Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Imagens que Marcaram

Edição n° 1346 - 25 Janeiro 2013

Salve, Jorge!

 

Tive o privilégio de ser aluno do Prof. Jorge Fidelis Cordeiro, no final da década de 60, no antigo curso de Contabilidade. Ao lado dele, outras 'feras', como José Silveira, Garibaldi França, Rolando Soares, Salete Cabral e Leme e, por que não, o folclórico, José Sobral Caetano. Na direção da Escola Coronel, a não menos, lendária, Profa. Aracy Lopes Pavanelli. Uau, que time, heim!

O conteúdo do pequeno livro da matéria, Administração e Organização do Trabalho, cabia na palma de uma mão. Mas e daí? Isso facilitava a grande criatividade do Prof. Jorge, que debulhava sua riquíssima experiência de trabalhador e mestre. Mais de mestre, com certeza. 

É o que Paulo Freire e Rubem Alves chamam de ensinar a voar. Cada um, à sua maneira, diz que a educação deve ser inquietante, ensinar o aluno a ler o mundo, aprender a ler a realidade e, em seguida, reescrevê-la como sujeito da própria história. O que diria, em outras palavras, um poeta também dos anos 60, 'quem sabe faz a hora não espera acontecer'.

'Quem primeiro cogitou da Adminitração, Riceiro?' – perguntava ele a poucos alunos ávidos de saber, no prédio velho da casa que foi dos Lenza, onde hoje estudava o neto. E todos nós, Seu Luiz do Hotel, Toninho do Deda, Vera da Santinha, Aninha, Coquinha, Major, Rodolpho... na ponta da língua, respondíamos: 'Sócrates, Platão, Aristóteles e outros...'. O professor fazia questão dos 'outros'.

Me lembro de suas acuradas correções de provas. Quando o aluno esquecia algum detalhe, que considerava importante na resposta, usava um critério de pontos de exclamação e interrogação junto a um grande C, naturalmente de 'correto', mas que prescindia do 'algo mais', a criatividade do aluno... o saber voar. 

Desfilava seus questionários num misto de sabedoria que transcendia a educação conteudística, para lições de vida. O Prof. Jorge foi para mim uma referência ética, de honradez e respeito à família, junto à bela e altiva Amália; ao dono do gol, Ricardo, que tantas bolas brincamos; ao Prof. Rapidez, almas generosas que a vida tão cedo levou; e à alegríssima Biá.  

No seu indefectível terno branco, eu sempre cruzei com aquele homem pela vida à fora. 

Ora no Cartório, ora na Câmara Municipal, ora na Escola, ora na Mendes Jr. e muitas horas 

nas suas confrarias vicentinas. E orava também na Igreja. 

Mas essas linhas são apenas uma forma de dizer muito obrigado ao mestre e amigo pelos rastros de amor ao próximo que deixou nos chãos empoeirados desta cidade. Mais que a ciência da Organização, ensinou-me compaixão. 

Me dá licença, professor, tu, que tantas exéquias rezaste, de hoje, na tua transvivenciação,  proferir esta oração final.

 Salve, Jorge!