O funcionário público, Luiz Devós, contador com larga experiência nas finanças públicas e profundo conhecedor da realidade econômica do município, tem estado nas manhãs das quartas-feiras, na Rádio Sacramento, respondendo sobre uma série de assuntos de interesse geral. No terceiro programa, que foi ao no último dia 5, o tema abordado pelo âncora do programa, o jornalista Silas Bonetti, foi 'as consequências que poderão advir da longa estiagem que assola, Sacramento e região. Em outras palavras, o impacto financeiro e econômico que essa estiagem poderá trazer para nós, sacramentanos.
Silas: No programa anterior, você falou dos oito grupos que formam a riquezas de Sacramento. Por gentileza, poderia confirma-los?
Devós: Muito bom a recapitulação desses grupos, pois números são sempre difíceis para uma boa assimilação e houve alguns questionamentos que até gostei muito. E vou aproveitar para esclarecer que, quando falei em R$ 1.285.000.000,00 de Sacramento é o PIB – Produto Interno Bruto e não é imposto arrecadado, não. Agora, falando dos oito grupos, temos um grande destaque para produção de energia com 53,41%, em primeiro lugar; o agronegócio, em segundo lugar, com 39,35%. Esses dois grupos são os formadores das principais riquezas do município, representando mais de 92% nos repasses do ICMS e CFRH.
Silas: Todos os dois dependem de água e muita chuvas e parece que este ano não estão ocorrendo boas chuvas. Fale um pouco. Você tem acompanhado as previsões?
Devós: Realmente, nos anos passados ou melhor, nos últimos três verões não tem chovidos bem na região, as chuvas têm estado abaixo da média, principalmente nas nascentes do rio Grande. Este ano está mais agredido ainda com um fenômeno conhecido pelo pessoal do tempo, como de alta pressão com formações de correntes de ventos no oceano Atlântico soprando no sentido inverso aos das chuvas. Para a agricultura até que 2013, foi um ano bom. Colheram bem e também venderam bem. Ajudado por um fator climático, igual a este que estamos vivendo, o país, maior produtor de grãos do mundo que são os Estados Unidos, não tiveram uma safra cheia por falta de chuvas - seca lá - com baixa produtividade, faltou soja e milho no mercado mundial. Agora, preocupante mesmo, está sendo este ano. Muito sol, menos chuvas e temperaturas elevadas. A média pluviométrica em janeiro, na fazenda do Nossa Senhora Aparecida, de César Pirajá, “Coró”, perto do posto do Tião, mostra que em janeiro de 2013 choveu 399 milímetros; em janeiro deste ano, apenas 87 milímetros, sendo que a média de chuva nos últimos cinco anos foi de 394,8 milímetros. Resultado, sol ardente com os serviços de meteorologia registrando dias com temperaturas acima da média em 2 a 3 graus, nunca registrada há 75 anos, quando iniciaram as medições.
Silas: Já há registro prejuízos na agropecuária este ano?
Devós: Tenho informação de que em levantamentos aqui, Pedregulho e no Sul de Minas - região cafeeira - os grãos não estão granando, por falta d'agua e muito calor. Grãos pequenos é sinal de renda baixa. O Roberto, técnico da Emater, confirmou algumas quebras nas lavouras de soja e milho em Sacramento. Essa é uma época que a planta necessita de muita água, porque está com suas vagens e espigas em formação. Isto foi na semana passada, a cada dia que passar sem chuva pior será. E a mídia tem trazido informações de quebra na produção de leite por falta de pastagem. O que acabamos de ver são dados da região com influência sobre o agronegócio, pela falta de chuvas com muito calor.
Silas: E o rio Grande com as usinas, como estão e como ficam?
Devós: Antes de falar do rio Grande vejamos um pouco das regiões sudeste e parte da região sul. Como já foi dito, o Brasil está passando por um ciclo raro, de três verões consecutivos com chuvas abaixo da média histórica, isto só correu na década de 1950 e o pior: não há previsão de precipitações abundantes em fevereiro, o negócio é esperar pelas chuvas de março. Já os reservatórios, pelo que sabemos, até hoje não refizeram suas capacidades plenas. Em janeiro, quando os reservatórios das hidrelétricas costumam encher, as chuvas ficaram em 54% para menos da média histórica. Fato como este, somente ocorreu em 2002, com a diminuição no período, quando tinham que aumentar o volume d'água nos reservatórios. Mas, ainda é cedo para arriscar uma projeção, porque ainda temos mais uns três meses para possíveis chuvas. No final de março e princípio de abril já é possível uma projeção com um resultado mais certo e concreto. Tenho acompanhado todas as informações possíveis do volume de água do rio Grande. A represa de Furnas, que é a mãe, a caixa d'água do rio Grande, pois é ela que regula todo o fluxo d'água dessa bacia, são 1.440 km2 de água alagados com 20 metros de lâmina d'água de profundidade, ainda falta recompor. Até o dia 31/01, última medição, era de 7,2 metros da sua capacidade total da quota máxima. No Sudeste, as bacias ainda não refizeram, estão com apenas 54% de suas capacidades histórica para a época, conforme dados do Valor Econômico – dos dias 1 e 2 de fevereiro. Então, pelo que vemos, falta muita água de chuvas para pouco tempo para recomposições. Na mesma reportagem foi dito pelo diretor da ONS - Organização Nacional do Sistema, Francisco José Arteiro, que a previsão de chuvas para fevereiro ficará em 55% da média histórica do mês, deixando o mercado apreensivo. O Governo já estuda a compra de gás da Bolívia para acionar as termoelétricas, em substituição às hídricas. O Reservatório de Cantareira, que abastece São Paulo, desde que começou a medição há 39 anos está menor, com apenas 22,4% de sua capacidade, nunca visto. De acordo com o CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), estamos num verão totalmente anormal.
Silas: Por que falar de São Paulo se o nosso problema é aqui?
Devós: Parece estar muito longe, mas é que as nascentes que abastecem São Paulo, nascem no Sul de Minas, onde também nascem os principais afluentes do nosso Rio Grande, isso mostra que se nas suas nascentes também não está chovendo, com certeza faltará água aqui também.
Silas: Já é possível adiantar o impacto econômico e financeiro para o município e região?
Devós: Ainda não. É preciso esperar passar o período chuvoso, para ver o volume d'agua no rio Grande e, também, ver como o sistema 'ONS' irá funcionar, eles já estão ligando as usinas termoelétricas. Agora, no agronegócio cada dia é cada dia, não recupera mais e, à medida que a falta de chuva esticar, será mais prejuízo. Gostaria de, quando chegar o princípio de abril, poder falar igual ao ex-presidente Lula: “Foi só um' marolinha”, quando da crise americana, em 2008.