Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Irmãs de São José de Cluny deixam Santa Casa

Edição n° 1238 - 31 Dezembro 2010

 

As irmãs da Congregação de São José de Cluny não fazem parte mais do corpo de funcionários da Santa Casa de Misericórdia  de Sacramento. Ao contrário do que se especula, a provedoria nada tem a ver com a decisão tomada pela Congregação, que justificou falta de vocações e a prioridade dada a outras frentes de trabalho. A informação foi prestada pelo provedor Itair dos Reis Ferreira, com certa relutância, porque, a pedido da  superiora da Congregação, Irmã Joana, a notícia não era para ser vazada.

“- Quando a superiora esteve na cidade, no mês de outubro, para comunicar a saída das irmãs, ela pediu para não divulgar o fato, a fim de se evitar alarde. Vão permanecer na cidade apenas as irmãs, Juliana e Célia, na administração da CIJU S. Vicente de Paulo”, informou o provedor.

Disse mais Itair que Ir. Joana chegou a entregar a clausura para a Santa Casa, afirmando que as duas irmãs passariam a morar na creche.  “A saída delas não foi divulgada a pedido da superiora e eu respeitei. Mas apesar de ela ter entregue a casa, eu não aceitei, mesmo porque o prédio foi construído e doado às irmãs por benfeitores da cidade, a família da Da. Aparecida Bonatti e do ex-prefeito, José Sebastião de Almeida. A casa está como deixaram, mobiliada, limpinha e não vamos mexer, continua à disposição delas. As duas irmãs podem continuar morando na clausura, assim como a capela, que foi construída pela família do ex-prefeito José Alberto e da Sra. Sebastiana Dias”, lembrou.

Itair informa que sentiu muito a saída das irmãs e,  apesar dos apelos,  a superiora não cedeu. “Ela veio aqui apenas para comunicar a saída, o que lamentamos. Foram muitos anos de presença das irmãs na Santa Casa”, reconheceu. De acordo com Itair, a partir do comunicado, as irmãs Florência e Juliana pediram demissão. “Irmã Florência, que foi para Lucélia, trabalhava na Santa Casa desde de 1981 e irmã Juliana, cuidava da cozinha, desde 1974. Ela foi para a creche, mas a casa está aberta para elas”, repetiu, lembrando de sua emoção quando recebeu a notícia. “Eu, particularmente, fiquei muito sentido. Na minha gestão, elas pedirem para sair foi muito chato. Fiquei emocionado, quando elas pediram demissão”, concluiu. 

 

José Alberto lamenta a saída das irmãs

 

O ex-prefeito José Alberto Bernardes Borges, cuja mãe, Carmelita Bernardes Borges, foi uma das grandes voluntárias da Santa Casa, trabalhando com as irmãs durante muitos anos, enalteceu a obra construída pelas irmãs na cidade e lamentou a sua saída. “Eu senti muito a saída delas da Santa Casa. Minha mãe  lutou muito para que elas administrassem a Santa Casa. Ela era uma das zeladoras daquele hospital, antes de as irmãs virem pra cá. Era um grupo de zeladoras, a Dozolina Lenza, Alda do Tofe, Rita Gianni, Dozolina Bianchi, Ada Cordeiro, Etelvina Borges e minha mãe, além de outras. Era uma turma grande. Elas faziam campanhas de roupas de cama, principalmente, porque a Santa Casa não tinha nada, não havia verbas. Era um trabalho muito dignificante o delas”, lembrou.

No início dos anos 60 as irmãs chegaram. Visitaram a Santa Casa e a superiora, Madre Antônia não queria ficar. Achou a cidade muito atrasada, mas a irmã Benigna a fez mudar de idéia e elas ficaram. Nessa primeira visita, ficaram hospedadas lá em casa. E as zeladoras continuaram ajudando. As campanhas intensificaram pra conseguir talheres, pratos, roupas de cama e as irmãs passaram a administrar e as coisas começaram a caminhar bem, porque antes as doações simplesmente desapareciam, sumiam. Antes delas  não havia um controle”, explicou. 

Para José Alberto, a Santa Casa e a cidade lucraram com a vinda das irmãs. “Elas fizeram um trabalho maravilhoso, com a ajuda de várias pessoas. A Santa Casa mudou muito com o trabalho delas. A transformação da Santa Casa foi muito grande, não havia contabilidade, não havia diretoria e aos poucos foram resolvendo os problemas. Para fazer a clausura e a capela foi uma campanha muito grande. Meu pai doou a capela, Sebastiana Afonso Dias doou o forro, o José Sebastião começou a clausura e o Ferrucio Bonatti concluiu”, lembrou mais. 

Lamentando a saída das irmãs, José Alberto disse que, apesar de tudo, entendia. “Faltam vocações e não há mais freiras preparadas para a enfermagem. Aqui, a única, nesses últimos anos foi a irmã Florência, porque irmã Juliana sempre ficou na cozinha. Os tempos mudaram, as coisas mudaram, as leis hoje exigem muito. As leis mudaram. Vejo, por exemplo, o Hospital São Domingos, em Uberaba, que hoje está entregue a administradores hospitalares, isto é,  a Congregação não tem mais irmãs para administrar. Não sabemos bem o por quê, mas deve haver um motivo para as irmãs deixarem a Santa Casa, seja por falta de vocações, seja por falta de formação, seja pelo carisma, mas é lamentável. Foram muitos anos aqui. E não podemos esquecer as ações dos primeiros médicos, Milton, Fábio, João, Francisco e os provedores que trabalharam com elas naqueles tempos primeiros que foram de grandes transformações, mas as coisas mudam...”, lamentou.