Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Carolina é tema de Festival

Edição nº 1396 - 11 Janeiro 2014

Com repercussão nacional, a maior escritora sacramentana, Carolina Maria de Jesus, ganha em 2014 um ano de comemoração pelo seu centenário de nascimento. Nascida em Sacramento no dia 14 de março de 1914, no bairro Chafariz, Carolina se notabilizou mundialmente pela sua literatura “periférica/marginal e afro-brasileira”, no dizer dos críticos, marcada sobretudo pelo livro, 'Quarto de Despejo', 

traduzido já em 13 idiomas.

Este ano, as comemorações começam dia 15 próximo, com a abertura pelo prefeito Bruno Scalon Cordeiro e presidente da Câmara, José Maria Sobrinho, da exposição sobre Carolina Maria de Jesus, no Espaço Minas, em São Paulo. Em Sacramento, a Rede Brota Cerrado realiza, de 14 a 24 de março, o II Festival de Cultura & Agroecologia de Sacramento, com o tema, 'As 100 primaveras de Carolina'. 

 

O Centenário de Carolina

Na verdade, as comemorações na cidade foram abertas há um ano com a inauguração, na noite do dia 27 de fevereiro de 2013, da Sala de Literatura Carolina Maria de Jesus, na sede da Companhia de Teatro Movimento Cênico de Sacramento, com o apoio da Rede Brota Cerrado de Cultura e Agroecologia. Nesse dia, o ator, Wilson Rabelo, apresentou no palco da Cia, a peça,

 'Carolina, o luxo do lixo'.Exposição em São Paulo abrem comemorações:

Uma exposição na Sala de Minas, em São Paulo, dia 15 próximo, abrem as comemorações do centenário de nascimento da escritora sacramentana, Carolina Maria de Jesus. 

Na cidade, a Rede Brota Cerrado de Cultura & Agroecologia abre, dia 14 de março, data do aniversário de nascimento de Carolina, que estaria completando 100 anos, e prossegue até 24, o II Festival de Cultura & Agroecologia de Sacramento, com o tema, 'As 100 primaveras de Carolina'. 

Na programação, de acordo com a curadora do evento,  Maria de Fátima Fajardos Sampaio, o evento vai oferecer ao público uma programação cultural e agroecológica muito variada.

 

‘‘- Serão dez dias de oficinas, exposições, feira de produtos, vivência, cultura, educação, teatro, mesas redondas, debates com mediadores e artistas de renome nacional. ‘‘Dois pontos culminantes vão marcar o II Festival de Cultura & Agroecologia, um colóquio internacional sobre Carolina Maria de Jesus e a presença de José Pacheco, criador da Escola da Ponte, em Portugal’’, adiantou.

 

Quem foi Carolina Maria de Jesus

Carolina nasceu em Sacramento e aqui viveu sua infância e adolescência. Seus pais, provavelmente, teriam migrado do Desemboque para Sacramento quando houve mudança da economia da extração de ouro para as atividades agropecuárias. Em Sacramento, Carolina fez os primeiros estudos no Colégio Allan Kardec, pouco mais de dois anos de estudo, que lhe propiciou aprender a escrita e a leitura. 

De acordo com sua biografia disponível em vários sites,  em 1924, Carolina  muda-se com a família para a fazenda Lageado, e só retornam  em 1927, mas por pouco tempo. Em 1930, migram para a cidade de Franca, morando, inicialmente na fazenda Santa Cruz e, depois, na cidade, onde Carolina trabalha como ajudante na Santa Casa de Franca e doméstica.

Com a morte da mãe, em 1937, Carolina parte para São Paulo em busca de melhores condições de vida. De 1948 a 1961, reside na favela Canindé, sobrevivendo como catadora de papel e ferro velho, para o sustento dos três filhos: João José de Jesus, José Carlos de Jesus e Vera Eunice de Jesus Lima. “Quando ela encontrava revistas e cadernos antigos, guardava para escrever”, registram os dados. E assim Carolina começou a escrever sobre seu dia-a-dia, a vida na favela.  Nos seus diários, detalha o cotidiano de favelados e, sem rodeios, descreve os fatos políticos e sociais da cidade de São Paulo.  

Em 1958, o jornalista Audálio Dantas, numa reportagem sobre a inauguração de um playground no Canindé, conhece Carolina e se interessa pelos seus 35 cadernos de anotações em forma de diário, e publica um artigo na Folha da Noite. Em 1959, já trabalhando na revista O Cruzeiro, o jornalista divulga trechos dos relatos escritos pela autora e, posteriormente, empenha-se na publicação que reúne esses relatos, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, lançado em 1960, com notável sucesso editorial e traduzido em 13 idiomas. Carolina muda-se para uma casa no bairro de Santana e mantém o diário com registros do que lhe acontece ali, depois editados em Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada, em 1961. Em 1963, publica Pedaços da Fome, seu único romance, com pouca repercussão. 

Diz a história que, em função dos contínuos desentendimentos com os editores, bem como as dificuldades enfrentadas para manter-se em evidência e adaptar-se à vida no bairro de classe média, muda-se para um sítio no bairro de Parelheiros, São Paulo, em 1969 e ali vivi até a sua morte em 13 de fevereiro de 1977, aos 62 anos. 

Sua obra, Diário  de Bitita, com suas memórias de infância e juventude, inicialmente lançado na França (Journal de Bitita), foi publicado no Brasil em 1982. 

"Quarto de Despejo" inspirou diversas expressões artísticas como a letra do samba, "Quarto de Despejo" de B. Lobo; como o texto em debate no livro, "Eu te arrespondo, Carolina" de Herculano Neves; como a adaptação teatral de Edy Lima; como o filme realizada pela Televisão Alemã, utilizando a própria Carolina de Jesus como protagonista do filme, "Despertar de um sonho" (ainda inédito no Brasil); a adaptação para a série, "Caso Verdade", da Rede Globo de Televisão em 1983. 

 

A obra de Carolina Maria de Jesus é um referencial importante para os estudos culturais e literários, tanto no Brasil como no exterior e representa a literatura periférica/marginal e afro-brasileira.

 

A programação de 2014

O Centro Cultural Afro-Carioca de Cinema se antecipou, lançou, dia 19 de dezembro, a agenda 'Mulher Negra Mostra a sua Cara 2014 - Centenário de Carolina Maria de Jesus”. No lançamento, exibição do filme, 'O papel e o mar', de Luiz Antonio Pilar, da RioFilme, que narra a história de um encontro imaginário entre João Cândido, o almirante negro, líder da revolta da Chibata, e Carolina Maria de Jesus. No elenco, Zózimo Bulbul e Dirce Thomas. Fotos de cenas do filme e o vídeo podem ser acessados no site http://www.lapilar.com.br. 

No próximo dia 15, a Prefeitura de Sacramento abre exposição na Casa Minas, em São Paulo, às 19h, que ficará aberta até o dia 30 de janeiro.

No mês de março, de 14 a 23, a Rede Brota Cerrado realiza  o II Festival de Primavera Cultura e Agroecologia  com o título “As 100 Primaveras de Carolina”. Durante os 10 dias, muita literatura, Teatro, Dança, Música, Fotografia, Observacão de Aves e Agroecologia em união para reflexão coletiva sobre sustentabilidade da Agricultura brasileira.

 

Nos meses de maio e junho, Carolina Maria de Jesus será o tema do VI Festival de Inverno do Parque Náutico de Jaguara.