9 de maio de 2002: o dia em que Sacramento parou para chorar a morte de 20 de seus filhos
Há dez anos, numa quinta-feira, dia 9 de maio, Sacramento ficou marcada como o mais tristes de seus dias: todos choramos a morte de 20 de nossos filhos, mortos no trágico acidente do ônibus que levava os estudantes para Franca, por volta da meia-noite na curva da morte, na rodovia Cândido Portinari, próximo a Rifaina.
A cidade parou, o riso calou, a voz emudeceu e no coração e nos olhos de todos estampava-se a tristeza e a dor. Toda a cidade uniu-se pela dor da perda de 19 estudantes:
Gilmar Borges da Silva, 30;
Rodrigo Silva Batista, 30;
Sua namorada, Márcia Aparecida Araujo Silva, 22;
Também, irmã de Eliane Araujo, Silva, 20;
Uratiene Lopes de Souza, 22;
Karina Maria Alves, 22;
Fabiana Gobbo, 20;
Kristine Siviere Bessa, 22;
Nancy de Lourdes Pereira, 49;
Dayana Barbosa de Melo Oliveira, 10;
Rosemar Aparecida Vieira, 28;
Tânia Maria Alves Cintra, 21;
Joana D´Arc Batista Cruvinel, 25;
Ricardo Tavares Cirino, 20;
Euzébio Cardoso do Prado, 25;
Regina Maria da Costa Machado, 35;
Maria Regina Popolim, 35
E seu namorado, Antonio Joaquim de Almeida, 35;
Maria Aparecida Zago, 28;
E o motorista Inácio Rosa dos Santos, 53.
A madrugada foi de movimentação intensa e muita incerteza, afinal 22 estudantes encontravam-se feridos e hospitalizados, 13 deles em estado grave. Naquele fatídico dia, nove estudantes não viajaram. O então prefeito Nobuhiro Karashima e voluntários, inclusive médicos seguiram para o local do acidente e mais tarde para as cidades de Pedregulho, Franca e Sacramento, onde se encontravam os feridos.
A notícia do acidente ganhou repercussão nacional e internacional. Sacramentanos ausentes, por telefone, queriam noticias.
Pela manhã, uma aglomeração se formou em frente à Santa Casa e necrotério. Um a um os corpos foram chegando à medida que eram reconhecidos e liberados a partir das 9h. a prefeitura de Franca fez o traslado de todos os corpos. Alguns chegaram lacrados. Curiosidades e dor misturavam-se a cada apito de sirene.
Mais tarde, um intenso ir e vir nas ruas rumo ao velório no Ginásio de Esportes Marquezinho e casas de famílias. A solidariedade imperou de vez. A cidade tornou-se uma grande família.
Mais de 10 mil pessoas passaram pelo velório
O velório da maioria dos mortos foi realizado no Marquezinho, por onde passaram mais de 10 mil pessoas, dentre elas o então Governador de Minas, Itamar Franco, que depois de percorrer em silêncio a quadra do Ginásio, o salão do Colégio Allan Kardec e três residências, numa coletiva com a imprensa local e nacional disse: "Vim trazer a minha solidariedade. A gente não tem palavras para expressar o sentimento a não ser a tristeza que vai nos nossos corações e a esperança de que Deus os receba e conforte as famílias. Lamentavelmente, foi uma tragédia que abalou não somente a cidade, mas todo o Estado e o país não apenas no sentido religioso, mas o nosso sentido humano. Não é apenas o governador que está aqui, também está o cidadão Itamar”.
Presentes também os prefeitos, Gilmar Dominici (franca), Marcos Montes (Uberaba), Jorge Manuel (Delta), alciedes Flauzino Dias (Perdizes), Hugo França (Ibiá), dentre outros; dos deputados Aracely de Paula, Maria Lúcia Cardoso, Adelmo Carneiro Leão, Paulo Piau, Antônio Andrade e outros; diversos vereadores de cidades vizinhas; os coroneis Rúbio Paulino Coelho e Sebastião Lucas Filhos; o reitor Dr. Abib Salim Cury, acompanhado de diretores e professores, além de estudantes da Universidade de Franca (Unifran), que dispensou as aulas naquele final de semana em respeito aos seus alunos mortos e feridos.
Por volta das 16h, uma multidão lotou o Marquezinho para participar das exéquias, proferidas pelo Arcebispo Metropolitanco de Uberaba, Dom Aloísio Roque Oppermann e concelebrada pelos padres Levi Fidelis Marques e Luiz Carlos de Oliveira, tio de uma das vítimas, além de padres de paróquias das cidades vizinhas. Mesmo durante a celebração a dor e angústia foram indescritíveis.
O sepultamento aconteceu a partir das 17h, com um intervalo de 30 minutos entre um e outro e seguiu até as 22h com os sepultamento das jovens Dayane Barbosa e Tânia Maria Alves.
Naquele 9 de maio, o Jornal “O Estado do Triângulo” aos 34 anos, inaugurava a sua sede própria com a edição de nº 795 (antes o jornal era mensal, depois quinzenal) e trouxe como manchete “Cidade chora a morte de 20de seus filhos” e registrou as condolências e notas de solidariedade de de empresas locais, do sindicato dos bancários de Uberaba, de padre Antônio Borges de Souza (Trindade, GO) e nas edições seguintes, foram publicadas cartas á redação dos mais variados lugares, inclusive da França, Suriname e Estados Unidos.
Lembranças continuam vivas
Naquele mês de maio sete dias depois milhares de católicos de Sacramento e região reuniram-se para a missa de 7º dia, presidida pelo arcebispo Dom Aloísio Roque e concelebrada por padres diocesanos e redentoristas que moravam em Sacramento. A concelebração contou com a participação direta dos familiares enlutados e de vários sobreviventes e também com a presença das autoridades dos poderes constuídos, dentre outras..
A celebração foi um momento marcado pela tristeza, olhos marejados, mas muita fé e a certeza da presença do Deus confortador.
Após a celebração, o prefeito Biro, que até então não havia feito nenhum comentário sobre o acidente, embora o seu semblante refletisse o sofrimento contido, disse no Ginásio Marquezinho: “Eu jamais vivenciei tamanha tragédia e tamanha comoção. Jamais vi tanto sofrimento e tanta dor e tanta angústia. Momentos de dor em que parece que a nós tudo foi negado: a juventude, a esperança,o sonho….”, disse destacando a solidariedade de todos. “Jamais vi também tanta solidariedade, tamanha compaixão do nosso povo e da nossa região. Nossa cidade mudou. Nós mudamos. Nós estamos nos sentindo hoje, como se tivéssemos sido tirado de nós uma parte. E nesses momento é fundamental a nossa união, para que a gente possa encontrar a luz nessa escuridão que nos atormenta. É fundamental também orarmos a Deus para que nos dê forças para atravessar esse caminho por hora, demais tortuoso…”
Hoje, dez anos se passaram e os nossos 20 irmãos em Cristo descansam ao lado do Pai. Os sobreviventes, alguns com sequelas, continuam a tocar a vida, depois de desistirem dos estudos ou udarem da faculdade. Os familiares e todos aqueles que viveram aqueles dias convivem e conviverão com as lembranças. Mas, uma coisa é certa: “Os mais velhos não viram tristeza semelhante, os mais novos não verão outra igual…”, como escreveu Ivone Regina Silva, então presidente da 116ª Subseção da OAB/Sacramento na mensagem de condolências.