Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Devós analisa o impacto financeiro causado pela estiagem

Edição nº 1400 - 07 Fevereiro 2014

O funcionário público, Luiz Devós, contador com larga experiência nas finanças públicas e profundo conhecedor da realidade econômica do município,  tem estado nas manhãs das quartas-feiras, na Rádio Sacramento, respondendo sobre uma série de assuntos de interesse geral. No terceiro programa, que foi ao no último dia 5, o tema abordado pelo âncora do programa, o jornalista Silas Bonetti, foi 'as consequências que poderão advir da longa estiagem que assola, Sacramento e região. Em outras palavras, o impacto financeiro e econômico que essa estiagem poderá trazer para nós, sacramentanos. 

 

Silas: No programa anterior, você falou dos oito grupos que formam a   riquezas de Sacramento.  Por gentileza, poderia confirma-los?

Devós: Muito bom a recapitulação desses grupos, pois números são sempre difíceis para uma boa assimilação e houve  alguns questionamentos que até gostei muito. E vou aproveitar para esclarecer que, quando falei em R$ 1.285.000.000,00 de Sacramento é o PIB – Produto Interno Bruto e não é imposto arrecadado,  não. Agora, falando dos oito grupos, temos um grande destaque para produção de  energia com 53,41%, em primeiro lugar; o  agronegócio, em segundo lugar,  com 39,35%. Esses dois grupos são os formadores das principais riquezas do município, representando mais de 92% nos repasses do ICMS e CFRH.


Silas:  Todos os dois dependem de  água e muita chuvas e parece que este ano não estão ocorrendo boas chuvas. Fale um pouco. Você tem acompanhado as previsões?

Devós: Realmente,  nos anos passados ou melhor,  nos últimos três verões não tem  chovidos bem na região, as chuvas têm estado abaixo da  média,   principalmente nas nascentes do rio Grande. Este ano está mais agredido ainda com um fenômeno conhecido pelo pessoal do tempo,  como de alta pressão com  formações de correntes de  ventos no  oceano Atlântico soprando no  sentido inverso aos das   chuvas. Para a agricultura até que 2013, foi um ano  bom. Colheram bem e também venderam bem. Ajudado por um fator climático, igual a este que estamos vivendo, o país, maior produtor de grãos do mundo que são os  Estados Unidos, não tiveram  uma safra cheia por falta de  chuvas  - seca lá  - com baixa produtividade,  faltou soja e milho no mercado mundial. Agora, preocupante mesmo, está sendo este ano. Muito sol, menos chuvas e temperaturas elevadas. A média pluviométrica em  janeiro,  na  fazenda do Nossa Senhora Aparecida,  de César  Pirajá,  “Coró”,  perto do posto do Tião,  mostra que em janeiro de 2013 choveu 399 milímetros; em janeiro deste ano, apenas 87 milímetros, sendo que a média de chuva nos últimos cinco anos  foi de 394,8 milímetros. Resultado, sol ardente com os serviços de meteorologia registrando dias com  temperaturas acima  da  média em  2  a 3  graus, nunca registrada há 75 anos, quando iniciaram as medições.

 

Silas:  Já há registro  prejuízos na agropecuária este ano?

Devós: Tenho informação de que em levantamentos  aqui,  Pedregulho e no Sul  de  Minas  -  região cafeeira -  os grãos  não  estão   granando,  por falta  d'agua e muito calor. Grãos pequenos é sinal de renda baixa. O Roberto, técnico da  Emater, confirmou algumas  quebras  nas  lavouras  de soja  e  milho em Sacramento. Essa é uma época que a planta  necessita de   muita  água, porque está com  suas vagens  e  espigas  em  formação. Isto foi na semana passada, a cada dia que passar sem chuva  pior será. E a  mídia tem trazido informações de  quebra  na produção  de  leite por falta  de  pastagem. O que acabamos de ver são dados da região com influência sobre o  agronegócio, pela  falta  de  chuvas com  muito  calor.


Silas: E o rio Grande com as  usinas, como estão e  como ficam?

Devós: Antes de falar do rio Grande vejamos um pouco das  regiões  sudeste e  parte da região sul. Como já foi dito,  o Brasil está passando por um ciclo raro, de três verões consecutivos com chuvas abaixo da média histórica,  isto só  correu na década de 1950 e o  pior: não há previsão de precipitações abundantes em fevereiro,  o negócio  é  esperar pelas chuvas de  março.  Já os  reservatórios, pelo que sabemos,  até hoje não refizeram suas capacidades plenas.  Em janeiro,  quando os reservatórios das hidrelétricas costumam encher,  as chuvas ficaram em 54% para menos  da média histórica. Fato como este, somente ocorreu em 2002, com a diminuição no período,  quando tinham que aumentar o volume d'água nos reservatórios. Mas, ainda é cedo para arriscar uma projeção, porque ainda temos mais uns três  meses para possíveis  chuvas. No final de março e  princípio  de  abril já é possível uma projeção com um resultado  mais certo e concreto. Tenho acompanhado todas as informações possíveis  do volume de  água do  rio Grande. A represa de Furnas, que é a mãe, a caixa d'água do  rio  Grande,  pois é ela que regula  todo o fluxo d'água dessa bacia,   são 1.440  km2 de água  alagados com  20  metros de lâmina d'água  de  profundidade, ainda falta recompor. Até o dia 31/01,  última medição,  era de 7,2   metros da sua  capacidade  total da quota máxima. No Sudeste,  as bacias ainda não refizeram,  estão com apenas 54% de suas capacidades histórica para a época, conforme dados do  Valor Econômico – dos  dias 1  e   2  de fevereiro. Então, pelo que vemos,   falta muita água de  chuvas para pouco  tempo para recomposições. Na mesma reportagem foi dito pelo diretor da ONS  - Organização Nacional  do  Sistema, Francisco José Arteiro,  que a previsão de chuvas para fevereiro ficará em   55% da  média histórica do  mês,  deixando  o mercado apreensivo. O Governo já estuda a compra de  gás da Bolívia para acionar  as  termoelétricas, em substituição  às   hídricas. O Reservatório de Cantareira,  que abastece São Paulo,  desde  que começou a medição  há  39 anos está menor,    com apenas 22,4% de sua capacidade, nunca visto. De acordo com o  CPTEC  (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos),  estamos num verão totalmente anormal.


Silas: Por que falar de São Paulo se o nosso problema é aqui?

Devós: Parece estar muito longe, mas é que as nascentes que abastecem São Paulo,  nascem no Sul de  Minas,  onde  também   nascem  os  principais afluentes do nosso Rio Grande, isso  mostra que se nas suas  nascentes também não está chovendo,  com certeza faltará água  aqui também.

 

Silas: Já é possível adiantar o impacto econômico e  financeiro  para o  município e região?

Devós: Ainda não. É preciso esperar passar o período chuvoso,  para ver o volume d'agua  no rio Grande e, também, ver como  o sistema 'ONS' irá funcionar,  eles  já  estão ligando  as  usinas termoelétricas. Agora, no agronegócio  cada dia é cada dia,   não  recupera  mais e, à medida que a falta  de  chuva esticar, será mais prejuízo. Gostaria de, quando chegar  o princípio de  abril, poder  falar igual ao ex-presidente Lula: “Foi só um' marolinha”,  quando da crise americana, em 2008.