As irmãs da Congregação de São José de Cluny não fazem parte mais do corpo de funcionários da Santa Casa de Misericórdia de Sacramento. Ao contrário do que se especula, a provedoria nada tem a ver com a decisão tomada pela Congregação, que justificou falta de vocações e a prioridade dada a outras frentes de trabalho. A informação foi prestada pelo provedor Itair dos Reis Ferreira, com certa relutância, porque, a pedido da superiora da Congregação, Irmã Joana, a notícia não era para ser vazada.
“- Quando a superiora esteve na cidade, no mês de outubro, para comunicar a saída das irmãs, ela pediu para não divulgar o fato, a fim de se evitar alarde. Vão permanecer na cidade apenas as irmãs, Juliana e Célia, na administração da CIJU S. Vicente de Paulo”, informou o provedor.
Disse mais Itair que Ir. Joana chegou a entregar a clausura para a Santa Casa, afirmando que as duas irmãs passariam a morar na creche. “A saída delas não foi divulgada a pedido da superiora e eu respeitei. Mas apesar de ela ter entregue a casa, eu não aceitei, mesmo porque o prédio foi construído e doado às irmãs por benfeitores da cidade, a família da Da. Aparecida Bonatti e do ex-prefeito, José Sebastião de Almeida. A casa está como deixaram, mobiliada, limpinha e não vamos mexer, continua à disposição delas. As duas irmãs podem continuar morando na clausura, assim como a capela, que foi construída pela família do ex-prefeito José Alberto e da Sra. Sebastiana Dias”, lembrou.
Itair informa que sentiu muito a saída das irmãs e, apesar dos apelos, a superiora não cedeu. “Ela veio aqui apenas para comunicar a saída, o que lamentamos. Foram muitos anos de presença das irmãs na Santa Casa”, reconheceu. De acordo com Itair, a partir do comunicado, as irmãs Florência e Juliana pediram demissão. “Irmã Florência, que foi para Lucélia, trabalhava na Santa Casa desde de 1981 e irmã Juliana, cuidava da cozinha, desde 1974. Ela foi para a creche, mas a casa está aberta para elas”, repetiu, lembrando de sua emoção quando recebeu a notícia. “Eu, particularmente, fiquei muito sentido. Na minha gestão, elas pedirem para sair foi muito chato. Fiquei emocionado, quando elas pediram demissão”, concluiu.
José Alberto lamenta a saída das irmãs
O ex-prefeito José Alberto Bernardes Borges, cuja mãe, Carmelita Bernardes Borges, foi uma das grandes voluntárias da Santa Casa, trabalhando com as irmãs durante muitos anos, enalteceu a obra construída pelas irmãs na cidade e lamentou a sua saída. “Eu senti muito a saída delas da Santa Casa. Minha mãe lutou muito para que elas administrassem a Santa Casa. Ela era uma das zeladoras daquele hospital, antes de as irmãs virem pra cá. Era um grupo de zeladoras, a Dozolina Lenza, Alda do Tofe, Rita Gianni, Dozolina Bianchi, Ada Cordeiro, Etelvina Borges e minha mãe, além de outras. Era uma turma grande. Elas faziam campanhas de roupas de cama, principalmente, porque a Santa Casa não tinha nada, não havia verbas. Era um trabalho muito dignificante o delas”, lembrou.
No início dos anos 60 as irmãs chegaram. Visitaram a Santa Casa e a superiora, Madre Antônia não queria ficar. Achou a cidade muito atrasada, mas a irmã Benigna a fez mudar de idéia e elas ficaram. Nessa primeira visita, ficaram hospedadas lá em casa. E as zeladoras continuaram ajudando. As campanhas intensificaram pra conseguir talheres, pratos, roupas de cama e as irmãs passaram a administrar e as coisas começaram a caminhar bem, porque antes as doações simplesmente desapareciam, sumiam. Antes delas não havia um controle”, explicou.
Para José Alberto, a Santa Casa e a cidade lucraram com a vinda das irmãs. “Elas fizeram um trabalho maravilhoso, com a ajuda de várias pessoas. A Santa Casa mudou muito com o trabalho delas. A transformação da Santa Casa foi muito grande, não havia contabilidade, não havia diretoria e aos poucos foram resolvendo os problemas. Para fazer a clausura e a capela foi uma campanha muito grande. Meu pai doou a capela, Sebastiana Afonso Dias doou o forro, o José Sebastião começou a clausura e o Ferrucio Bonatti concluiu”, lembrou mais.
Lamentando a saída das irmãs, José Alberto disse que, apesar de tudo, entendia. “Faltam vocações e não há mais freiras preparadas para a enfermagem. Aqui, a única, nesses últimos anos foi a irmã Florência, porque irmã Juliana sempre ficou na cozinha. Os tempos mudaram, as coisas mudaram, as leis hoje exigem muito. As leis mudaram. Vejo, por exemplo, o Hospital São Domingos, em Uberaba, que hoje está entregue a administradores hospitalares, isto é, a Congregação não tem mais irmãs para administrar. Não sabemos bem o por quê, mas deve haver um motivo para as irmãs deixarem a Santa Casa, seja por falta de vocações, seja por falta de formação, seja pelo carisma, mas é lamentável. Foram muitos anos aqui. E não podemos esquecer as ações dos primeiros médicos, Milton, Fábio, João, Francisco e os provedores que trabalharam com elas naqueles tempos primeiros que foram de grandes transformações, mas as coisas mudam...”, lamentou.