“- A chuva está comprometendo sobremaneira a produção de grãos. As perdas das lavouras de soja no ponto de colheita variam entre 40 a 70%. Mas já temos notícias de perda total. Outras lavouras no ponto de chegar, se a chuva der uma trégua ainda podem salvar. Mas a situação é calamitosa. Outra preocupação é também com o milho, pois há lavouras que já estão no ponto de colheita e o milho começa a arder, comprometendo a qualidade”, explicou.
Mostrando amostras colhidas e várias imagens em seu computador, que ele mesmo colheu, de lavouras plantadas no município, Cacildo aponta os defeitos. “O que temos visto até agora é soja mofada, soja ardida, podre e até brotando”, mostrou.
Cacildo informa que o volume pluviométrico do município nunca foi tão alto neste mês. “Choveu até o dia 21 de março, 585 milímetros. A informação é do produtor César Pirajá que há 29 anos faz essa medição. Em todos esses anos, ele me disse, que nunca choveu tanto em Sacramento”, disse.
Segundo Bizinoto, o município de Sacramento tem hoje 40 mil hectares de área plantada, divididos entre cerca de 100 produtores de soja e a previsão era de colher mais de 2 milhões de sacas de soja. “Mas, infelizmente, essa previsão veio, literalmente falando, 'por água abaixo', pois já temos produtor no município que perdeu 30 mil sacas. Aliás – frisou Cacildo - a perda, sem medo de errar, já passa de 500 mil sacas. Isso é muito triste. Há produtor que perdeu todas as suas economias”, disse mais, lamentando.
Além das chuvas produtores enfrentam outros problemas
Além do excesso de chuvas que tem atrapalhado a colheita, os produtores enfrentam outros problemas: a devolução do produto feita pelas indústrias; a situação precária das estradas; o transporte que falta e a secagem que atrasa toda a logística. “Não bastassem as chuvas, o agravante maior é que a indústria está penalizando o produtor, estão descontando muito. Na comercialização, é normal descontar a umidade, mas o desconto está muito grande devido à umidade. Muitos grãos poderiam ser aproveitados, mas o critério é rigoroso e estão rejeitando uma grande porcentagem. Tem produtor do município que mandou para a indústria, 7 mil quilos de soja e 2 mil quilos foram descartados, devolvidos, jogados fora, e isso é mais prejuízo”, informou Cacildo Bizinoto.
De acordo com o empresário, que trabalha na venda e financiamento de defensivos agrícolas para os produtores, além das péssimas condições das estradas devido as chuvas, estão faltando caminhões, com um agravamento maior na secagem. “Aproveitando uma pequena trégua da chuva, todo mundo colhe e manda prá indústria. Mas devido à umidade, o produto precisa passar pelo secador. E não há equipamento suficiente. Atrasa tudo. Os caminhões estão esperando de dois a três dias no pátio”, explicou.
O posto mais próximo de Sacramento é a Cargil, em Almeida Campos. Só para se ter uma idéia, no dia 24, eles tinham 84 caminhões na fila. Eles têm que espera pra secar e descarregar, vai virando uma bola de neve. A chuva dá uma trégua, as colhedeiras entram, carregam os caminhões e vão todos para a indústria, que já está com problema de descarga e aí começa a faltar caminhão. A soja ali parada dentro dos caminhões, dois, três dias está fermentando e perdendo qualidade”, explicou.
Paulo Marincek, “município vai sofrer as conseqüências dessas perdas”
Paulinho Marincek, um dos maiores produtores de soja e milho no município, ao lado de Cacildo Bizinto, informa que a previsão era colher 180 mil sacas de soja e hoje se colher 100 mil se dá por satisfeito. “A soja que vou colher não cobrirá os custos e a perda não é só minha, é de muita gente e a perda para o município será muito grande. Sacramento vai deixar de arrecadar muito. A agricultura de Sacramento está muito comprometida. A chuva está calamitosa. Até agora contabilizamos cerca de 40% de perda, mas não sabemos até onde vai chegar”, afirmou Marinceck.
Na opinião do produtor, o prefeito Wesley De Santi deveria decretar 'estado de emergência', a exemplo de outros municípios da região, que também sofreram as consequências da chuva. “Basta percorrer o município e constatar o estado precário em que se encontram as estradas, as lavouras todas comprometidas, com uma perda que varia de 40% a uma perda total, a situação crítica no descarregamento nas indústrias, além da falta de transporte e o pior, as conseqüências que advirão daí, em um município que tem sua base econômica assentada na agricultura. Isso tudo, justifica o decreto e vai ajudar os produtores a negociarem o prejuízo”, destacou, conclamando a atenção da Prefeitura da Câmara e do Sindicato dos Produtores para o problema.
“- É preciso que a Prefeitura, o Sindicato Rural, os vereadores dêem atenção a isso, porque todos, nós e o município, vamos sofrear as consequências dessas perdas”, frisou, acrescentando que nos 30 anos que planta no município nunca viu coisa igual. “Estou em Sacramento há 30 anos como agricultor e nunca vi tanta chuva em março, nem noutra cidade. Esse é o primeiro março de tanta chuva na minha vida e justamente no começo da nossa safra. Só consegui colher 30 mil sacas, as máquinas estão na roça, mas não dá pra colher. Tenho soja verde ainda, mas se não parar de chover vai perder também. Minha salvação serão as lavouras de milho, mas tenho dó de muita gente que só plantou soja e perdeu tudo”, lamentou.
Paulinho Marincek informou que iria procurar o prefeito, o Sindicato Rural, Câmara para solicitar apoio. “Precisamos tomar medidas, alguma coisa precisa ser feita”.
Perdas vão afetar a economia
De acordo com Cacildo, o governo vinha falando em super safra e ainda não mudou o discurso. “Agora começou uma rede de informações, de divulgação intensa das perdas. Mas esse será um problema grande para a economia do país. Esse ano seria de safra muito boa, uma super safra, com preço bom e muito produtor ia recuperar o prejuízo que vinha acumulando há cinco safras, mas infelizmente deu nisso. Isso vai pesar para o produtor, para a economia do país e no bolso do consumidor final”, ponderou.
Explicou o empresário que acontece o que chamou de 'efeito cascata'. Faltando a soja, vão faltar óleo, biocombustível, ração para o gado, que vai afetar a produção leiteira. Faltando o milho, faltará ração, que vai afetar a criação de aves, a carne de frango vai subir, com certeza, os derivados do milho vão sumir e subir de preço. Vai faltar arroz, feijão e os preços vão subir. Será lei da oferta e da procura, faltará o produto, mas o consumidor vai continuar comprando, aí virá a alta nos preços. Vai afetar todo mundo. É um efeito cascata”.
Cacildo destaca ainda que poderá faltar semente de soja no mercado. “A lei garante ao produtor guardar a sua própria semente, mas com a soja comprometida, o produtor não conseguirá tirar a semente, com isso duas coisas podem acontecer: faltar semente ou o preço ir lá em cima. A semente da soja que toma chuva como vem acontecendo ela perde o vigor e o poder de germinação, ela não serve para o plantio e mal serve para a indústria”.
Lavouras não têm seguro e são financiadas por multinacionais
Grande parte das lavouras de soja e milho são financiadas por multinacionais, poucas são as que têm financiamentos bancários, o que é, de acordo com Cacildo, outro agravante. “A maioria das lavouras, ou praticamente nenhuma, têm seguro. O seguro é opcional e a burocracia é tanta, são tantas fases de eliminação, tantas cláusulas de restrições, que não compensa para o produtor”.
Segundo o empresário, que tem um grande volume de empréstimos junto aos produtores, a maioria não deve para o banco, mas para as revendas, que devem para as transnacionais, como Monsanto, Bayer, Cargill, Basf, Cyngenta, DuPont e outras. “Se o produtor não pagar a revenda, a revenda não paga a multinacional. E o problema é que com a multinacional não há negócio, não tem prorrogação de conta, não tem a mão do governo. Chegou a data, ela quer receber e não há nenhuma cláusula que proteja perdas. O risco é 100% do produtor. E, como eu disse, infelizmente, já tem produtor colocando o gado na lavoura, porque não sobrou nada”, lamentou.