Em entrevista ao ET, para falar sobre a Primeira Conferência Municipal de Saúde, o Superintendente de Saúde Edward Meirelles de Oliveira, manifestou sua preocupação com os fatos recentes que ocorreram na Santa Casa.
Inicialmente, gostaria de deixar três coisas bem claras: primeiro, não administro a Santa Casa, mas como Serviço de Saúde indispensável ao Município, tenho responsabilidade de mantê-la sólida, pois auxilio na articulação para contratação dos médicos que naquela instituição trabalham. Segundo, em hipótese alguma estou fazendo qualquer julgamento do trabalho do Delegado, do Capitão ou até mesmo da Polícia Militar e nem defendendo qualquer conduta de desacato, ameaça ou indisciplina. Em terceiro lugar, de que só estou me manifestando em virtude de acreditar ser importante deixar claro que realmente a falta de médicos nos plantões de terça-feira deve-se ao ocorrido.
Desde o ocorrido, há três terças, estamos sem plantonistas na escala desse dia. Por enquanto, o Dr. Pedro, junto com outros médicos da cidade, tem atendido as urgências, em substituição aos dois plantonistas. Ressalte-se que não estamos conseguindo outros plantonistas que substituam os dois que saíram, correndo o risco de realmente ficarmos sem médicos nos plantões das terças-feiras.
Nos últimos anos e por diversos motivos, observa-se uma grande dificuldade em conseguir médicos plantonistas e até mesmo médicos para residirem em Sacramento. É fato que muitos dos médicos que residem na cidade não gostam de dar plantões e não são obrigados a fazê-los. Nesse sentido, contamos com um grupo ainda menor de profissionais na cidade que gostam da assistência hospitalar e o fazem por opção. Essa falta de profissionais plantonistas é preenchida por médicos, como o Dr. Carlos Abranches, que vinha de outra cidade.
Como o ocorrido vem marcando presença constante na mídia e apresentando repercussão regional, a dificuldade de encontrar médicos aumentou muito e isso é preocupante. Não é questão salarial, já que hoje pagamos R$ 650,00 (seiscentos e cinqüenta reais) para cada um dos dois médicos de plantão durante o dia e R$700,00 (setecentos reais) para o plantonista noturno. Estamos pagando dentro da média do mercado dos municípios mineiros. Há dois meses fiz um levantamento do valor dos plantões nas cidades circunvizinhas e encontramos valores que variam entre R$400,00 a R$600,00. Mas o que dificulta é a concorrência com os municípios do estado de São Paulo, que são mais “ricos”, têm maior arrecadação, e podem pagar mais. O pagamento, nesse caso, é em torno de R$700,00 para um plantão que normalmente ocorre em Posto de Saúde, ou seja, com um número de atendimentos muito menor do que o do Pronto Atendimento da Santa Casa de Sacramento. Nossa Santa Casa atende, em média, cerca de 130 pessoas em 24 horas, com a maior concentração de atendimentos aproximadamente até às 22 horas.
Na verdade, faço aqui apenas minha manifestação de preocupação e justificativa da dificuldade em encontrar médicos para o plantão às terças-feiras, com um breve histórico e reforçando a conjunção de diversos fatores para essa falta de médicos, agravada pelo ocorrido.
Da mesma forma que o Dr. Cesar Felipe e o Capitão estão defendendo seu bom trabalho e a ação de suas Equipes, faço aqui a defesa da grande maioria dos médicos que sempre atenderam bem aos policiais, inclusive, passando na frente, dando prioridade, aos usuários/detentos que chegavam até a Santa Casa, trazidos pelos policiais, justamente para facilitar o trabalho da Polícia. Nada mais correto. É um trabalho de grande relevância e de interesse da coletividade.
Gostaria de deixar bem claro que essa ação, de realização de Auto de Corpo de Delito pelos médicos plantonistas, sempre foi um acordo de cavalheiros sem intervenção direta da Prefeitura, Santa Casa, Prefeito ou Superintendente, ou seja, foge de nossa governabilidade. Nesse sentido, e em respeito a esse profícuo período de parceria anterior, não fazendo julgamento e sim ponderando outro caminho, em situações semelhantes, as autoridades que tentaram resolver o problema, talvez, ao invés de abordar o médico, que estava como único plantonista no dia, com sobrecarga de trabalho, poderiam ter procurado a Provedoria ou a Direção Clínica, manifestando o ocorrido e resolvendo pela via administrativa o que, sem dúvida, poderia ter evitado os desdobramentos e dificuldades já de conhecimento de todos.
Assim, e para encerrar, gostaria de deixar bem claro que esse fato pode, com uma boa conversa entre os Médicos, o Delegado e a Polícia Militar, alcançar outro resultado. Estou seguro que se os médicos forem convidados para uma conversa, estarão abertos ao diálogo. O fato é que como a Segurança, a Saúde da população também depende da atuação articulada de várias instituições e profissionais.
Falando especificamente como profissional da Saúde, não fazendo juízo de valor de nenhuma Instituição, com certeza, continuaremos trabalhando diuturnamente para a manutenção da saúde de todos os cidadãos, indistintamente, bem como as autoridades da segurança pública. Não tenho dúvidas, nós precisamos dos médicos, como precisamos da polícia e ambos também precisam uns dos outros, seja no âmbito profissional, seja pessoal. Espero, com essa manifestação, contribuir para uma serena reflexão dos fatos e promoção do desencadeamento de uma conversa entre as partes.