Sacramentanos e visitantes, entrevistados pelo ET, deram a sua opinião sobre o carnaval 2014. A avaliação é sempre positiva, com alguns pontos de crítica que poderiam até servir como sugestão para as festas futuras. Aliás, são sempre as mesmas críticas de anos e anos, mas sempre repetidas. Dois pontos quase unânimes nas avaliações, foi o esvaziamento da família sacramentana na avenida e a massificação do axé e funk. “É lamentável, porque há um grande número de foliões aqui na avenida que aprecia também um samba, uma marcha rancho, uma marchinha...” queixou-se um folião. A comissão organizadora, presidida pelo diretor de Turismo, Luciano Gobbo, discordou, garantindo que “o carnaval na cidade é eclético', isto é, visa animar e atrair todos os públicos. Confira os depoimentos:
Respeito com o público
“Estamos numa fase que alguém precisa de mais atenção, assim, optei por ficar à disposição da nossa filha, Luiza Abadia. Não estou trabalhando, mas acompanhando tudo, e reafirmo que nosso carnaval cresceu muito nos últimos anos.Lamentavelmente, perdemos a Unidos do Areão, uma escola que tem um brilho muito forte, que traz uma torcida muito grande e enche a avenida”, avalia Benedito Adão, o Bené da Rádio Estrela, veterano radialista do desfile.
E acrescenta que muita coisa precisa ser mudada no Carnaval: “A Prefeitura precisa aprender a obedecer horários, em respeito ao público. É inadmissível atrasos de até mais de uma hora. Na minha opinião, ninguém nessa festa tem mais direito de ser respeitado do que o público. Sem público não tem carnaval”.
Bené destaca a alegria do povo e completa: “Vemos a alegria do povo, mas a maioria da população não está gostando desse trio elétrico. No ano passado foi novidade, mas o que tenho ouvido do povo é que quando ele passa, espreme todo mundo no passeio, porque muita gente vem para a avenida por causa da festa, do ambiente, mas quer ficar só olhando e acaba sendo atropelado. Só axé e funk cansa muito, falta nosso eterno e tradicional samba e as marchinhas... De repente os jovens não gostam disso ou daquilo, porque não conhecem. Já percebi quando toca uma marchinha, um samba todo mundo dança, crianças, jovens e velhos, porque essa é a marca do nosso carnaval”.
O pessoal mais velho sumiu
“Viemos de carnavais no Sacramento Clube, no Marquezinho e, nos últimos anos, aqui na avenida. Adoro carnaval, nunca saímos de Sacramento nessa época, mas acho que está deixando a desejar. Este ano, por exemplo, não tivemos arquibancada e há outras coisas que precisam ser melhoradas, porque sinto que o pessoal mais adulto, mais velho sumiu da passarela. Nosso carnaval era muito familiar e este ano senti falta disso. Grande parte de famílias, amigos que a gente está acostumado a encontrar não apareceram e eu dou razão, porque se eu tivesse filhos pequenos também não viria”, afirma Renato Eurípedes Ferreira (Curica), ao lado da esposa Dêmya, que somam 21 anos de carnaval nos clubes e na passarela.
Ficamos de fora do bom samba
“São 17 anos juntos nos carnavais, graças a Deus. Somos do tempo do carnaval do Sacramento Clube, onde, inclusive fomos campeões. E, sinceramente, o carnaval do passado era muito bom, porque era sem malícia, um encontro de amigos, de famílias, mas isso está se perdendo. Como a nossa cidade é pequena e recebe essa quantidade grande de visitantes e quando um trio elétrico desses entra numa rua pequena dessas, não sobre espaço pra mais ninguém. Só tem pra eles, as músicas modernas os contagia e a gente fica de fora do bom samba, marcha rancho, marchinhas, um samba enredo...” afirma Edmo Ferreira Borges e a esposa Madalena Mendonça Borges, que completa: “Este ano optamos por ficar aqui na Cinelândia, quem sabe aqui podemos encontrar e abraçar os velhos amigos”.
As famílias têm muitas opções
“Minha avaliação é muito positiva, este ano foi uma organização bem mais tranquila. Um carnaval muito tranquilo, seguro, animado e participativo. Aquilo que programamos saiu a contento”, avaliou a secretária de Cultura e Turismo, Eliana Aparecida Ribeiro Pereira. Questionada sobre a diminuição da presença da família sacramentana, por conta da aglomeração e do espreme-espreme quando o trio elétrico passa, a secretária discorda. “É tudo muito seguro, o trajeto do trio é rápido, hoje ele faz também a avenida Benedito Valadares, o que desafoga um pouco a Visconde do Rio Branco. E, depois, as famílias têm muitas opções, vão viajar. Essa ausência não tem nada a ver com o estilo do carnaval”, avaliou a secretária.
Valores têm que ser preservados
“Comecei a desfilar na extinta Mocidade Alegre, passei pela Beija Flor e Tradição. Naquela época podíamos desfilar em mais de uma escola. E, de repente, 'pendurei as chuteiras' e acho que meio precocemente, porque as pernas ainda tremem e o coração repica. Parei durante um certo tempo e a minha última participação foi na Bateria 2000, há cinco anos. Parei, mas vivo numa luta interior. Eu acho que o carnaval mudou muito, no ponto de vista do conceito de as pessoas verem. Hoje, as pessoas valorizam o troféu, a competição e, na nossa época, não nos preocupávamos com isso, a gente dava o sangue pelo fato de poder participar, de gostar do carnaval. Hoje, vão para a avenida, não pelo prazer do carnaval pelo carnaval, mas pela competição”, afirma Graciene Balbino Ferreira, veterana nos carnavais da cidade.
Destacando a saudade do carnaval de anos atrás, diz a linda ex-foliona: “Se fosse para atribuir nota, a minha seria 10 para o carnaval de ontem e, para o de hoje, eu daria um 7. São muitas novidades, por exemplo, o trio elétrico. Tudo que é novo atrai, mas assusta um pouco. É aplaudido por uns e criticado por outros, porque quando a gente está ali curtindo descontraído, tem que afastar para dar passagem para um caminhão enorme, que esquece das belas e inesquecíveis músicas que marcaram o carnaval de ontem. Acho que isso foi prejudicial, Sacramento foi atrás da modernidade e deixando para trás a nossa cultura e tradição. E precisamos de espaço para isso acontecer, do contrário, daqui uns anos, quem seremos nós? Qual será a identidade do nosso carnaval? Valores têm que ser preservados”.
Em 2015 vamos sonorizar as baterias
“É a sensação do dever cumprido por ver o trabalho realizado, conforme foi planejado, um carnaval com simplicidade, sem muitos gastos, o que dificulta um pouco, porém um carnaval á altura das escolas e da população. Infelizmente, não tivemos as quatro escolas, respeitamos a decisão da Unidos do Areão, mas sentimos muito a falta deles na avenida”, avaliou Luciano Gobbo, presidente da comissão organizadora, prometendo sonorizar as baterias para o próximo ano. “Vamos trabalhar para que no próximo ano este problema seja solucionado”.
Questionado sobre o esvaziamento de famílias sacramentanas na passarela, Luciano concorda, afirmando que o objetivo do trio elétrico é tocar vários gêneros musicais. “Infelizmente, as famílias estão perdendo espaço no Brasil todo, mas não podemos deixar isto acontecer, por isso um dos objetivos do trio elétrico é isso, para termos vários gêneros musicais o tempo todo. Tivemos este ano o axé, o funk, o samba e temos a área de alimentação na praça para atender o pessoal que não gosta de muita aglomeração”.
Luciano reconhece que a avenida não comporta um trio elétrico do porte do que tem vindo a Sacramento. “Já conversamos sobre isso com o prefeito, foi feito um estudo, só que um trio elétrico menor, não toca o som da avenida, porque tem que estar ligado a um link de FM. Já pensamos nisso e vejo que temos que pensar num estrutura melhor para atender a toda a população”.
Era maior...
“Há 20 anos estou em Sacramento e 20 anos na passarela, trabalhando no carnaval. Este é o primeiro ano que posso curtir a festa como cidadão, graças á minha aposentadoria. E pelos meus tantos anos trabalhando avalio o carnaval em volume de pessoas era maior, mas era tranquilo”, avalia o policial da reserva, Sekinho, ao lado esposa, Gislaine, que só foram á passarela no domingo e na terça-feira.
Homenagens
Francisco Luciano da Silva, 80, foi homenageado pelo prefeito Bruno Scalon Cordeiro, acompanhado pelo ex-prefeito José Alberto Bernardes Borges, com o Troféu Carolina Maria de Jesus, como o mais antigo participante do carnaval na cidade. São 37 anos na avenida, sempre como batuqueiro.
-“ Comecei na XIII de Maio, depois fui para a Mocidade Alegre, do Avelu, quando conquistamos o Troféu Conceição; depois Tradição Sacramentana, Beija-Flor e agora estou na Acadêmicos do Borá”. Natural de Natal (RN), Francisco chegou em Sacramento em 1954, há exatos 60 anos, com 20 anos de idade. “Vim num caminhão de pau de arara, finquei pé aqui e nunca mais saí”, diz Francisco, que foi casado com Maria José (falecida), pais de Nilvânia e Helen”.
Outra homenagem na passarela do samba foi concedida pela Escola de Samba XIII de Maio à advogada Daisy Silvânia Maluf Paulino da Costa, ex-presidente da escola, entregando-lhe um troféu e desfilando com a ex-diretora, muito emocionada, por entre os ritmistas da bateria.
Carnaval extremamente feliz...
O prefeito Bruno Scalon Cordeiro ao receber de volta a chave da cidade entregue ao rei Momo, Anderson de Oliveira; à rainha Josiele de Oliveira e à princesa Maria Eduarda Idualte Oliveira, no primeiro dia de folia, parabenizou as escolas, blocos e todo o público presente, Polícia Militar, guarda municipal e seguranças.
‘‘-Tivemos um carnaval extremamente feliz, alegre, onde reinou, certamente, a alegria a todas as pessoas’’.
Prometendo um carnaval melhor para 2015, o prefeito elogiou o trabalho da comissão organizadora entregando ao seu presidente, Luciano Gobbo, um cartão de prata pelo reconhecimento do trabalho realizado. Entregou também à Bateria 2000 um troféu pelos 14 anos presente na passarela, e, também ao Bloco da Alegria, idealizado e coordenado pelo musicoterapeuta, Júlio Pucci.
Isso é perseguição...
Na minha opinião, foram injustos conosco. Desses 13 anos à frente de baterias na avenida, acredito que nunca consegui montar uma bateria com um ritmo tão cadente como apresentamos no domingo. Só que a gente não entende a concepção de uma pessoa que se diz maestro e mestre, acompanhá-la do começo ao fim da avenida e, depois vem dizer que ela não tem ritmo, não tem cadência. Recebermos três notas, 10, 9,9 e um jurado cai para 9,3, isso mostra que é perseguição, vingança. Isso nos decepcionou muito”, lamentou o mestre Testa (Luiz Carlos de Oliveira), um dos grandes mestres de bateria da cidade, da Beija-Flor Sacramentana