Edição nº 1401 - 14 Fevereiro 2014
Luiz Fernando de Almeida (foto), 30, procurou o ET para contar a sua luta pela vida e a decisão que foi obrigado a tomar para garantir seus direitos de transplantado. O drama de Fernando começa ainda jovem. Aos 24 anos sua função renal agravou-se com a paralisação e atrofiamento dos dois rins, não restando outra opção a não ser um transplante urgente. A espera da vaga no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, foi angustiante. O pai, Pedro Antônio de Almeida, 54, mais conhecido como Pedrinho Mecânico não hesitou e pela segunda vez deu vida ao filho.
O transplante foi realizado com sucesso no dia 1º de julho de 2008. Na época, o ET conversou com a família, o pai, Luiz Fernando, a mãe Euripa Sebastiana da Silva (Tuta) e Ângela Maria Sabóia Carneiro, atual esposa de Luiz que o acompanharam a São Paulo, para nar a emoção vivida. Luiz Fernando, claro, era só gratidão. “Duas equipes médicas. A gente sabia como tudo ia acontecer. As duas cirurgias ao mesmo tempo. Durou seis horas. Meu pai me deu uma segunda vida, uma chance de viver...”. Para Pedrinho, ele fez o que devia. “Fui e aqui estamos, eu com um rim, ele com o outro. É uma emoção grande demais, é uma coisa que a gente nem sabe como explicar. Para mim foi uma coisa boa, mas para ele foi melhor, porque ele ganhou a vida novamente”, reconheceu feliz o pai, muito emocionado. Depois da cirurgia, UTI e 11 dias de internação, Luiz Fernando recebeu alta, mas permaneceu em São Paulo por mais 30 dias. Retornando a Sacramento, ia a São Paulo a cada 15 dias para uma avaliação. Com o tempo as viagens diminuíram, mas sempre com total apoio da Secretaria Municipal de Saúde. Mais de cinco anos se passaram...
E de repente um susto!
Luiz Fernando tinha uma vida saudável e tranquila, sem hemodiálise, apenas com os cuidados e medicamentos recomendados. Tudo corria bem, até que em novembro do ano passado, apresentou um quadro febril e mal-estar. “No começo de novembro, eu não estava bem, tinha falta de ar e febre. O médico plantonista da Santa Casa, sem pedir nenhum exame, um raio x sequer, diagnosticou reação alérgica e me passou um medicamento, ..............................que tomei por dois dias. Como não houve melhora voltei ao pronto socorro. Diagnosticaram infecção de garganta e me passaram o medicamento Azitromicina 1 grama, durante três dias”.
Conta Fernando que sentia seu quadro se agravar e mais uma vez retornou ao PS da Santa Casa. “Dessa vez, o médico me deixou em observação, fazendo inalação. Falei que eu estava preocupado com a minha função renal, ele pediu exames laboratoriais e um raio x dos pulmões. Mesmo internado, dentro do Pronto Socorro, o laboratório cobrou todos os exames. Os exames de sangue foram todos negativos, mas o raio x, segundo médico apontava uma pequena pneumonia. 'Nada muito agravante' – disse ele, recomendando-me tomar Levofloxacino de 500 mg, durante três dias, que tudo estaria resolvido”.
Luiz Fernando voltou para casa, mas a situação piorou. “Não conseguia dormir, com a respiração ofegante. No dia 18, à noite, decidimos ligar para o Dr. Aluísio, que atendeu no consultório e imediatamente me encaminhou para a internação. Fiz uma bateria de exames que apontou uma infecção generalizada. Isso depois de ter passado por três médicos. Dr. Aluísio, imediatamente, entrou em contato com os médicos em São Paulo e eles pediram pra me transferir para o A. Einstein”.
Lei garante certos direitos a transplantados
Luiz retornou a Sacramento, no final de dezembro e terá retornos periódicos ao Alberto Einstein para acompanhamento, mas teme não ter ajuda da Secretaria Municipal de Saúde, como aconteceu no seu traslado. “Não deram importância alguma pelo fato de eu ser um transplantado, de ter um único rim, de estar com uma infecção generalizada e, ainda, não querer arrumar uma UTI para me levar a São Paulo, afirmando que eu poderia ir para Uberaba”. Por todo esse descaso é que Luiz Fernando está buscando na Justiça os seus direitos.
Conta mais Fernando que o pouco caso continuou até mesmo quando ele estava internado em São Paulo. “O hospital, através da assistente social, fez contato com a Secretaria de Saúde de Sacramento, explicando que meu tratamento no A. Einstein era todo bancado pelo SUS, mas a acompanhante, no caso, minha esposa, não. E pediu que o município arcasse com as suas despesas de estadia, refeições e um lugar para ela dormir, um procedimento comum com todos os acompanhantes, e sempre concedido pelas prefeituras”, ela me disse. “Ela negou e disse que já fez muito em arrumar a ambulância pra você”.
Segundo a assistente social, conforme narrou Fernando, de todas as cidades que ela já fez contato, a de Sacramento, foi a que mais a atendeu mal. “Sinceramente, fiquei com vergonha, quando a assistente social falou: 'Nunca conversei num município, com uma pessoa tão mal educada como essa.. Senti muita vergonha”, reconheceu Fernando.
E para piorar a situação, ao retornar a Sacramento, depois de quase 40 dias internado entre a vida e a morte, Luiz Fernando, depois de pagar R$ 1.800,00 pelos exames feitos na internação de 18 para 19 de novembro, recebeu da Santa Casa outra conta de quase R$ 2 mil. “Dr. Aluisio disse que eu estava imunes-supressivo e teria que ficar isolado , num lugar sem nada e agora tenho uma conta dessas, mesmo eles sabendo que é ilegal, pois o tratamento para pacientes transplantados é pago pelo SUS. Assim como recebo, gratuitamente, medicamentos do Ministério da Saúde, através da Secretaria Regional de Saúde, em Uberaba”.
Através da Justiça, Luiz Fernando espera se livrar da dívida da Santa Casa, ser ressarcido dos exames que pagou e das despesas da esposa em São Paulo, que saiu de férias do trabalho para acompanhar o marido.
“- Arcamos com as despesas dela. Estamos com todos os recibos, notas fiscais de tudo o que gastamos”, afirma e diz mais: “Enquanto aqui eles fizeram questão em fazer exames laboratoriais pelo SUS e apenas um raio x, estou com uma pasta de exames que foram feitos em São Paulo. Só raios x, foram 42. Não paguei nada, entrei e saí com um atendimento de altíssima qualidade. Por que essa diferença, se lá também é pelo SUS?. Eles alegam que eu paguei o Dr. Aluísio, mas se eu não pagasse, estaria morto, porque já havia passado por três médicos, estava cada vez pior e cada um falava uma coisa”.
Luiz Fernando quer garantir também o direito de fazer o tratamento fora do município. “Isso é um direito que todo transplantado tem e preciso ir periodicamente a São Paulo. Procurei a Secretaria de Saúde e disseram que podem me dar R$ 5,00 de vale alimentação por viagem. Como vou fazer com esse valor? A Secretaria de Saúde empurra para a Assistência Social e vice-versa e nenhuma das duas assume a responsabilidade”.
Luiz diz que nunca conseguiu falar com o secretário, mas já falou com o prefeito. “Na verdade, não sei quem é o secretário de Saúde, sé o Dr. Maurício Scalon ou a Sra. Reginalda. A situação ficou tão dramática que fui até o prefeito e não foi só uma vez, não. Foram várias e outras pessoas ligaram e falaram diretamente com ele, mas ele nunca resolveu nada. Estou indo atrás dos meus direitos e vou conseguir, se Deus quiser”.
R$ 5,00 por viagem para alimentação
Ao fazer essas declarações à imprensa, Luiz Fernando explica que o seu objetivo em colocar à público o seu dram. “É mostrar à população os direitos que temos para cada caso. Isso pode acontecer com outras pessoas, quem sabe já não aconteceu e ninguém fez nada. Minha intenção não é prejudicar ninguém, muito pelo contrário, quero dar uma satisfação para as pessoas que rezaram por mim, que se preocuparam com minha vida que esteve por um fio e, ainda, prestar esclarecimentos às pessoas para que isso não volte a acontecer, porque nós temos direitos”, alerta.
Finalizando, faz um apelo à prefeitura e funcionários: “Quero fazer um pedido á Prefeitura e aos funcionários para que atendam melhor as pessoas. Sou testemunha de que a falta de educação é muito grande por parte de alguns funcionários da Secretaria de Saúde. Eu já fui recebido por uma funcionária que se disse secretária de saúde. Mas li no jornal que o Dr. Maurício acumula duas pastas. Sem autoridade, ela não me mostrou sequer a intenção de estudar o caso, analisar, passar pelo jurídico. Simplesmente, me respondeu que não poderia fazer nada, a não ser me dar uma ajuda de R$ 5,00 por viagem para alimentação”.
Mais 38 dias internado em São Paulo
Para a transferência, Luiz começou também a enfrentar dificuldades com o serviço de saúde pública do município. “A prefeitura não queria arrumar a UTI, foi necessário um laudo do Dr. Aluisio pra eles liberarem. Eles diziam que não havia necessidade de ir para São Paulo, queriam que eu fosse para Uberaba, sendo que uma equipe médica me aguardava em São Paulo, onde eu fiz o transplante. Afinal, o caso era grave, tratava-se de uma forte infecção e eu poderia perder o único rim que tenho. Já em São Paulo, a ambulância, ao invés de ir direto para o hospital, passou num posto, colidiu com uma bomba de combustível. Foi um atraso de mais de uma hora e eu muito febril, com uma máscara de oxigênio, passando mal na ambulância”.
Já no Albert Einstein, Luiz deu entrada na emergência e o atendimento foi imediato. “Eles perguntaram se aqui em Sacramento não tinha equipamento para intubar e falaram que eu deveria ter saído daqui intubado, porque meu caso era muito grave e, logo fizeram uma fístula no pulmão”, narra Fernando, emocionado, ao recordar o drama vivido, mostrando o desfecho:
“- Resultado: fiquei 38 dias internado, do dia 19 de novembro ao dia 26 de dezembro. Meu rim transplantado parou por quase 20 dias, sem os médicos saberem se ele voltaria a funcionar. Foram 22 dias na UTI, sete dos quais, inconsciente; mais sete dias na semi intensiva. Três drenos no pulmão; biopsia pulmonar. Minha esposa, Cleidiene, foi e ficou comigo durante todos esses dias, porque o hospital exige a presença de alguém para assinar os papeis, autorizações para procedimentos e também dar as informações necessárias”.