Como tudo começou
Paulo nasceu em São Paulo, em 1976, com o irmão gêmeo Pedro para fazer companhia para a irmã Joana. Criados pelo pai que tinha também os filhos José Carlos e Antônio Carlos, de um primeiro casamento, os gêmeos tinham pouco mais de dois anos, quando perderam o contato com a mãe. O pai nunca mais teve outra companheira, criou sozinho, os três filhos.
O tempo passava, mas o sonho de reencontrar a mãe e conhecê-la nunca abandonou Paulo. “Durante toda vida, eu vivia insistindo com meu pai sobre o paradeiro de minha mãe. Ele sempre respondia: 'Meu filho, sua mãe foi embora. Sumiu...'. Ele chegou a dizer que ela havia morrido. Vieram anos, saíram anos... Antes de meu pai falecer, há 15 anos, um dia ele me chamou e disse: 'Meu filho, você quer encontrar a sua mãe? Procure que você vai encontrar'.
Paulo não perdia as esperanças e mesmo atento não encontrava nenhuma pista, nem respostas obteve das cartas enviadas às TVs. “Escrevemos para os programas de TV do Ratinho, do Gugu, Celso Portioli, Eliana, nunca tive nenhuma resposta de ninguém. Nesse meio tempo me casei, mas nunca desisti de encontrar minha mãe”, conta.
A busca pela mãe só começou a se consolidar a partir de uma conversa com o escrivão do Fórum de Sacramento, Christian Bizinoto. “Eu trabalhava na fazenda do Cleomar Bizinoto e um dia falei com o filho dele, o Christian. Ele me pediu os dados e disse que iria ver o que poderia fazer. Saí da fazenda do Cleomar e fui trabalhar com o 'seu' Zé Renato, da Sak's. Ele também se interessou e começou uma busca”.
Um ano de intensa procura
Depois de mais de um ano, finalmente, veio uma primeira notícia de sua mãe, graças ao trabalho de busca do escrivão Christian, que deu a feliz notícia a Paulo: “Encontramos sua mãe, ela mora na cidade de Dianópolis, no Tocantins”. Paulo não se conteve nas emoções e logo arrumou as malas. Com a ajuda de José Renato e do sogro, Heli Santos, que o levou de carro, Paulo foi até a cidade de Aparecida de Goiânia, onde a mãe o aguardava, na casa de seu outro filho.
“- Ela estava em Aparecida de Goiânia, na casa de um filho, porque eu tenho mais quatro irmãos, o Alessandro, que minha mãe estava esperando quando saiu de casa há 35 anos, e outros três, o Isaías, Valéria e Lucas”, conta, agradecendo o escrivão pelo interesse e trabalho. “Sou muito grato a ele, acho que ele ficou mais de um ano nessa busca”, reconhece.
Desentendimento separa casal
Mas Paulo não era o único a procurar a mãe, também a irmã Joana, que não tinha contato com o irmão, buscava o paradeiro da mãe através de posts nas redes sociais, até que encontrou o irmão, Alessandro, que também estava procurando os irmãos. “Marcamos encontro e a partir daí foi fácil o reencontro. Eu tinha cinco anos, quando perdemos contato com mamãe”, explica.
Joana conta o que de fato causou a separação da família. “Papai era bem muito mais velho e mamãe tinha trinta e poucos anos, bonita. Papai era muito ciumento. Havia muitas brigas por ciúme e mamãe ia sempre para a casa de uma comadre, talvez, para esperar o clima acalmar. Numa dessas brigas, ela pegou o Alessandro, que era bebê, e foi para a comadre. No que ela saiu, papai nos pegou, o Paulo, o Pedro e eu e mudou de bairro. Saímos do Jabaquara e fomos morar no bairro de Americanópolis, na rua Astrolábio, onde ficamos muitos anos. Quando mamãe retornou a casa, no Jabaquara, claro, não encontrou ninguém. Papai nos dizia que mamãe havia saído de casa, tinha nos abandonado. Mas acho que ele se arrependeu disso, porque antes de falecer, ele contou a verdade, disse que gostaria de vê-la e nos mandou procurá-la”.
Joana foi a primeira que encontrou a mãe, mas como não tinha contato com os irmãos, Paulo e Pedro, não houve como dar a boa nova. E Paulo completa: “Tudo isso acontecendo e eu não sabia de nada, só depois que ela encontrou a mãe e confirmou, foi que me deram a notícia. Quando fiquei sabendo, foi uma emoção muito grande. Falei com minha mãe por telefone. A Joana foi ao encontro, mas eu não quis saber detalhes, quero sentir a minha emoção, porque toda vida eu quis encontrar minha mãe”.
A expectativa do encontro
Paulo viajou para Aparecida de Goiânia na manhã da quarta-feira, 22, de carro com o sogro, Heli Rosa dos Santo,s e cheio de grandes expectativas. “Estou indo com o coração nas mãos de tanta emoção. Não consigo nem imaginar como vai ser o encontro, acho que não vou ter nada pra falar, mas vou como coração aberto para o perdão, o amor, o carinho, pra tudo”, afirmou ao ET quando partiu.
O sogro Heli, emocionado, disse que participou dessa angústia da procura e, também, da emoção do reencontro. “Paulo é meu genro há seis anos e sempre o acompanhei nessa agonia, na busca desse sonho maior de encontrar a mãe e agora, graças a Deus ele conseguiu esse momento inesquecível, que pude presenciar. Eu sempre pedi a Deus, que, se ela estivesse viva, que ele pudesse ficar frente a frente com ela. Estou muito feliz e agradecido a Deus, que não abandona seus filhos e mais feliz ainda por poder ser portador de uma história dessas”, afirma Heli, que traduziu o reencontro como “indescritível”.
O reencontro
Vencidos os 550 km entre Sacramento e Aparecida de Goiânia, Heli estacionou o carro no Supermercado Macro para Paulo indagar sobre o endereço. “Íamos por uma rua que um rapaz havia indicado e numa esquina decidimos parar e perguntar para o motorista de um Gol. Quando bati o olho nele, achei que era meu irmão, Pedro. Perguntei por Da. Leozina, e ele respondeu: 'É minha mãe, eu sou o Isaias, ali é a casa'. Meu coração disparou. De frente a minha mãe, a primeira coisa que falei foi, 'sua bênção, mãe'”, contou, já com os olhos rasos d'água. “Aí a gente não conseguiu falar mais nada... mas também não tinha muito o que falar, não, era só dar aquele abraço que esperou 35 anos. Eu não conhecia minha mãe nem por foto”, narrou.
Paulo passou dois dias com a mãe e não saiu do seu lado. “Não arredei o pé, só fiquei junto dela. Conversamos muito. Ela contou sua vida depois que saiu de casa, só não contou porque nos deixou, disse que vai contar, quando vier passear aqui, porém eu não quero saber do passado. Se ela não quiser contar, pra mim tudo bem. Não vou julgar minha mãe, quem julga é Deus, eu só posso dar o perdão, o mais que eu quero é viver o presente e o futuro com ela”, disse, com sabedoria.
Assim Paulo realizou o seu sonho... Além dos irmãos por parte de pai, Antônio Carlos e José Carlos, Paulo já conhece Isaías, mas falta ainda conhecer o irmão legítimo, Alessandro, e os outros dois irmãos, por parte da mãe, Valéria e Lucas.
Paulo quer também, antes da chegada de sua mãe, convencer o irmão gêmeo, Pedro, que hoje mora no município de Rio Paranaíba a vir a Sacramento conhecer a mãe. “Pedro tem uma certa mágoa da mãe. Eu respeito, mas acho que têm que se conhecerem. Ele nem me ligou pra saber como foi o encontro. Mas eu já falei que ele tem que saber perdoar porque ela é nossa mãe. Assim que ela chegar, vou ligar, quero que ele venha conhecê-la, quero fazer o encontro da mamãe com o Pedro”.
Finalizando, emociona-se ao falar da despedida. “A hora da separação foi muito triste, mas quando ela despediu do meu sogro ela disse: “Cuida bem do meu filho lá em Minas, viu”, isso para mim foi só alegria”, relatou com os olhos marejados.
Paulo chegou a Sacramento há seis anos e há cinco anos é casado com Gislaine e tem um filho, Farlen Bruno, de 14 anos, que mora com a mãe, sua primeira mulher, em Rio Paranaíba. Nascido no Jabaquara (SP) veio com o pai e os irmãos para Rio Paranaíba, morar na fazenda do irmão, Antônio Carlos, em 1987. O pai e a irmã Joana retornaram a São Paulo, Pedro e Paulo ficaram por aqui.
A felicidade por fazer o outro feliz
Christian Bizinoto, feliz com o resultado das buscas, conta que foi cerca de um ano de procura. “Foram centenas de e-mails, muitos contatos. A gente encontrava pistas, ia atrás, não era. Encontrava outra e nada, até que um dia deu certo, faltava apenas a confirmação e conseguimos. Fico muito feliz com a felicidade do Paulo e por poder ajudá-lo na realização desse sonho”, afirmou por telefone.
Para José Renato Marques, é grande a alegria em ver o sonho de Paulo realizado. “A vida é cheia de surpresas boas e ruins, mas essa é ótima. Paulo está recebendo um presente impar, que não tem como definir e que muita gente gostaria de ganhar. Paulo trabalha comigo há sete meses e desde o início ele fala da vontade de encontrar a mãe. Passou-me uma lista com os dados, começamos uma busca e o Christian foi mais esperto, ele está dando este presente ao Paulo, mas a alegria atinge todo mundo e é uma história que tem um final feliz. Ela está bem, com saúde e peço que Deus dê muita saúde aos dois para que possam recuperar esse tempo perdido”.
Dona Leozina em Sacramento
Nesta segunda-feira, os filhos, Joana e Paulo receberam o ET com a mãe Leozina Marques Batista. Na asa de Paulo e Gislaine, desde o final de semana, Leozinha vai ficar por aqui uns tempos. Recuperada de um AVC, mas ainda com algumas sequelas, contou um pouco de sua história. “No Tocantins, eu trabalhava e morava no emprego, mas adoeci, aí meu filho Isaias me levou para Aparecida que tem mais recurso, ainda não sei quanto tempo vou ficar aqui”, afirma.
De poucas palavras, dona Leozina não deu muitos detalhes de sua vida e da separação dos filhos só se limitou a dizer: “Eu procurei, procurei muito, mas não encontrei. Aí fiquei perambulando com o menino no braço e daí fui para uma fazenda trabalhar de cozinheira. Aí a família me chamou pra ir para Santa Catarina e lá fiquei uns anos na fazenda”, recorda.
Sobre o encontro com os filhos Joana e Paulo relata: “Não sei explicar o que senti, mas foi uma alegria grande. Os meninos procuravam, mas não encontravam, até que um dia o Alessandro encontrou a Joana. Pensei que nunca mais fosse ver meus filhos”.
De acordo com dona Leozina, de Santa Catarina, ela foi para o Tocantins, onde depois de dez anos sozinha, conheceu Valdeci, pai de Lucas. “Não deu certo e nos separamos. Depois conheci o Juarino, pai de Isaías e Valéria, mas há mais de dez anos vivo sozinha”, conta mais, falando do sofrimento porque passou. “Tive uma vida de muito sofrimento, muito difícil e carregando ainda essa saudade dos filhos. Nunca esqueci deles, só não sabia onde encontrar, mas agora vou encontrando um por um”, finaliza.