Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Lar São Vicente trabalha no limite da capacidade

Edição nº 1418 - 13 Junho 2014

Na Semana do “Não á violência contra o idoso”, em 2013, o ET conversou com a coordenadora do Grupo Geração 60+, Sinara Silva e vários membros da grupo, durante a caminhada matinal,  quando falaram de suas práticas, atividades enfim, o seu dia a dia. Este ano, a visita foi ao Lar São Vicente de Paulo, conversando com a administradora, Sonia dos Reis Aparecida da Silva Reis  e a assistente social, Malena Cristina Santana e também com moradores da casa. Deise Maria Reis Araújo é a presidente do Lar. O Lar São Vicente de Paulo, com capacidade para 45 pessoas, atende atualmente 44 com idades entre 38 a 88 anos. “Excepcionalmente, um dos internos, de 38 anos, está sendo atendido na casa pela falta de uma instituição própria. O pai está abrigado aqui, não tem onde deixar o filho portador de necessidades especiais, então o acolhemos para não  separar os dois”, explica Malena, que completa: “É o coração de mãe”.   A casa tem 44 idosos, mas nos próximos dias deve chegar a 47, porque às vezes não tem como falar, não. A adoção dos moradores na casa é feita mediante pedido da família, outros são encaminhados pelos PSFs. “Fazemos visitas domiciliares e, na maioria das vezes, constatamos que a família não tem condições de cuidar, devido ao trabalho, filhos pequenos, etc. Uma vez feita a triagem, eles passam por uma série de exames e aqui continuam o tratamento”. 

 

São raros os casos de violência física

De acordo com Malena (foto), são raríssimos na cidade, os casos de denúncias sobre maus tratos a idosos. “Felizmente isso não ocorre em Sacramento. Já tivemos sim denúncia, mas fomos averiguar e constatamos que não se tratava de maus tratos, o idoso apenas gritava na hora de tomar banho. E isso ocorre também aqui no Lar. Temos idosos que se sentem inseguros, principalmente na hora no banho, têm medo de cair, ás vezes não  gostam de tomar banho  e gritam. Temos uma interna aqui que grita muito, mas é devido à doença de Alzheimer.  É comum acontecer isso e às vezes quem ouve e não sabe, pensa que são maus tratos”. 

Um trabalho que tem sido feito no Lar é o combate ao chamado abandono moral, quando a família deixa o idoso no lar e não aparece mais. “O abandono moral  é um tipo de violência  e cobramos muito isso da família. Fazemos inclusive atividades internas como a festa junina voltada para a família, um momento de encontro, de integração. O lar acolhe, abriga, mas a família tem a sua responsabilidade. 

A instituição ajuda a família a cuidar do idoso. Não é só a medicação e o zelo da instituição que bastam, o convívio com a família, a presença, a atenção, são necessários e importante. Temos, inclusive,  a obrigação de relatar ao Ministério Público os casos de abandono moral, isso está previsto no Estatuto do Idoso.

“- Aqui, nós não só propiciamos momentos de encontro como cobramos também a presença, não só nas festas. Temos um horário extenso de visitas e a família pode vir qualquer horário. Entendemos que é impossível que, em 24 horas, não sobre um tempo para passar por aqui e ver seu parente. Para nós, o mínimo de  visita, seria, como eles esperam, aos domingos. Temos internos que ficam ansiosos. Domingo para eles é dia de encontro com os familiares. Eles ficam aguardando”. 

 

 De acordo com Malena, os internos que têm condições saem, passeiam e os que têm família na cidade visitam os familiares e  amigos, mas há os acamados que precisam da vista no Lar. 


“O lar é uma casa de família”

A assistente social Malena destaca a convivência e integração existentes entre os internos do Lar. “É uma convivência bonita,. O lar para eles é uma casa de família. Temos um interno que a família vem buscá-lo pra sair e logo quer voltar. Almoça com a família e volta logo. Eles conversam, contam casos, dão risadas. E hoje temos poucos idosos com condições de interagir, muitos sofrem de Alzheimer, sofreram AVC, são casos que chegaram aqui depois de  famílias terem feito de tudo pra cuidar. Mas os que podem se interagir, jogam, adoram futebol, novela, batem papos e até namoram”, conta.

 

As necessidades do Lar

Afirmam Malena e Sônia (foto) que o lar é como coração  de mãe, conforme os caso não dá para  falar não. “A pessoa precisa de abrigo, de cuidados e, aí vamos improvisando”, afirmam. Para atender a essas necessidades, o lar precisaria de pelo menos mais dois quartos, para mais quatro camas, porque idosos não podem dormir em beliches. “Temporariamente, vamos ficar com 47 idosos e teremos que criar um espaço para eles”.  Além disso, a casa necessita de reparos na rede de água, vazamento nos chuveiros e manutenção no telhado. 

Sônia ressalta que seis internos usam dieta enteral ( feita através de uma sonda), uma alimentação de alto custo. O Lar necessita também de muita fralda descartável, são cerca de três mil fraldas por mês. “Embora o Lar receba muitas doações de fraldas elas não são suficientes e o Lar é obrigado a comprar”. 

O lar emprega atualmente 27 pessoas, incluindo a equipe multidisciplinar, obedecendo às exigências legais: cuidadores, nutricionista, fisioterapeuta, assistente social, enfermeira, técnico de enfermagem, faltando ainda um terapeuta ocupacional.  

 

De acordo com a administradora Sônia, há uma exigência legal de pagamento à instituição no valor de 70% da aposentadoria do interno. “No entanto, os responsáveis pelos idosos acostumaram a pagar 70% do salário mínimo. Embora a maioria seja aposentada com um único salário, alguns recebem mais e deveriam pagar mais, ou seja 70% do total do vencimento. É o que estamos tentando fazer, conscientizando as famílias, porque são elas que administram esse benefício do parente internado”, explica. 

 

Baltazar e José fazem a alegria da casa

Durante a visita do ET aos internos, lá no corredor estava Baltazar Bárbara de  Souza, 72, da região do Quenta Sol, morador no Lar  há cinco anos, que não pára,  adora trabalhar e lá está com um rodo na mão.  “Trabalhei a vida inteira, como é que vou ficar parado, aí vou ajudando as meninas”, diz com uma boa risada. 

Já o José dos Santos Almeida, 76, viúvo há dois anos e que em agosto completa um ano no Lar, arrancou gargalhadas dos internos com suas histórias. “Conquista é a cidade onde nasci, mas moro em Sacramento há mais de 60 anos. Era rapazinho quando mudei pra cá. Me considero mais sacramentano que conquistense.   E fiquei conhecido como Zé das Éguas, por causa do meu irmão, muito bêbado,  que falou isso. E bêbado,  o que ele fala no meio dos outros pega mesmo. Mas toda vida gostei de cavalos, gostava de montaria e se tiver um cavalo ainda monto. E olha que se eu andar dez dias a cavalo e um de carro, vou cansar mais no carro”, confessa para o delírio dos amigos da casa.  

 

E recorda mais. “Com 12 anos comecei a catirar animais. Fiquei rapaz e comecei a amansar animais: cavalo, égua, burro, mula, o que aparecesse. Teve uma vez que amansei uma das mulas mais bravas que já vi. Montei nela aqui e em 50 minutos tirei o arreio dela lá dentro de Conquista”, contou, e a gargalhada foi geral. Muito hilário, José lembrou das cachacinhas nos botecos. “Onde eu via um a portinha,  eu parava”; da  época que tocava gado para o matadouro com José Flores, das boiadas para São Tomás de Aquino, na região de São Sebastião do Paraíso. “Tudo acaba. Tenho saudades daquele tempo...”

 

Promotor cobra participação do Conselho 

O Promotor José do Egito de Castro Souza (foto) foi o palestrante na abertura da Semana do Idoso, promovida pela Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social. Ressaltando a importância da conscientização do tema, José do Egito cobrou a participação do Conselho que, em tese, deveria ser o promotor do evento. 

“- Eu cobrei isso na palestra” – afirmou. “É indispensável que o Conselho Municipal do Idoso participe de todas as proposições em prol do idoso, inclusive na elaboração do orçamento. A lei diz isso e eu a trouxe aqui. O Conselho tem que participação da elaboração do orçamento para canalizar algum dinheiro para este fim”. 

Segundo o promotor, a lei foi criada, conforme sua determinação, porém deixou de constar um artigo importante: “Na lei não há  a previsão de fundo. Então, se uma empresa particular ou qualquer pessoa quiser fazer uma doação para abater no Imposto de renda, não tem como, porque a Lei Municipal não criou o fundo. O Conselho de Araxá recebeu lá mais de três milhões de uma empresa, mas por quê? Porque tem o fundo Municipal do Idoso. Essas coisas precisam ser reguladas em Sacramento”, aconselhou.

Egito afirmou na palestra que é precisos realçar esse combate à violência, conscientizando os idosos sobre os seus direitos para se ter uma reação contra a violência. “O índice de violência no âmbito doméstico familiar contra o idoso, ultrapassa os 50% em todos os lugares, os registros apontam isso. Essa semana mesmo recebi denuncia de violência contra idoso praticada pelos netos menores de idade”, revelou, reconhecendo que, de acordo com as estatísticas, a violência contra o idoso no âmbito familiar é muito grande. “Por isso a importância da conscientização para que os idosos não se calem”. 

De acordo com o Promotor, uma vez ele recebeu, via Ouvidoria do Ministério Público, uma reclamação sobre violência por parte de funcionários do Lar São Vicente de Paulo, mas nada foi apurado. “Instaurei um inquérito civil público e ouvimos vários idosos, médico, os funcionários, enfermeiras, mas não se comprovou nada”. o promotor informou ainda que periodicamente  visita o Lar e entrevista, no mínimo, três idosos, além da conversa informal com  todos. 

 

Ao sair do Centro Administrativo o promotor José do Egito mostrou ao ET que falta vaga de estacionamento, demarcada no solo, para o idoso. 

 

Conselho fica fora da pauta do evento

Em entrevista ao ET, a presidenta do Conselho Municipal do Idoso, Sonia dos Reis Aparecida da Silva Reis, também administradora do Lar S. Vicente de Paulo, que cuida de 44 idosos, afirmou que não participou da elaboração  da pauta do evento, muito menos da coordenação. “Eu penso que  poderíamos aproveitar melhor essa semana,  se pudéssemos sentar todos juntos e focar determinados assuntos, as prioridades do momento na cidade. Mas, não sabemos o que será tratado nessas palestras”, afirmou. De acordo com Sônia, o Conselho é uma exigência de lei federal  e que está sendo estruturado na cidade, porém não  tem participação efetiva.  

 

Leis garantem direitos dos idosos

Os direitos do Idoso estão garantidos na Lei nº 10.741, de 1º/10/03, que estabelece no seu artigo 2º o seguinte: “O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. 

 

 Art. 3o - É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”. 

 

Quem faz parte do Conselho

Os  membros do Conselho Municipal do Idoso de Sacramento tomaram posse  no dia 1º de outubro de 2013. Titulares: Adriano Magnabosco, Kellen Kaprice Candido, Arnaldo Santana, Douglas Marcelo Silva, Sonia Aparecida da Silva Reis, Raul José de Almeida, Irinez Luiz dos Santos e Jamil Salim Leme. Suplentes:  Soraya Amado de Araújo, Elza de Oliveira Menezes, Ana Mara Vaz, Ihana Junqueira de Castro Bezerra, Mariscler Regivane Barbosa, Eurípedes Vieira da Silva, Shirley Ribeiro Scalon e 

 

Geisa Aparecida Augusto Pacheco. (Jornal Auê)