Nos próximos dias será a vez de Rafaela de Souza Ferreira, 23, viver as alegrias da vitória acadêmica. Rafaela é um dos 59 formandos da XVII turma de Medicina, da Universidade Federal de Uberaba. No dia 18, Missa em Ação de Graças, no Santuário da Medalha Milagrosa; dia 19, Coquetel, no Spasso A, dia 20, a Colação de Grau e, no sábado, dia 21, o baile de gala que sela com chave de ouro a vitória da jovem médica e de seus pais, Eurípedes Ézio Ferreira e Edna Aparecida de Souza Ferreira, que venceram todas as dificuldades para chegar a este dia.
Há seis anos, Rafaela, aluna brilhante da Escola Coronel, recém saída do 3º Colegial, aos 17 anos, foi destaque no ET ao ser aprovada em dois vestibulares de Medicina. Sem condições financeiras, não poderia ir para cidades mais distantes, mas as portas se abriram na Uniube, através do PROUNI com bolsa integral. As ajudas vieram de muitos amigos, para montar a casa em Uberaba e ela poder viver os primeiros meses até chegar a bolsa do Governo Federal. E ela venceu! Hoje, todos comemoram com Rafaela essa maravilhosa vitória.
Rafaela é médica generalista que, a partir do próximo ano, vai completar os estudos fazendo 'residência', com especialidade em Pediatria. Para isso já fez as provas do concurso para residência na USP, UFU, UFTM e na própria Uniube. Já foi aprovada em primeira chamada nas duas primeiras e neste final de semana presta as últimas provas.
Rafaela é a mesma menina meiga e humilde que sempre foi e assim se mostrou na entrevista ao ET, quando recordou os seus tempos de estudante em Sacramento. “Sempre fui muito influenciada pela minha família na leitura, apesar de meus pais não terem tido muitos estudos. Os livros chegaram para mim muito cedo e isso me ajudou muito. Aos12 anos eu comecei a pensar em ser médica, quando, em visita a uma tia enferma, no Hospital Hélio Angotti. Esse dia foi um dos poucos que eu perdi uma atividade na escola. Faltei da Educação Física para ir para Uberaba com minha tia. Para mim, foi a melhor coisa que fiz na vida, eu fiquei encantada com o hospital. Estar ali me tocou muito, saí de lá e disse: 'Vou ser médica'” lembra.
“E se eu já era estudiosa – prossegue - daquele dia em diante tive um gás maior. As pessoas não acreditavam, mas eu tinha certeza de que iria conseguir e que teria que estudar muito. Eu nunca tive condições de fazer nenhum cursinho. Tudo o que aprendi foi na escola pública e nos meus estudos em casa e a minha meta sempre foi estar perto da nota máxima”, conta.
Rafaela entendeu aquele momento, diz ela, como 'um chamado'. “Estar ali me tocou muito e eu recebi isso como se fosse um chamado para a oncologia, vou cursar Pediatria e depois Oncologia Pediátrica. E o interesse pela Pediatria nasceu no terceiro ano, num trabalho que fizemos numa escola em Uberaba. Agora é aguardar os resultados, se eu passar em todos, pretendo ir para a USP de Ribeirão Preto, porque tem até residência na área de oncologia. Na USP de Ribeirão já passei para a segunda fase. Em Uberaba já fiz a segunda fase, UFU e USP de São Paulo são fases únicas, é só aguardar”, explica.
Hoje, vitoriosa, Rafaela recorda como foram os primeiros anos. “Minha maior dificuldade foi a saudade de casa. E, eu me senti um pouco intimidada porque a maioria de meus colegas eram de escolas famosas, cursinhos, mas acompanhei muito bem e logo vi que não havia diferenças e sempre fui muito boa aluna na faculdade também. Nunca cheguei nem perto de uma recuperação. Foram muitos momento bons, mas um deles me tocou. Após serem examinados por mim, dois pacientes disseram para o professor: Essa daí vai ser excelente médica'. Foi a coisa mais maravilhosa que já ouvi. E o professor confirmou: 'Essa aí é certeza'. E aí vem o peso da responsabilidade”, afirma.
Finaliza, deixando um agradecimento especial aos professores de Sacramento e os da universidade. “Todos os meus professores foram muito importantes na minha vida. Agradeço aos professores da Escola Barão da Rifaina, onde estudei até a terceira série e aos professores do Coronel onde continuei os estudos até concluir o Colegial. Quando cheguei à faculdade com 17 anos, menina de cidade pequena, tímida, os professores meio que me adotaram. Fui muito feliz na faculdade. Agradeço a todos”.
“Enfim, concluiu, cada um dos professores me ajudou muito e isso serve para mostrar que na escola pública podemos aprender muito e, para isso, depende muito do aluno. Na Escola Coronel tive uma família e aqueles professores tipo 'pega no pé' me ajudaram mais ainda”, agradece.
Para a mãe Edna, o momento é de grande orgulho para todos. “Não tem explicação o sentimento que a gente tem. Isso é coisa de Deus, por isso só temos que agradecer a Deus. Rafaela fez a parte dela nos estudos, sempre otimista, nós mesmos, às vezes, duvidávamos e agora estamos vivendo essa emoção”.