Dois jovens enamorados: de um lado a quase adolescente Geralda Garcia Silva (Totó), na flor da adolescência, de 12 para 13 anos; de outro, Bernardo Rosa Pires, quase rapaz feito, beirando os 18 anos. Ela da comunidade de Quenta Sol, ele, do arrail próximo, Santa Bárbara. Quis o destino que se conhecessem num jogo de futebol, daqueles realizados nos campinhos das comunidades rurais, sobretudo em dias de festas, no dia do terço de São Benedito.
“- Eu subi numa pedra pra ver o jogo e de repente ele, com uma camisa de jogador muito bonita, toda listrada, ficou parado, aquele moço lindo, perto de uma cerca de arame me dando umas olhadas... Três meses depois do pedido formal a papai, nós nos casamos, era o dia 8 de julho de 1944. Todo Quenta Sol se vestiu para a festa do casamento sob as bênçãos do padre Ivo, de Delfinópolis.
Com boas risadas lembram os dois que vieram à cidade a cavalo com os pais para comprar as roupas. “Mamãe carregando meu irmão Evaristo que era bebê. Fomos à loja do João Elias, compramos o pano do vestido e precisávamos do pano branco pra camisa do Bernardo, dona Nagib sugeriu o mesmo tecido e ele comprou. Para o terno foi casimira. Ela nos indicou também a costureira Dirce e um alfaiate. Me lembro que, ao terminar as compras, dona Nagib pegou uma estampinha de São José, pôs em cima dos panos e falou: 'São José vai proteger o casamento de vocês'. Guardamos até hoje este São José...”. Na missa de ação de graças um dos netos entrou com a estampa para as homenagens ao casal que comemorava Bodas de Vinho.
E 70 anos se passaram...
Totó, Bernardo, os filhos, netos, bisnetos, familiares e amigos têm razões de sobra para comemorar, ainda mais se pensarmos em grandes números: 25.567 dias, 613.608 horas... Deveras é muito tempo de vida juntos, superando dificuldades, vencendo desafios, criando os filhos juntos.
“- Não foram fáceis, mas vencemos”, diz Geralda hoje prestes a completar 88 anos ao lado de Bernardo, nos seus belos 94 anos, ambos muito lúcidos, participando da eucaristia com os 11 filhos: Sebastiana (Orlando), Maria de Lourdes (Nilo), Doroteia (Pedro) Ana Maria (Antonio), Gorete (Fernando), Tarcísio (Kênia – falecido), Cássia (Valdir), Juscelino (Cynara), Márcia (Ezio), Ubaldo (Maria Lùcia) e Márcio, 27 netos e 19 bisnetos.
Para Totó, o segredo da vida a dois se resume em “paciência, respeito, tolerância, coragem” e, para Bernardo, “é paciência. Geralda toda vida foi muito nervosa, mas eu sempre tive muita paciência. Até hoje, se eu vou ajudá-la em alguma coisa não serve”, afirma e garante que se fosse hoje faria tudo outra vez. “Eu gostava dela e ela gostava de mim. Lembro-me ainda hoje dela em cima da pedra olhando pro campinho”, diz com uma boa risada.
Nesses 70 anos de casados, Geralda e Bernardo nunca dormiram de mal um com o outro. “Não me lembro de nunca dormirmos separados um do outro, e nunca vamos nos separar”, confessa Bernardo. E Geralda completa: “Hoje a gente tem os problemas de saúde, da idade, às vezes eu me deito mais na beirada da cama e ele pede: “Chega mais pra cá, mulher”, diz, entre risos dos dois e Totó emenda: “Com os filhos pequenos, um atrás do outro, já dormimos em cinco na cama, um no meu colo e outros dois ainda bebês, nos pés...”
Muito trabalhadores, ela na lida da casa, ele nas lavouras das pequenas propriedades que tinha, saindo de madrugada e retornando a noitinha, viveram dias difíceis, com muito trabalho na criação de 11 filhos, mas sempre muita fartura em casa, com alimentos sempre orgânicos, por isso todos sadios. “Eles foram criados com coisas boas, sem adubo. Era arroz, feijão, verdura, rapadura, melado, leite, porco, galinha tudo coisa de primeira, tudo muito sadio”.
Além dos afazeres domésticos e de cuidar dos filhosm Totó era a responsável pela ordenha, o queijo, os porcos e galinhas, o polvilho, a farinha e muito mais. “Até os sapatos e botinas do Bernardo eu que fabricava, depois que Bernardo comprou uma oficina de conserto de calçados. Fiz até chuteira pro Bernardo jogar bola. E fazia as roupas também. Bernardo vendeu uma porcada pra Centralina e eu pedi ao meu cunhado pra comprar uma máquina de costura. Tenho as duas máquinas até hoje, a de calçados não funciona, mas a de costura funciona até hoje”.
Nas duras lides rurais, um fato não sai da lembrança do casal, recordado por Totó. “O Bernardo saiu de madrugadinha para acabar uma colheita e eu fui tirar o leite. Dei falta da vaca Amarelinha, que estava prenha. Acabei de tirar o leite e fui atrás dela. Uma garoa, um neblinão que encobria tudo, até que, de repente, avistei 'ela' no meio da neblina e vi o bezerrinho no chão. Mas quando a Amarelinha me viu, veio com tudo pra cima de mim, que fugi até subir em uma pequena árvore. E ela ficou lá dando cabeçada no tronco, que vergava e eu lá firme, só me equilibrando com o pé na única forquilha. Isso era de manhãzinha, o Bernardo deu falta de mim em casa e veio me procurar. Quando me encontrou era mais de uma hora da tarde. E a vaca lá. Ele foi a cavalo e me salvou”, conta com boas gargalhadas.
Tempo de agradecer
Para celebrar os 70 anos de casados, toda a família se reuniu na Matriz do Santíssimo Sacramento para uma bela missa em ação de graças celebrada pelo pároco, Pe. Sérgio Márcio de Oliveira. Para o casal, o momento foi de agradecer. “Só temos que agradecer a Deus porque a vida a dois não é fácil, há muitos tropeços, passamos por muita coisa, filhos que ficam doentes, a perda do nosso filho Tarcísio, a gente pensava que não fosse agüentar. Hoje, são os netos, bisnetos que dão preocupação. A família aumenta e as preocupações também. Mas graças a Deus, ele não me deu tamanho (referindo-se à sua altura), mas me deu muita força e coragem para enfrentar a vida”.
Para Bernardo, eles estão deixando um exemplo. “Hoje as cosias estão muito mudadas e nós com 70 anos de casados, uma vida de muito trabalho, muita luta, mas vencemos. Hoje as coisas são mais fáceis, mas o mundo está muito mudado, a família está muito mudada. Dou graças a Deus por nossa vida”.
A homenagem dos filhos
Toda a família está muito feliz e honrada em poder comemorar as Bodas de Vinho de Bernardo e Geralda. Para comemorar os 70 anos de matrimônio, escolheu-se como símbolo o vinho. A bebida que quanto mais tempo passa melhor fica, simboliza a experiência de vida, e o companheirismo entre o casal. A alegria de estarem juntos e a intimidade conquistada dão um sabor especial ao amor.
A filha Márcia proferiu uma bonita mensagem em nome da família, no final da celebração.
Tempo de agradecer
Para celebrar os 70 anos de casados, toda a família se reuniu na Matriz do Santíssimo Sacramento para uma bela missa em ação de graças celebrada pelo pároco, Pe. Sérgio Márcio de Oliveira. Para o casal, o momento foi de agradecer. “Só temos que agradecer a Deus porque a vida a dois não é fácil, há muitos tropeços, passamos por muita coisa, filhos que ficam doentes, a perda do nosso filho Tarcísio, a gente pensava que não fosse agüentar. Hoje, são os netos, bisnetos que dão preocupação. A família aumenta e as preocupações também. Mas graças a Deus, ele não me deu tamanho (referindo-se à sua altura), mas me deu muita força e coragem para enfrentar a vida”.
Para Bernardo, eles estão deixando um exemplo. “Hoje as cosias estão muito mudadas e nós com 70 anos de casados, uma vida de muito trabalho, muita luta, mas vencemos. Hoje as coisas são mais fáceis, mas o mundo está muito mudado, a família está muito mudada. Dou graças a Deus por nossa vida”.