Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Hilário Tomaz um guardião da história de barbearia na cidade

Edição nº 1428 - 22 Agosto 2014

Hilário Tomaz, 74, nestes dias que antecedem a data dos 194 anos de Sacramento, é um dos guardiães da história da barbearia no município ao conservar no seu salão, ali na praça Dr. Valadares,  uma relíquia: uma cadeira de barbeiro de puro mogno e ferro, que deve pesar no mínimo uns 60 quilos.

 Nascido na região do Cocal, Hilário iniciou no ofício de barbeiro aos 16 anos. “Lá na roça, era uma dificuldade vir à cidade e aí, aos 16 anos, comecei a cortar cabelo com tesoura e a fazer barba com navalha de todo o pessoal da redondeza. Nos finais de semana, aos sábados ficava até madrugada e, aos domingos o dia inteiro. Cortava cabelo de mulher também, mas depois larguei. Cabelo de mulher é mais difícil, dá mais trabalho e elas também” (risos).

Visando dar mais conforto aos clientes, Hilário conta que adquiriu a cadeira há mais de 50 anos de um antigo barbeiro de Ponte Alta, o Remi, que era irmão do Áureo, que trabalhou no banco CrediReal .  “Paguei 200 cruzeiros e quem levou 'ela' pro Cocal foi o Alberto Zago, numa perua Kombi, porque vivi com meu pai na fazenda até os 32 anos e meu ofício era trabalhar na roça durante a semana e nos finais fazer cabelo e barba”, recorda.

 Depois de casado, Hilário saiu da casa do pais, adquiriu uma chácara na Cachoeira, para onde se mudou com a família. “Comecei a comprar uns bezerros. 'Eita' tempo difícil, a gente passou dificuldade no começo. Ficamos morando na Cachoeira e montei a barbearia aqui no bairro do Rosário, perto do Antonio Manzan, onde trabalhava nos finais de semana”, conta, sem ter a mínima  ideia de quantos cortes de cabelo e barba já fez na vida. “Só sei que faço isso há quase 60 anos”.

A cadeira de origem espanhola fabricada pela empresa J. Camilli, em São Paulo, na rua Aurora, nº 14, traz a inscrição de exclusividade: 'únicos fabricantes'. E por ela Hilário já enjeitou até R$ 10 mil. “Todos que veem essa cadeira ficam doidos, já veio muita gente de muitos lugares pra comprá-la, dizem que é coisa rara, mas ela não está à venda. Vou deixá-la para meu filho Laurício. Enquanto eu aguentar vou seguindo no ofício, aqui bato papo com os amigos e faço a serventia, quando parar ela vai ficar com meu filho e os netos”, testamenta.

Nesses anos todos, Hilário acredita que ela tenha mais de 100 anos, a cadeira perdeu um pouco de sua originalidade. Por exemplo, a beleza do assento e encosto de palhinha trançada foram substituídos por uma almofada de napa. “Estava muito estragada, arrebentada a palhinha, aí mandei fazer essa almofada, mas o restante é original, a madeira, os pés que são de ferro,  o apoio para os pés e não tem perigo de sair daqui, porque é muito pesada, embora antigamente eu a tenha carregado algumas vezes”. 

Hilário é, notoriamente, o mais longevo e o mais antigo dos barbeiros da cidade que tem histórias pra contar e muitas.  Hoje separado, Hilário,  que é pai de dois filhos Laurício e Lilian (de saudosa memória), mora com o filho e vive curtindo os amigos do dia a dia na barbearia, curtindo os cinco netos e fazendo a sua história e a de Sacramento. Parabéns,  Hilário.