O mergulhador Diego Martins Ribeiro, 27, morreu afogado no rio Grande, na madrugada do último domingo, 9, no local conhecido como “Poção”, próximo à antiga ponte ferroviária, na Jaguara Velha.
De acordo com o BO, a testemunha Gustavo Bovi de Melo, 29, relatou aos bombeiros que Diego estava fazendo filmagens noturnas com uma câmera digital e que, por volta da 1h30, depois de vários mergulhos, ele mergulhou novamente e não voltou mais à superfície.
O Corpo de Bombeiro chegou ao local por volta das 8h30 e foram levados até o local do mergulho pela testemunha Gustavo. Após a demarcação da área e mergulho de reconhecimento, os BMs observaram que o local apresentava boa visibilidade e uma profundidade superior a 30 metros. A partir de então, os BMs passaram a executar mergulhos em dupla na forma de revezamento, até que a vítima foi encontrada por volta das 12h.
De acordo com o relato dos bombeiros, Diego encontrava-se num patamar de pedra numa profundidade aproximada de 25 metros – a pedra o impediu de descer a uma profundidade maior – registram.
Diego estava vestido com roupa neoprene, lanterna, relógio de mergulho, nadadeiras, cinto de lastro de 4 kg, luvas, faca e uma câmera digital envelopada para proteção contra água. Próximo ao corpo foi encontrado também um arpão utilizado para pesca subaquática, ainda armado. Os BMs desarmaram o arpão por motivo de segurança e levaram o corpo à superfície.
A Polícia Civil de Araxá foi acionada, comparecendo ao local o agente Germano Jeremias Moreira Lúcio e o corpo foi encaminhado ao IML às 15h20. Os pertences da vítima foram entregues ao irmão Uilher Martins Ribeiro, 30, exceto a câmera digital que foi levada com o corpo para o IML.
Trabalharam na operação de resgate do corpo, os BMs do 8º Batalhão de Bombeiros de Uberaba (8º BBM): Welinton Tolentino Pacheco, Alaor Gustavo Silva & Silva, Renato Ferreira Marques e Fabiano Marques da Silva.
Natural de Campinas (SP), Diego, que completaria 28 anos no próximo dia 22, era filho de Filomena Aparecida das Chagas Ribeiro e de Adão Martins Ribeiro. Diego deixa, além dos pais e irmãos, a esposa Leila e dois filhos, uma menina de cinco anos e um menino de um ano e quatro meses.
O corpo de Diego Martins Ribeiro foi sepultado no Cemitério S. Francisco de Assis, na segunda-feira, às 10h da manhã.
Família revela o grande amor que tinha por Diego
A jovem Leila de Oliveira Mesquita (foto), esposa de Diego, acompanhou o marido naquela noite e estava acompanhando os mergulhos do píer da pousada. “A prática do mergulho era a paixão do meu marido. Ele era um mergulhador apaixonado pelo que fazia, tinha todos os equipamentos, fez cursos, um deles de mergulho em apneia”, conta.
(O mergulho em apneia ou mergulho livre consiste em o atleta permanecer o maior tempo submerso ou percorrer a maior distância ou profundidade sob a água, sem o auxílio de equipamentos para a respiração, ou seja, apenas com a reserva de ar de seus pulmões, preparação física e principalmente do controle emocional).
De acordo com a esposa, Diego promovia cursos de mergulho em Sacramento, tendo como instrutor principal, o mergulhador profissional, Diego Santiago, do Rio de Janeiro. “Ele já estava fazendo a programação para realizar um novo curso em dezembro. Diego amava o que fazia e dizia para os amigos que se tivesse que morrer um dia, queria que fosse debaixo d´ água”, recorda, ainda muito emocionada.
Leila acredita que Diego deve ter ido além da profundidade ou poderia também estar cansado. “Acredito também que ele estivesse cansado, porque trabalhou duas madrugadas seguidas, dormiu pouco, mas mesmo assim ele quis mergulhar. Ele já havia feito alguns mergulhos, um de uns 17 metros e pegou um cascudo enorme. Nesse último, quando ele disse que iria mergulhar novamente, eu pedi pra deixar para o dia seguinte, mas ele disse que seria só uma voltinha”.
Relata mais Leila que foi até o píer com eles. “Eu sempre ia, ajudava a ajustar os equipamentos e eu sempre pedia cuidado, pra não ir muito fundo. O arpão era do amigo dele, um arpão novo. Quando eu o vi pegar ao arpão pedi: 'Diego, não vai, você está destreinado de mergulho à noite”, mas ele respondeu: 'Mor, é só uma voltinha, vou testar a goma do arpão e ver se pesco alguma coisa”, recorda.
Prossegue Leila, lembrando que permaneceu no píer observando quando ele submergia e voltava à tona... “Eu fiquei olhando até perdê-lo de vista. Ele sumiu e voltamos para a pousada. Cerca de 30 a 40 minutos depois, seu amigo, Gustavo, que nos acompanhou naquela noite, vai à pousada e me chama, falando de sua apreensão. Ele disse que havia mergulhado, que o procurou debaixo d´água por meia hora e não o encontrou. Gustavo não mergulha grandes profundidades e na hora do mergulho Diego ainda falou pra ele. 'Gustavo, vá do meu lado, que qualquer coisa eu te socorro”.
Segundo Leila, a primeira providência foi sair e procurar na esperança de que ele estivesse boiando. “Pegamos um barco e saímos. Rodamos, rodamos, gritamos, jogamos focos de luz. Rodamos a beira do rio todinha até por volta das 3h e nada. A esposa do Gustavo ficou no píer no maior desespero, parece que já antevendo o pior. E foi uma angústia muito grande, porque a gente não conseguia falar ao telefone. Ligamos pra polícia, caiu em Rifaina, e eles falaram que teríamos que acionar Sacramento. Aí não conseguíamos e ligávamos pra um, pra outro e nada, até que começou a chegar gente. 4h30 da manhã. Estava muito aflita, muito sentida, não sabia o que fazer, peguei as crianças e vim para casa, aí era esperar...”, recorda, em lágrimas.
De acordo com Leila, o corpo foi encontrado, cerca de três a cinco metros de onde ele e Gustavo estavam mergulhando. A esposa confirma que nas primeiras buscas, quando saiu de barco com Gustavo, ela percebeu uma luz no fundo do poço, a lanterna de Diego havia permanecido acesa. Ao narrar a triste experiência, confirma a certeza de ter visto a lanterna acesa.
“- Passamos naquele lugar várias vezes e hoje eu tenho certeza: Eu via o foco da lanterna de longe, mas quando a gente aproximava com o foco da luz do barco, perdíamos a claridade. A lanterna estava ligada quando encontraram o corpo. Dizem também que os bombeiros ouviram o bip do relógio...”.
Para o Corpo de Bombeiros, ainda sem o laudo definitivo, a hipótese mais comum nesses casos de mergulho sem equipamento de oxigênio é 'o apagão de apneia', por isso, talvez, a hipótese mais provável do afogamento do jovem Diego, que não conseguiu também soltar o lastro de cinco quilos que o faz afundar.
De acordo com Leila, todo mergulhador tem essa defesa instantânea, se percebe que está passando mal, solta o cinto que prende os pesos em seu corpo. “O equipamento é muito prático e fácil de ser retirado. Quando a pessoa sente que vai passar mal, perder a consciência, ela puxa o cinto e aí boia, rapidamente. Uma das hipóteses é de que com a grande profundidade, ele estava a mais de 20 metros de profundidade, tenha travado a traqueia e aí ele perdeu a consciência. É o 'sono profundo de apneia', conforme eles chamam no mergulho. Os bombeiros levaram a câmera, que deve ter registrado alguma coisa, agora é esperar pra saber o que de fato aconteceu”.
Finalizando, Leila explica que, anteriormente, Diego havia passado mal duas vezes em mergulhos. Na primeira vez, ele conseguiu tirar o cinto e boiou. Um colega o socorreu e ele vomitou muita água. Na segunda vez, naquele mesmo Poção, ele estava em companhia do professor Diego Santiago (Veja o depoimento de Diego Santiago). Santiago saiu e ele não apareceu, aí ele voltou e encontrou o Diego desacordado. Santiago soltou o cinto, ele boiou e ficou vários minutos desacordado. Nesse dia, Santiago ficou muito bravo com ele e lhe disse: 'Mergulhador profissional não pesca à noite'. Mas Diego era muito aventureiro...”.
Para a família fica a dor da perda
Para os familiares, sobretudo a esposa Leila, fica a dor da perda. “Estamos juntos há seis anos, temos dois filhos e ele era uma pessoa maravilhosa, bom pai e bom marido. Uma pessoa tão especial que eu chegava a pensar que talvez não merecesse tanto. Era de muito bom coração, sempre pronto a ajudar as pessoas. Ele tirava dele para dar aos outros. Muito trabalhador, ultimamente estava trabalhando na empresa Togni”, elogia.
Leila fala também dos sonhos que Diego tinha. “Ele tinha sonhos: o primeiro deles era abrir uma loja de material de mergulhos. Fazia planos para o nosso casamento, dizia que iria cantar para mim e nossos filhos seriam os pajens. Eu pedi tanto que ele não mergulhasse de novo... Pedi que não mergulhasse à noite...”, ressalta e faz um apelo aos amigos. “Que isso sirva de alerta para todos. Eu não perdi só um mergulhador, perdi um companheiro, um amigo, um amor, um herói, um guerreiro, um grande pai de nossos filhos, uma pessoa especial e agora fica o vazio...”
A mensagem do amigo Diego Santiago
O Prof. Diego Santiago (foto) postou na sua página no feice, uma mensagem e um alerta para os amantes de mergulho:
“- Muito triste! Diego Martins organizou por duas vezes nosso curso em Sacramento e estava tudo certo para o terceiro, agora em dezembro. Ele sempre dizia que sua principal preocupação era a segurança do pessoal que estava praticando a Pesca Sub sem conhecimento, na região.
Conheci um cara super acelerado, tenso todo o tempo, chegou a chorar algumas vezes desabafando comigo, mas que dentro d'água iria me surpreender: diminuía totalmente o ritmo e relaxava. Mas essa falta de controle emocional iria cobrar um preço, e bem alto.
Na primeira vez em que estive lá, os amigos me alertaram que ele já havia 'apagado' , mergulhando. Conversamos muito sobre o assunto. Na segunda vez, fomos juntos mergulhar em uma represa após a aula. Percebendo que ele subia muitas vezes no 'limite', após mergulhos fundos, o alertei ainda na água e não consegui mais mergulhar, preocupado. Alguns mergulhos depois, o vejo subindo muito rápido, desesperado. Foi a primeira e única vez na minha vida, com mais de 4 mil alunos formados, que vi um mergulhador 'apagar'. Tirei-o da água e quando 'acordou', dei-lhe um esporro tão grande, que depois até me arrependi um pouco. Ele chorou muito e pensei que havia aprendido a lição, mas infelizmente, ontem, ele errou novamente e foi a última vez. Diego 'apagou' e não mais voltou, exatamente no mesmo lugar em que eu o havia resgatado há um ano, a 25 metros de profundidade.
Como ele se preocupava muito com a segurança dos outros, deixo um alerta, como forma de homenagem a meu amigo: mergulhar fundo não é para quem quer. Muito mais importante que a parte física, a responsabilidade e o controle emocional são imprescindíveis. Diego Martins deixa esposa e dois filhos pequenos. Descanse em paz meu irmão e que Deus possa confortar sua família”.
Diego Santiago é graduado em Educação Física pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro com diversos cursos na área, incluindo o de Guardião de Piscinas pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro. Atual campeão Brasileiro individual, atual campeão Estadual (RJ) individual e por equipes, atual campeão Mundial por equipes e 4º do mundo, recordista Brasileiro e Mundial da captura da garoupa (São Tomé) e atleta do Iate Clube do Rio de Janeiro e PK sub.