, ele tem características físicas e sensoriais diferenciadas.
E essas características advêm da interação genótipa (gene) e do ambiente e processo. Podemos ter um café especial advindo de um sistema de produção. Por exemplo, o café orgânico (cultivado exclusivamente com fertilizantes orgânicos e o controle de pragas e doenças deve ser feito biologicamente), desde que ele não tenha nenhum defeito e qualidade na bebida.
Outros cafés, por exemplo, de cunho social, o Fair Trade, é considerado especial pelo cunho social, isto é, produzidos por agricultores familiares, desde que atendam a uma qualidade mínima sensorial”.
De acordo com Borém, outros cafés especiais são os de origem (região onde a planta é cultivada). Isto é, têm a ver com a indicação geográfica, como o café da Alta Mogiana, que atribui um selo a todo café produzido na região, pela altitude, solos férteis e temperaturas amenas. “No município de Sacramento, temos uma região com características muito favoráveis para a produção de cafés especiais, que é na divisa Minas e São Paulo”.
Borém explica que, no entanto, o mais conhecido, mais aceito e valorizado é o café com qualidade sensorial muito alta, que são os cafés gourmets, praticamente isento de defeitos, tamanho dos grãos e, principalmente um sabor, um gosto, um aroma distinto e prazeroso.
“- Enquanto o café convencional apresenta um gosto de mofo, vinagre ou remédio, o café especial tem um sabor de caramelo, chocolate, rapadura, tudo isso natural de café. E mais, ele não amarga, dá pra beber sem açúcar, ao contrário dos convencionais que exigem muito açúcar para dar-lhes um sabor”.
Na sua palestra, Borém abordou o tema, 'Inovações no cultivo de cafés especiais'. Além de ampliar a visão sobre esse café nobre, Borém mostrou uma motivação pra a produção de cafés especiais, como alternativa viável para manter a cafeicultora por longo período. “Porque o mundo reclama por cafés especiais e paga muito melhor por estes cafés. Claro que, isso não quer dizer que todo café de uma lavoura vá ser especial, mas há 'fatias', pontos da lavoura que dão cafés de excelente qualidade e isso tem que ser levado em conta e isso vai fazer muita diferença”, ressaltou, chamando atenção para o custo da produção.
“- A diferença de custo no cultivo de uma lavoura convencional de uma especial é muito pequena em relação ao lucro que ela apresenta, em relação ao preço final de venda. Um café comum, hoje está em média, R$ 450,00 a saca; o especial está R$ 800,00. E o custo para produzir o café comum é quase o mesmo para produzir o especial, que vai depender das práticas, o manejo e não tenho dúvidas de que vale a pena investir em cafés especiais”, finalizou o professor.