Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Moradores reclamam do abandono do Sacramento Clube

Edição n° 1228 - 22 Outubro 2010

O abandono do prédio do Sacramento Clube tem incomodado os moradores vizinhos da av. Visconde do Rio Branco. O acúmulo de lixo no local, o mato que cresceu nos seus pátios internos, ratazanas, baratas e escorpiões que invadem as casas próximas têm também assustado os moradores. Agora, quanto aos quase 300 proprietários do prédio, os chamados sócios remidos, que jamais aceitaram pagar uma taxa mensal de manutenção de seu patrimônio, principal causa de seu estado precário, continuam cantando a modinha popular: “Tô nem aí, to nem aí...” 

Enquanto isso, alguns empresários do Sacramento Center, um conjunto de lojas localizadas no prédio bem em frente ao velho Sacramento Clube, estão liderando um movimento no sentido de alertar as autoridades públicas para o problema. O que pode ser feito com aquele patrimônio? 

Para conhecer de perto a intenção desse grupo de empresários, o ET foi ouvir alguns deles. Veja abaixo a sua opinião, com uma proposta unânime: Vender e revitalizar o local, de preferência, transformá-lo em um cine teatro.

 

Ex-prefeito José Alberto: Cine-teatro

 

O ex-prefeito José Alberto Bernardes Borges, que nos anos 50 viu o prédio ser construído, como se fosse um “grande paiol americano”, lembrando os grandes momentos do Sacramento Clube, de bailes e festas memoráveis, foi claro na sua opinião. 

“- Com todo respeito, eu considero o fato uma vergonha para nós sacramentanos. Não podemos permitir esse abandono de nosso ex-clube. Ele está na principal rua da cidade e o turista que por aqui passa e mesmo nós sacramentanos achamos feio e nos sentimos tristes. Temos que dar uma solução, com a situação resolvida pelos sócios”, afirmou.

A proposta do ex-prefeito é a de transformar o prédio em um cine-teatro.  ‘‘A solução, no meu entender, seria a prefeitura fazer a desapropriação e transformar aquilo ali num cine-teatro, por exemplo. Acredito que o prefeito Wesley esteja aberto para discutir essa situação. São mais de 280 sócios, que acredito, ficariam contentes em ver aquilo ali com outra destinação cultural para a população. E precisa de uma solução rápida, que o prefeito pode tomar a pulso”, sugeriu. 

José Alberto é um dos vizinhos que sofre também com a invasão de animais e insetos. “Eu estou ali ao lado e vejo piolho de pombos, ratos, ratazanas, baratas, mosquitos. Temos que conciliar essa situação. Várias pessoas têm me procurado, pedindo pra fazer alguma coisa. Infelizmente, em Sacramento não há unidade quando se trata de resolver um problema social, as pessoas não são muito unidas. Isso não é de competência da política, por isso  sou a favor da desapropriação. É uma solução, e tenho certeza de que o prefeito vai agradar um número muito grande de pessoas, a população como um todo. Sacramento precisa oferecer  alguma coisa para  a nossa juventude. Tudo tem solução e esperamos que a prefeitura possa solucionar e Sacramento, o povo vai bater palmas”, disse.

José Alberto fala ainda dos custos para a reforma, viabilizados para essa finalidade cultural junto aos governos do Estado e União.  “Não é coisa muito barata, mas hoje existem verbas para construção de cinemas, centros culturais. Eu já até tenho na cabeça, o que poderia ser realizado ali e estou disposto a colaborar não reforma, fazer uma coisa bonita, que vai marcar a cidade e dou minha colaboração, sem cobrar nada”, concluiu.  

 

Terezinha Silva

 

Terezinha Maria da Silva, síndica do prédio, informa que há uma invasão de ratos no Sacramento Center vindos do Sacramento Clube. “Deu invasão de ratos, o que nos obrigou a acionar a Vigilância Sanitária, que trabalhou com dedetização. E as baratas voadoras? Meus Deus!! Elas saem do clube e vêm pra cá. Além do mais, os andarilhos estão pulando a grade e dormindo lá dentro, já vimos gente que estava dormindo saindo de lá pelo portãozinho,  o local aqui vai ficando perigoso”, alertou.

 

Empresárias pedem solução

 

A empresária Neuza da Cunha Rezende, proprietária da Toca do Bugre, uma das lojas do Sacramento Center, também lamenta as péssimas condições do local. “Dói o coração da gente ao ver isso aí. O Sacramento Clube é uma história na vida da gente. Ali criamos os nossos filhos, era uma família só. E hoje ver o clube assim, é triste. Estamos em frente, e de lá saem ratos que vêm para o Sacramento Center. Já mataram vários ratos aqui, que vieram de lá e é triste, ver que um cartão de visitas da cidade virou a vergonha da cidade, lixo, de ratos, baratas”, comentou.

Neuza diz que, como sócia, leva um pouco de culpa pela situação em que se encontra o prédio, e urge uma solução.  “Já fomos atrás de algumas pessoas, sei que nós associados somos culpados, todo mundo assenta e fica esperando que um trabalhe.  Continuar como um clube social já não dá mais, a solução agora, é alguém, por exemplo a prefeitura tomar conta, fazer alguma coisa aqui, um local para os jovens freqüentarem, porque associado não vai arrumar. Alguém precisa aproveitar esse prédio pra cinema, alguma coisa cultural. A cidade não tem nada, a não ser sorveteria e bares”, desabafou. 

Sonia Scalon, proprietária da loja Tresor, é outra que reclama e com razão pois diz que já matou quatro ratos. “Já matei quatro ratos dentro da minha loja, fiquei indignada e eles estão vindo do clube. Chamamos a Vigilância  Sanitária e eles detectaram que as ratazanas estão vindo de lá. Para impedir a entrada deles, coloco o que chamo de “protetor de ratos”, mandei fazer de ferro e coloco na portas, nas frestas. Afora esse problema, gostaria  muito de ver esse local aproveitado. É preciso tomar uma providência, esse local tem  passado, faz parte de muitas vidas”, frisou.

 

Maria quer uma Galeria de Lojas

A empresária Maria dos Reis Bertolucci Lima também critica a situação do velho Sacramento Clube e sugere a transformação do local em uma galeria de lojas. ‘Estão falando em cine-teatro, ótimo. Mas pode ser também transformado em uma galeria de lojas. E até que isso aconteça, precisam manter o local limpo, cuidando do mato e da fachada’, sugere.
Prefeitura pretende comprar o prédio
Para o prefeito Wesley De Santi de Melo, não compete à prefeitura interferir nos destinos do local, a competência restringe-se a apenas às questões sanitárias. “O Sacramento Clube é uma entidade particular, a prefeitura não tem nem como  tomar iniciativa lá dentro ou em relação ao prédio. Agora, na questão sanitária devemos tomar providências. Basta que tenhamos a denúncia formal sobre ratos, baratas, lixo, que as providências serão tomadas”, informou.
O prefeito disse que a intenção de seu governo é a de adquirir aquele prédio para o município, transformando o SC em um cine-teatro. “No momento, nosso único problema, é a questão financeira, mas estamos aguardando um recurso de uma ação que ganhamos contra a Cemig, e que está prestes a ser depositado”, disse, esclarecendo o seu lado legal. “Essa negociação deve ser muito bem formalizada, porque são muitos sócios e não queremos melindrar ninguém”, disse.
A prefeitura pretende também adquirir a casa do espólio de Ferrúcio Bonatti. “Aproveitando a entrevista, com os recursos dessa ação, pretendemos também comprar a 'Casa do Ferrúcio'. Esses dois espaços poderão ser muito bem aproveitados no aspecto cultural”, declarou.
Advogado paga dívidas para evitar leilão
Há mais de cinco  anos o prédio do clube, que já viveu momentos glamurosos, está abandonado. São cerca de 300 sócios remidos do clube, mas ao longo do tempo, sem recursos para manutenção o prédio tornou-se ocioso, salvo no período do Carnaval, quando a área externa é alugada para a instalação de camarotes, o que, segundo a advogado do clube.
O advogado José Rosa Camilo, um dos sócios remidos e um dos últimos diretores do Sacramento Clube, também ouvido pelo ET, tem se responsabilizado pelo clube, abrindo a entrevista com um esclarecimento. “Esclareço que não sou o interventor do clube, sou um associado que era diretor na época, quando a diretoria acumulou muitas dívidas e restaram dívidas  trabalhistas que o clube não tinha condições de pagar”.
Segundo o advogado, o prédio foi penhorado e com praça designada em Uberaba. “Eu fui a essa praça pra ver o que ia acontecer. Na primeira praça, não houve licitantes, chegaram alguns para a segunda praça. E eu tinha interesse em arrematar pelo preço que foi a leilão, R$ 180 mil, e teria arrematado, não fosse a minha esposa me aconselhar que não o fizesse, pois poderia gerar falatório. Mas eu queria apenas que acabasse aquela confusão. Então decidi saldar as dívidas, cerca de R$ 20 mil, liquidar tudo e, para não abrirem mais e contrair novas dívidas, fiquei com as chaves, troquei as chaves e o tranquei”, informou.
 Para o advogado, o clube fechado dá menos despesas e não fica sujeito a ir a leilão, por dívidas de diretores irresponsáveis. “As despesas que têm, eu cubro, mando fazer a limpeza capinar e, anualmente, alugo para camarotes durante o carnaval. Este ano, por exemplo, o aluguel saiu por R$ 3 mil. Com esse dinheiro dá pra trocar os vidros, consertar banheiros, limpar a frente, etc”, explicou. 
De acordo com José Rosa, os sócios do clube não querem investir na reforma. “Ninguém tem interesse em investir, porque não vê retorno. E não há retorno, porque esse tipo de clube não sobrevive mais nos dias atuais. Clubes, hoje, têm que ter áreas recreativas diversas e não temos condições, nem espaço pra fazer isso”, justificou, mostrando também uma solução interessante, propor uma ação de extinção de contomínio.
“- Brevemente, pretendo convocar os sócios para criar uma solução. Particularmente, tenho algumas propostas: uma delas é fazer uma permuta do prédio; outra, vender para  pessoas interessadas em comprá-lo; e, a terceira, fazer uma ação de extinção de condomínio, na qual o clube irá a leilão, não pra pagar dívidas, mas para ser vendido e o dinheiro distribuído, proporcionalmente,  entre todos  os sócios e aí liquidaríamos a situação do clube, porque o clube ali é absolutamente inviável continuar funcionando”, explicou mais. 
Sobre as reclamações dos vizinhos, José Rosa, reafirma que sempre mandou limpar as dependências do Sacramento Clube, ressaltando que os reclamantes são os principais a jogar lixo no local. 
“- Isso eu quero que publiquem, os vizinhos que reclamam, são os primeiros a sujar a área do clube. Jogam lixo dentro da área. Eles são os piores sujadores da área do clube”.